Outro dia me contaram uma passagem atribuída ao empresário Antônio Ermírio de Moraes quando em processo de escolher um novo executivo. Diante de sua atônita secretária, Antonio Ermírio teria jogado no lixo metade da pilha de currículos que estavam sobre a mesa. Explicou: “Pra trabalhar aqui não basta ser muito bom, tem que ter sorte”.
Sorte não é uma coisa que tenha o nosso Rubens Barrichelo. E pra ser campeão… Certo, ele também não é bom o suficiente para ser campeão mas, ainda assim, muito poucos tiveram sucesso como ele. Quantos pilotos brasileiros tentaram e não chegaram nem perto? Alguns muito bons, outros nem tanto, alguns com pedigree, outros com grana e alguns mais com a cara e a coragem chegaram à fórmula 1. Citando nomes sem julgar-lhes o mérito: Ingo, Chico, Boesel, Gugelmim, Bernoldi, Zonta, Diniz, Christian, enfim a lista é enorme.

Ídolos em Ação - Nelson já passou (F1, Rio de Janeiro, 1987)
A prova da sua competência vem dos contratos que tem tido ao longo dos muitos anos da sua carreira. Ser piloto de fórmula 1 é o sonho de muita gente. Alguns pagam fortunas pra sentar em um carro daqueles. Na fórmula 1 quem não tem competência pra dar lucro no final não fica por lá . Portanto, quem atesta a competência do Rubens são os Stewart, Todt, Brown e Williams que o mantêm com a carreira mais longa na categoria e ganhando muito bem pra isso. Ele ainda vence corridas. As estatísticas o colocam em 4º lugar em número de pódios, 4º em número de pontos e não há mais do que 22 pilotos com mais que as suas 11 vitórias.

Guga, ídolo na dose certa
Para o público brasileiro, Rubinho é um ba…bobo. E o brasileiro não tolera o bobo. Antes idolatra o esperto, o malandro e até mesmo o canalha. Para ser ídolo de brasileiros não basta ser competente. Tem que ser um fora de série inconteste (Pelé, Senna) ou um malandro esperto (Romário). Também leva chance o egoísta, do tipo que se dane a equipe, hábil de mídia (Oscar).
Em uma briga, na guerra, no esporte ou no trabalho não é só o vencedor que luta.
O “perdedor” também lutou e esta luta é parte essencial da história. E Rubens Barrichelo tem lutado sempre e está longe de ser um perdedor. Ainda torço por ele.
Algum dia o Brasil terá um ídolo inconteste e longevo que antes de esperto, malandro ou fora de série será apenas um lutador que, tendo a sorte ao seu lado, terá dado certo por muito tempo.
Fotos: F1 no Rio (1987), by Cariocadorio; Guga , by Pierre -Yves Sanchis, Flickr, (2008)
Tags: Automobilismo, ídolos, brasileiros, Fómula 1, Rubens Barrichelo, Rubinho
9 de novembro de 2009 às 00:05 |
Permita-me concordar “disconcordando”, sorte é algo importante, mas o que falta ao Rubens Barrichello não é sorte, isso ele tem, caso não o fosse não teria tanto tempo de F1, o que ele não tem é espírito de campeão.
Compará-lo a outros pilotos em número de poles, de vitórias e de pontos é uma grande covardia, já que ele é quem tem o maior número de anos no controle de um daqueles bólidos coloridos. Se fizermos uma contagem proporcional, será que ele se mantêm no topo das listas?
O que falta nele não é malandragem é gana e vontade mesmo. Coisa que o Senna teve, o Piquet, o Fitipaldi e até o Burti, o Pizzonia, o Zonta e todos os outros… O que eles não tiveram foi a sorte de pegar um carro competitivo.
O próprio Senna, que é um ídolo inegável, teve a sorte de estrear na Lótus (uma Brawn daqueles tempos) e foi campeão em grandes equipes de ponta. Em sua última e trágica temporada, mesmo com toda a sua genialidade, ele não teve a sorte de capitanear um carro tão competitivo e estava se encaminhando a ser apenas mais um no mundial daquele ano. Ainda assim, era nosso herói, pois estava sempre disposto a brigar para ser campeão, ainda que sem chances.
O Rubens teve algumas chances, em grandes equipes, o que o distanciava tanto dos companheiros que, teoricamente, conduziam carros iguais? A única resposta que me vem à cabeça é: falta de espírito de campeão. Se prestou a ser mais um, como disse em minha crônica, um “Sancho Pança” que, com tudo que fez pelo Dom Quixote, nunca saiu (nem fez questão) de sair das sombras.
É isso aí, ano que vem tem mais e, como todo brasileiro, continuarei torcendo, espero que ele não me dê motivos para ser “cronicado” de novo.
Um grande abraço.
Do Timor, com carinho,
Augusto Vilaça.
9 de novembro de 2009 às 14:06 |
Augusto, Acho que “disconcordamos” nos detalhes mas o efeito final é o mesmo. É dureza mas continuarei torcendo.
Obrigado pelo comentário.
Saudações cariocas do Rio
13 de novembro de 2009 às 11:17 |
Desconhecia os “números”. Boa pesquisa.
8 de março de 2010 às 12:51 |
[…] PS. Links para artigos relacionados: Autódromo do Rio Ídolos […]
13 de novembro de 2011 às 20:46 |
[…] teremos novamente ídolos da dimensão profissional de um Adílio, de um Andrade ou de um […]