No Bahrein, no próximo domingo, inicia-se mais uma temporada de fórmula 1. E me perguntei há quanto tempo eu acompanho a fórmula 1 e por que durante tanto tempo eu “perdi o meu tempo” lendo a respeito, vendo corridas e buscando informações para saber mais. Certamente de longa data, uns quarenta anos pelo menos. O porque, sei lá.
A coisa começou com DKWs, Berlinetas, Binos e Fitti-Porsches. Fórmula 1 era uma ficção trazida pelas AutoEsportes, lidos e relidos os textos detalhados das corridas, devoradas as estatísticas de voltas mais rápidas, vencedores de corridas e campeões … Um mundo mágico de um Jim Clark que a fórmula 2, que ironia, logo nos levaria. Anos mais tarde aprendi que “um simples canalha mata o rei em menos de um segundo”. Dennis Hulme era o campeão. Como podia aquela figura de anti-herói, um neo-zelandês, ser o campeão? Como podia um carro chamado Brabham ser campeão? Então não era uma Ferrari, Lotus, Mercedes, Alfa Romeu? Não, o campeão era um homem mais velho, na verdade Dennis Hulme apenas tinha cara de velho, sempre teve cara de velho, em um carro que levava o nome de um piloto australiano, Jack Brabham. Um ano antes, o próprio Jack havia conseguido seu terceiro título, desta vez com seu próprio carro.
O grande Dennis Hulme partiu para a novata McLaren e continuou vencendo corridas de F1 e campeonatos na série canadense-americana, a Can-Am, com enormes carros com motores de 7 litros. Na Europa, em esporte protótipos, os Porsches eram a grande atração. Por muito tempo não teve pra mais ninguem. Só dava Porsche modelos 907, 908, 917, enquanto as Ferraris estavam em uma má fase, não viam a cor da bola.
Na F1 tinhamos Graham Hill, o esteriótipo de um aristocrata inglês, talvez o último romântico da categoria, que também venceu em Indianápolis e Le Mans e Jackie Stewart, o escocês que levou um carro francês a ser campeão do mundo em uma equipe inglêsa.
Pedro Rodriguez, Jacky Ickx, o azarado Amon, Bruce McLaren (seus carros ganham até hoje), Beltoise, Cevert, John Surtees, campeão das categorias máximas sobre duas e quatro rodas (acho que foi o único?), Redman, Siffert, Pescarolo…
Muitos ficaram pelo caminho, a F1 matava muita gente. No ano em que o Brasil foi tri no México, Jochen Rindt foi campeão post morten.
Quando o Emerson Fittipaldi ganhou as páginas de esportes dos jornais com uma vitória na F-Ford inglêsa eu já torcia por ele há muito tempo. Anos depois, em 72, um colega no cursinho de vestibular me fazia descrever a carreira do ídolo…na primeira pessoa. Eu assinava contratos, explicava o que acontecera na corrida, como fiz certa ultrapassagem e, tão comum no início dos anos 70, qual foi o defeito que me tirou da prova . A gente se divertia com isso, ajudando a diminuir a tensão do vestibular. Naquele ano “eu ganhei cinco GPs e fui campeão mundial”. Tive também o primeiro gostinho de ver as baratas da F1 acelerando em Interlagos. A corrida foi muito ruim, não valia pelo campeonato e logo de início vários pararam. No ano seguinte, 1973, Interlagos tinha o seu primeiro GP pra valer, com direito a vitória do Rato e boné do Colin Chapman voando.
A presença de Emerson na fórmula 1 fez o Brasil despertar novamente para corridas de automóveis. O locutor de rádio, acostumado com o futebol, lançou a seguinte pérola no auge de seu entusiasmo: ” e lá vão eles para a última volta do ponteiro“. A telivisão passou a mostrar corridas e até o meu pai, que antes só reclamava da minha paixão incondicional, passou a ser fã das manhãs de domingos com F1 na TV. Torcemos muito pelos brasileiros. Por sinal, saudades do José Carlos Pace.
Não tenho o mesmo entusiasmo mas ainda gosto de ver corridas. Dependendo do GP assisto ao vivo, apesar do chatíssimo narrador oficial e seu comentarista que parece preferir servir-lhe apenas de escada. Ou no VT a noite, quando invariavelmente durmo antes do final. Mas na primeira do ano estarei de cara para a TV, torcendo pelos brasileiros de sempre e pelos recém chegados. Aliás, temo que esta turma nova não vai vingar. Torcer para o Rubinho também? Claro que sim. E mais torceria se ele falasse menos. Barrichelo é um exemplo de trabalhador. Depois de tanto tempo ainda tem um empregão, que muitos gostariam de ter.
Agora há muita informação disponível. Mas certamente haverá garotos que , como eu no final dos anos 60, vão estranhar que um inglês quase obscuro, esse tal de Jenson Button, seja o atual campeão pilotando uma Brawn. E que diabos é uma Brawn? O que??? Não tem mais Brawn esse ano??? Calma, você vai ter explicação pra tudo. E daqui a quarenta anos vai lembrar mais disso do que das corridas de 2049.
Eu ía falar das mazelas de um esporte corrompido por tramóias, espionagens, trapaças e comercialização sem limite.
Como no futebol falou mais alto a paixão. As novidades deste ano prometem. Tenham todos uma ótima temporada.
