Archive for outubro \30\-03:00 2009

Porto Maravilha

30 de outubro de 2009

O plano de revitalização da zona portuária está mostrado na página do Porto Maravilha.  No formato de apresentação oficial da Prefeitura do Rio, tem informações históricas da região, os detalhes do projeto, orçamentos etc.  É muito interessante e vale a pena visitar.

Diversos links para apresentações do projeto em Porto Maravilha (2).  Clique aqui.

Manterei um link na seção Blogroll na coluna da direita.

Praça Mauá, a degradação

28 de outubro de 2009
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Pr. Mauá x R.do Acre

Alguém pode se lembrar das casas noturnas da Praça Mauá que, por sinal, abrem a qualquer hora do dia se houver cliente. Não se preocupem, elas estão ali desde sempre e fazem parte do folclore da área. Não incomodam.

A degradação é fruto do abandono e da irresponsabilidade que vêm de longe.  A praça em si é ocupada por moradores de rua.  As calçadas por camelôs, tendas de frutas, puxadinhos de lojas e bares, guaritas de empresas de ônibus, lanchonetes a céu aberto com  TV e sujeira pra todo lado.  Além disso, mais que ocasionais vazamentos de esgoto, que afloram pelos bueiros das calçadas, e bancas de jornais mal instaladas fazem caminhar ali um inferno.    

Parece que o plano de revitalização da zona portuária,o Porto Maravilha, vai resolver tudo isso.  Mas o que se constrói maravilhoso não permanece assim se não for mantido com o mesmo fôlego empreendedor com que foi concebido, executado e inaugurado por políticos e empreiteiras.  

 

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Palácio D.João VI em ruínas

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"A Noite" Tr.do Liceu x R.do Acre

Cuidar da Praça Mauá poderia ser muito mais fácil e simples.  Bastaria remanejar os pontos de ônibus e táxi para a Sacadura Cabral e fazer, como está na moda,  um mini choque de ordem. Mas não, isso não daria voto pra ninguém.  Deixa acabar pra obra ser grande.

O maior símbolo da degradação é o estado de ruína de prédios históricos como o palácio D. João VI e o edifício “A Noite”. Este que foi o maior arranha-céu da América Latina,  abrigou as rádios que marcaram época na cultura brasileira e hoje é a casa de uma instituição da importância do INPI.   Vejam nas fotos.

A “marquise” de madeira está aí no prédio há vários anos, sem que obra alguma tenha sido feita há outros tantos.  Antes desta, outra que chegou a similar estado de deterioração. Não se trata de um local ermo, abandonado.  Por aqui passam milhares de pessoas diariamente.  É inacreditável.  Se um transeunte se ferir, pra falar o mínimo, alguém será resposnável por isso?  Quem? O síndico do prédio, a prefeitura , o segurança da portaria ou o próprio incauto cidadão ? 

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Entrada do Edifício "A Noite"

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"A Noite" Tr. do Liceu

Se for pra escolher entre um e outro, resolva-se primeiro o que causa risco a vida e, depois , os problemas estéticos.  Pra certas coisas não precisa muito dinheiro, apenas um mínimo de responsabilidade

Diante da real possibilidade de levar com um sarrafo de madeira na cabeça,  escorregar no cocô não  é a pior coisa do mundo para o cidadão que transita pela nossa Praça Mauá.

 

Fotos by Cariocadorio: Pr.Mauá x R.do Acre (outubro de 2009); Palácio D.João VI em ruinas (outubro de 2009); “A Noite ” Tr. do Liceu x R.do Acre (outubro de 2009); “A Noite ” Tr. do Liceu (outubro de 2009); 

Praça Mauá, o Renascer

27 de outubro de 2009

Um novo Rio de Janeiro está nascendo. 

Placa Porto Maravilha

Mais uma vez o berço deste novo Rio de Janeiro é a Praça Mauá.  Antes mesmo de a Cidade ser escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 2016, a prefeitura anunciou, com muita pompa e circunstância, o seu plano para a zona portuária do Rio de Janeiro.

Não são poucos os exemplos de como um porto desativado pode se transformar em uma área de atração turística e pólo de negócios. Barcelona, Buenos Aires e até a nossa Belém são exemplos do sucesso destes empreendimentos.  Certamente será ótimo para o Rio de janeiro também.

A primeira obra prima foi esta placa colocada em frente ao pier Mauá.  Ela tem 40m de comprimento e ostenta cerca de 20 refletores para iluminação.  A noite dá pra ver desde o monumento dos pracinhas.  Bom começo, embora olhando lá de cima ainda não dê pra ver muito trabalho atrás da placa.  

091024 Pier Mauá AR

Esta primeira fase da obra deve durar um ano. Mais uma vez coloco a esperança na frente das preocupações e quero acreditar que o resultado será belíssimo. 

Há mais de dez anos acompanho com muito interesse iniciativas de revitalização do porto do Rio.  Projetos que com o mesmo furor que surgem desaparecem da mídia. O anterior a este tinha a assinatura do ex-prefeito das obras mal-vindas, com direito a um faraônico Gugenhein.  Todos estes planos e projetos têm uma coisa em comum: a grandiosidade.

091024 Ed A Noite Pr MauaTudo bem, há muito mérito em pensar grande, planejar uma revolução urbanística que possa ser implementada pouco a pouco e que transforme toda a região em um novo cartão postal da cidade.  O plano atual, chamado de Porto Maravilha, não fica atrás.  Tem a seu favor o incentivo da copa do mundo e dos jogos olímpicos.   Torçamos por ele.

Enquanto torcemos pelo  futuro, não podemos deixar de lado as preocupações com o presente e questionar as razões de termos chegado a este ponto.  Do contrário o futuro leverá novamente à situação atual, muitos milhões de dinheiros depois.

Da próxima vez a gente vai olhar de perto a triste realidade que esta foto do edifício “A Noite” , visto de longe na praça, não pode mostrar. 

Fotos by Cariocadorio:  A Placa do Pier (16 de outubro de 2009); Píer Mauá AR (16 de outubro de 2009); “A Noite” da Praça (24 de outubro de 2009) 

Praça Mauá

25 de outubro de 2009

A Praça Mauá,  do berço do Rio de Janeiro, da Pedra do Sal, do Morro da Conceição, do Mosteiro de São Bento, do edifício ”A Noite”, do Porto do Rio, da Polícia Federal, da Rodoviária inter-municipal, do píer … de um passado mais glorioso que o presente.

Tenho tanto para falar sobre isso que não sei por onde começar.  Acho que me meti nesta história de blog particularmente para falar sobre a Praça Mauá.  Começo, portanto, com esta foto, que diz muita coisa. Quem sabe assim fica mais fácil pra continuar depois.  Com certeza este será um assunto recorrente neste espaço.  Ainda mais com os planos do Porto Maravilha.

Pr Maua 091016

Nuvens Negras sobre a Praça Mauá

 Foto: Praça Mauá, by Cariocadorio (outubro de 2009)

Ídolos

25 de outubro de 2009

Outro dia me contaram uma passagem atribuída ao empresário Antônio Ermírio de Moraes quando em processo de escolher um novo executivo.  Diante de sua atônita secretária, Antonio Ermírio teria jogado no lixo metade da pilha de currículos que estavam sobre a mesa. Explicou:  “Pra trabalhar aqui não basta ser muito bom, tem que ter sorte”.

Sorte não é uma coisa que tenha o nosso Rubens Barrichelo.  E pra ser campeão… Certo, ele também não é bom o suficiente para ser campeão mas, ainda assim, muito poucos tiveram sucesso como ele.  Quantos pilotos brasileiros tentaram e não chegaram nem perto?  Alguns muito bons, outros nem tanto, alguns com pedigree, outros com grana e alguns mais com a cara e a coragem chegaram à fórmula 1. Citando nomes sem julgar-lhes o mérito: Ingo, Chico,  Boesel, Gugelmim,  Bernoldi,  Zonta, Diniz, Christian, enfim a lista é enorme.  