PS. Links para artigos relacionados:
Autódromo do Rio
Ídolos
Fotos: Jim Clark no GP EUA, 1966 (by Diskmix, Flickr Creative Commons); Dennis Hulme com McLaren Can-Am (by Diskmix, Flickr Creative Commons); Graham Hill no GP de Monaco , 1968 (by Prorallypix, Flickr Creative Commons); Jackie Stewart no GP da Holanda, 1969 (by Prorallypix, Flickr Creative Commons); Grid em Interlagos GP do Brasil, 1973 (by Cariocadorio); Jenson Button (by Martin Baldwin, Flickr Creative Commons)
Tags: autódromo do Rio, Automobilismo, Bahrein, Barrichelo, Carros Antigos, Dennis Hulme, Emerson Fittipaldi, Fórmula 1, Fotos Antigas, Fotos de carros antigos, Graham Hill, Interlagos, Jackie Stewart, Jim Clark, Matra, McLaren, Rubens Barrichelo
8 de março de 2010 às 20:05 |
Simplesmente perfeito Cariocadorio ! !
Que coisa linda , como é bom relembrar os velhos tempos , e isso além de ser saudável , é ainda por cima rejuvenescedor .
DKWs , Berlinetas ( o meu irmão tinha uma cinza metálica ) ,Binos , o Ftti-Porche ! a Auto-Esporte ! Jim , Dennis … e tudo mais … muito bom, muito bom mesmo !
Perfeito do começo ao fim , tudo confome o meu ponto de vista também . Galvão Bueno … o seu comentárista … tá tudo genial .
Pára ! Pára ! Tô elogiando demais !
Cariocadorio , tô contigo esse ano , não só aprendendo como também prestigiando .
8 de março de 2010 às 21:14 |
Marco,
Valeu….isso é que é incentivo. E me obriga a caprichar pra manter o nível. Não é toda hora que sai coisa de automobilismo mas volte sempre.
Abraço e saudações cariocas
8 de março de 2010 às 23:59 |
Valeu Cariocadorio !
9 de março de 2010 às 08:39 |
Belo texto. Realmente importante para fins históricos e também para refletirmos um pouco sobre o mundo da Fórmula 1.
Está de parabéns.
10 de março de 2010 às 00:46 |
Valeu Willian, obrigado pela visita. Continue o bom trabalho no Corrida de fórmula 1 e apareça sempre.
Saudações cariocas
9 de março de 2010 às 13:14 |
Eu despertei para isso no tempo do Emerson, Wilson e Pace. Eu e meu irmão acompanhávamos, líamos o que havia e não era muita informação que tínhamos. Pasme, minha avó, a outra, mãe do meu pai, com sua memória prodigiosa, sabia tudo, colocação, pontos, poles. Vascaína doente sabia tudo dos campeonatos e ouvia as partidas num radinho, escondida no quarto.
E vamos remexendo nossas memórias
13 de março de 2010 às 11:22 |
João Carlos,
Você comentou no Espírito da Coisa sobre o seu Passat.
Vim para dizer que já temos 3 coisas em comum, vamos a elas:
1. também sou carioca, embora vivendo em Blumenau, SC.
2. amamos nossos Passats (o meu batizado como João Pedro)
3. adoramos corridas de Fórmula I, também acompanho a muito tempo.
Antes torcia pelo Senna, depois da sua partida, torço pelo Fernando Alonso, embora ele seja meio Bad Boy, mas gosto do espanhol. Não suporto o “Scumickey” (Schumacher), não tenho simpatia por pessoas que sentem-se superiores aos outros, independente da nacionalidade. Amanhã temos a primeira corrida do ano. Vamos torcer!
13 de março de 2010 às 13:21 |
Nana,
Os Passats eram ótimos. Ainda tenho um Voyage 93 mas não é a mesma coisa.
Na F1 torço para a brasileirada e, mais uma coisa em comum, não simpatizo com o alemão. Sobre o Rubinho, torço por ele mas o que eu acho está em https://cariocadorio.wordpress.com/2009/10/25/idolos/ . Se tiver tempo dá uma olhadinha, tem mais sobre “ídolos”.
Amanhã vamos torcer em uma temporada diferente. Aqui discordamos um pouquinho…não vou torcer para o espanhol mas que “vença quem ganhar”!!
Obrigado pela visita, volte sempre
Saudações Cariocas
14 de março de 2010 às 13:53 |
Fernando Alonso venceu a primeira corrida do ano, o GP do Bahrein.
Eu adorei!…
Para mim ele é o melhor da atualidade. Daqui a um tempo vou trocar de ídolo, aí vou torcer pelo Senninha, que fez a sua primeira corrida hoje, né?
14 de março de 2010 às 16:36 |
Eu não gostei mas ….Que dizer? Vitória inquestiionável… Continuo torcendo pro Massa.
Mas se em Bahrein teve pouca disputa, acho que poderemos ver corridas melhores em circuitos mais interessantes. Ainda tenho fé que esta temprada será muito boa.
14 de março de 2010 às 16:36 |
Eu não gostei mas ….Que dizer? Vitória inquestiionável… Continuo torcendo pro Massa.
Mas se em Bahrein teve pouca disputa, acho que poderemos ver corridas melhores em circuitos mais interessantes. Ainda tenho fé que esta temprada será muito boa.