Ídolos em Ação - Nelson já passou (F1, Rio de Janeiro, 1987)

Ídolos em Ação - Nelson já passou (F1, Rio de Janeiro, 1987)

A prova da sua competência  vem dos contratos que tem tido ao longo dos muitos anos da sua carreira. Ser piloto de fórmula 1 é o sonho de muita gente.  Alguns pagam fortunas pra sentar em um carro daqueles.   Na fórmula 1 quem não tem competência pra dar lucro no final não fica por lá .  Portanto, quem atesta a competência do Rubens são os Stewart, Todt, Brown e Williams que o mantêm com a carreira mais longa na categoria e ganhando muito bem pra isso. Ele ainda vence corridas.   As estatísticas o colocam em 4º lugar em número de pódios, 4º em número de pontos e não há mais do que 22 pilotos com mais que as suas 11 vitórias.  

Mas nada disso importa para nós, brasileiros.      Porque o problema do Rubens não é a competência técnica mas sua ingenuidade, imaturidade que beira a infantilidade.    Bobagens em quase tudo que disse durante a carreira: declarações infelizes sobre outros pilotos, suas entrevistas, bravatas impensadas, postura no pódio e por aí vai.  E nos comerciais de televisão? Lembro dele levando uma bronca pública do pai porque atendeu o celular no caminho da largada:  “Mas era você, pai…”. Alguém imagina o Piquet ou o Alonso fazendo um papel desse?  
 
Faltou-lhe uma boa assessoria de imprensa, a orientação de um marketeiro para produzir a sua imagem ou sei lá.  O fato é que ele nunca conseguiu ter o respeito do público.  Alguns jornalistas  não perdem a oportunidade de vender mais fazendo, levianamente, coro com a opinião pública e servindo de catalisador para esta opinião.     
Guga sacando

Guga, ídolo na dose certa

Para o público brasileiro, Rubinho é um  ba…bobo.  E o brasileiro não tolera o bobo.  Antes idolatra o esperto, o malandro e até mesmo o canalha.  Para ser ídolo de brasileiros não basta ser competente.  Tem que ser um fora de série inconteste (Pelé, Senna) ou um malandro esperto (Romário).   Também leva chance o egoísta, do tipo que se dane a equipe,  hábil de mídia (Oscar).    

Em uma briga, na guerra, no esporte ou no trabalho não é só o vencedor que luta. 

O “perdedor” também lutou e esta luta é  parte essencial da história.  E Rubens Barrichelo tem lutado sempre e está longe de ser um perdedor.  Ainda torço por ele.

Algum dia o Brasil terá um ídolo inconteste e longevo que antes de esperto, malandro ou fora de  série será apenas um lutador que, tendo a sorte ao seu lado, terá dado certo por muito tempo.

Fotos: F1 no Rio (1987), by Cariocadorio; Guga , by Pierre -Yves Sanchis, Flickr, (2008)

Um dia, um gato

19 de outubro de 2009

Se ir ao cinema não é alguma coisa que eu faça com freqüência, este definitivamente não é o programa favorito do meu irmão.  Ainda assim, como quase todo mundo,  temos os nossos filmes preferidos.  Ele sempre menciona um filme dos anos 60 de cujo nome tomo emprestado o título deste post. O tal gato tinha o terrível poder de mudar a cor da pessoa que ele olhava, deixando de alguma forma exposto o seu caráter.  Imagina soltar o tal bichano no congresso nacional… 

O gato desta história é diferente.  Nem mesmo é um gato e sim uma gata que atendia pelo nome de Tigue.  Atendia é maneira de se dizer  porque, como é usual nestes bichos, a Tigue só atendia quando era do interesse dela.  

Picture 026Após alguns anos de resistência eu cedi aos demais membros da família e permiti que adquirissem um gato. Não sem antes estabelecer os limites para a vida do bichano, onde ele poderia ir ou não, a que horas etc.   Além disso, me garantiram que gato só faz suas necessidades no local apropriado o que provou ser verdade.  Mas ilusão minha achar que alguém impõe limites  a um gato.  A Tigue sempre freqüentou os lugares da casa que ela queria.  Miava pra entrar ou pra sair e algum humano dela acabava abrindo a porta.  Fomos muito bem ensinados.

Na primeira vez que ela entrou no cio o pessoal estava fora e eu passei uma noite em claro agüentando altíssimos e roucos miados. No cio seguinte decidimos arranjar um gato pra ela.  Não deu certo, eles não se entrosaram.   Do alto dos seus 12 anos de idade minha filha concluiu que precisávamos de um gato mais experiente. Funcionou.  Vários meses depois a Tigue deu a luz a cinco gatinhos que, uma vez amamentados e crescidinhos, foram sendo distribuídos. 

Ela tinha uma relação particular com cada um, este interessante animal que gera ódios e paixões.  Aprendi várias coisas com este convívio.  Sobre pessoas e animais.  Tenho certeza de que ela foi importante para a formação das crianças.  Não esperava sentir tanto como aconteceu quando a Tigue se foi.  De qualquer forma continuo não sendo favorável a ter animais dentro de um apartamento.  Apesar da saudável experiência, decidi que não teríamos outro bicho. 

Não atende pelo nome de Tai a nova gata da casa

Não atende pelo nome de Tai a nova gata da casa

Barra da Tijuca 2017

12 de outubro de 2009

Largada no antigo AIR - 1966

Pouco mais ou menos em 1972, meu amigo Geraldo e eu fomos visitar o novo Autódromo Internacional do Rio de Janeiro. Queríamos conhecer o que esperávamos ser uma renovada pista de corrida de automóveis, um verdadeiro autódromo.   Afinal,  dentro de poucos dias como anunciavam os jornais, estaria ali o prefeito do Rio de Janeiro para inaugurar o novo autódromo.   Diante de nós, entretanto, apenas um monte de terra e algumas máquinas de terraplanagem trabalhando em ritmo lento naquilo que parecia ser o traçado da nova pista.  Este foi o meu primeiro encontro com a mentira oficial.  Naquela época eu ainda não sabia que os anúncios políticos têm muito pouco compromisso com a verdade.

 
Por essa antiga paixão pelo automobilismo questionei se havia necessidade de destruir o Autódromo Internacional do Rio de Janeiro para construir algumas  das instalações dos Jogos Panamericanos.  Comandada pelo prefeito que teve durante tantos anos o prazer de fazer o que a população não queria (obelisco de Ipanema, monumento a Getulio Vargas, cidade da música, um quase Gugenhein…), começava a destruição do automobilismo do Rio de Janerio.  É verdade que o autódromo já de muito tempo vinha sendo sub-utilizado e tinha pouca serventia para o esporte e para a cidade.   Aqueles que tinham a obrigação de defendê-lo pouco fizeram na época.  Tiveram que se contentar com mais uma mentira oficail:  construir um novo autódromo em algum lugar do subúrbio do Rio. 

Agora faz todo sentido acabar de vez com o que sobrou dele e construir ali boa parte da infra-estrutura olímpica de 2016.   Faz também sentido construir outras instalações na Barra da Tijuca, onde há muito espaço. Mas está havendo exagero.  Por que será que quase tudo de novo será instalado na Barra da Tijuca?  Está havendo uma concentração de investimentos em uma única região da cidade. Todos os novos caminhos do Rio de Janeiro levarão à Barra da Tijuca  que enfim terá melhor acesso e será ainda mais valorizada.   As lições de toda a vida indicam que não é o critério técnico, urbanístico,  o que mais conta nas decisões políticas.  E há pouca coisa mais poítica do que COBs, CBFs e confederações.

Na midia há diversas discussões a respeito de como será a integração da cidade nos planos olímpicos.  Arquitetos, urbanistas e carioquistas têm levantado a questão do desenvolvimento de outras áreas da cidade além da Barra da Tijuca.  Domingo de manhã, entretanto,  escutei na CBN a entrevista com alguma autoridade, talvez do COB, (entrei no túnel e não pude saber o nome dele mas me pareceia uma autoridade no assunto) que explicava não ser possível modificar o que fora apresentado e aprovado pelo COI.  Disse que o planejamento dos Jogos já havia sido feito e que agora chegáramos à fase de execução.  Isso até faz sentido mas que cheira mal, lá isso cheira. 

Por que só agora, que não dá pra voltar atrás, estão sendo discutidos estes assuntos na mídia?  Não houve exposição   suficiente e o assunto não foi discutido como deveria na época certa.  A questão então passa a ser quem participou da fase de planjamento e quem, representando o cidadão do Rio de janeiro, aprovou o planejamento submetido à aprovação do COI. 

O fato é que a concentração de investimentos na Barra e para a Barra da Tijuca leva a outro tipo de preocupação.  Não estarão os investimentos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro alimentando as aspirações separatistas de alguns que vêem na emancipação da Barra uma oportunidade?  Não seria a primeira vez.  Uma nova cidade, moderna, com tranporte integrado com aeroportos e outros municípios e livre das mazelas do Rio, onde não terão sido feitos investimentos.  Melhor ainda, na visão de alguns: mais uma prefeitura, mais uma câmara de vereadores, mais oportunidades para que alguns tenham novas oportunidades…uma nova Barra, modelo 2017.

Corremos o sério risco de que a história das Oímpíadas tenha que citar 2016 como o ano que os jogos  Olímpicos do Rio de Janeiro foram realizados em uma cidade que já não leva este nome.

Foto:  Largada no AIR, 1966 (site OBVIO: http://www.anisiocampos.com/his.html)

Miopia

11 de outubro de 2009

Aquela havia sido uma longa tarde de verão europeu.

Porta di Rodin

Desistimos de ir até a Bélgica preferindo dedicar mais um pouco de tempo à França.  Em Paris os programas de todo turista de primeira viagem.   Louvre, D’Orsais, uma fantástica visita ao Rodin, que infelizmente não estivera no atelier naquele dia, torre Eifel e vários etc entre mais e menos votados.

Mas eu dizia que a tarde havia sido longa.  Saímos cedinho, livramo-nos daquelas intermináreis avenidas que circundeiam Paris e descemos por estradas secundárias pelo vale do Loire.  Interessantes paisagens do interior, cidades pequenas, pessoal simples conversando em cadeiras na porta das casas contrastando com os famosos castelos e igrejas.

Digitalizar0003 E assim, de uma atração à outra, vendo o céu tomar as tonalidades típicas do crepúsculo, seguíamos pelas estradas secundárias da França até chegar às auto-pistas.   Nossa próxima parada, um hotelzinho simples para passar a noite e, pela manhã, seguir para Barcelona.  O mesmo plano das torcidas do Ajax, do PSG, da seleção da Alemanha…todos a caminho das praias da Espanha e de Portugal.  Ficou dífícil encontrar vaga em hotel.  Em algum lugar sugeriram que procurássemos em Sete, uma cidadezinha próxima à auto pista. Aí já estava escuro de vez, o que pelos padrões europeus desta época do ano significa mais de dez da noite. No caminho de Sete os faróis contrários pareciam enormes bolas desfocadas.   Concluí que estava realmente cansado.

Estávamos mesmo.  O hotelzinho de Sete era uma coisa muito triste mas foi o que encontramos por um preço exorbitante pago adiantado.  Subimos ao quarto pela escada velhíssima acompanhando o gerente do hotel.  Ao sair ele apagou as luzes do corredor e das escadas.  Bastou trocarmos um olhar para concluir que era melhor na estrada do que naquela espelunca.  Descemos antes que o  tal gerente fosse dormir.  Pra minha surpresa recuperamos o que havíamos pago e pegamos de volta a tal estrada.  Os faróis contrários estavam maiores ainda.

Dormimos algumas horas no carro, em um posto de gasolina na estrada principal.  Nós e parte das citadas torcidas. Tinha trailler, barraca, tenda e outros arranjos pra tudo quanto era lado.  Valia de tudo pra descansar antes de seguir para as praias ensolaradas da Espanha.  Na manhã seguinte, energia apenas  parcialmente recuperada, seguimos para a terra de Gaudi.  Naquela tarde, muito bem instalados em um hotel 4 estrelas, tive uma dor de cabeça memorável.

DiGaudí

Batlló di Gaudí

Cerca de um mês depois, entretanto,  compreendi que os faróis enormes não eram exatamente do cansaço da longa e alegre jornada em terras francesas.  E mandei fazer os primeiros óculos da minha recém iniciada miopia.

Isso tudo aconteceu lá pelos idos de muitos anos atrás.  Hoje ostento quase inseparáveis multi-focais.

miopia

Fim de texto - Miopia

Olimpíadas 2016 – Esperanças e Preocupações

4 de outubro de 2009

No instante em que o Rio de Janeiro foi declarado sede das olimpíadas de 2016, todas aquelas preocupações ficaram momentaneamente de lado.  No silencioso conflito de sentimentos venceu a alegria de vencer.  Fiquei muito feliz.  Afinal, o Rio superou Madri, Tóquio e Chicago na disputa internacional pelo direito de sediar uma olimpíada.  Quantos interesses políticos envolvem esta disputa.  E o Rio do Brasil de Lula deixou pra trás os ventos endinheirados de Chicago, arranhando levemente o prestígio de Obama, a beleza européia de Madri (terão ficado felizes os catalães?) de uma Espanha que tanto cresceu nos últimos 20 anos e a tecnológica Tóquio, que terá que esperar um pouco mais para se mostrar melhor que Beijin.

Confesso que não saber se queria ou não olimpíadas no Rio de Janeiro me deixou um pouco distante deste processo que elegeu o Rio.  Mas, se carioca de meio século e inveterado amante dos esportes, por que a dúvida?  Quem vive no Rio desde antes dos Jogos Panamericanos sabe muito bem o porque.

Caminhando pela Lagoa, imaginava que benefícios traria o Pan para o remo, esporte que há pouco mais de um século era o mais importante do Rio de Janeiro.  O que substituiria o deteriorado pier de concreto com ferragens expostas utilizado para a partida das competições de remo?  Pois bem, apenas um tosco conjunto de flutuantes amarelos que, torcidos, adernados e abandonados, não só não contribuem em nada para o remo como enfeiam o espelho d’água da Lagoa.

091031 Lagoa LARGADA REMO

Flutuante de partida do remo - parte já se foi

A esperança de antes se materializou em mal acabadas e mal projetadas arenas, estádios e obras.  Uma série de elefentes brancos mal utilizados que consomem os parcos recursos da cidade.  Isto para não falar dos gastos vergonhosamente mais altos que os orçados e que até hoje não estão explicados. Não sobrou nenhuma obra de infra estrutura, não herdamos benefício algum para a cidade, um único viaduto para contar a história do Pan.  Por isso à esperança se associa o medo de perdê-la,  a preocupação de ser mais uma vez enganado, de mais uma vez achar que talvez seja melhor que os filhos procurem outro lugar pra viver.

Mas como viver sem esperança para o que se ama?  Portanto, comecemos tudo de novo, com muita esperança de uma nova cidade maravilhosa pós Olimpíadas.  Que vençam os melhores e que o maior ganhador seja o Rio de Janeiro.  O Rio dos cariocas.

Rio em 2 tempos

Rio em 2 tempos

Fotos: Lagoa – Partida do Remo, by Cariocadorio (Outubro de 2009); Rio em dois tempos  (de pps do mesmo nome).