Não é de hoje a crescente aversão àquele que já foi o melhor narrador esportivo da televisão brasileira. Há alguns anos os cartazes do tipo “mostra nóis, Galvão” começaram a dividir espaço nas arquibancadas com os “Fora Galvão”. No início, os desavisados diretores de imagem da Globo chegaram a mostrá-los ao vivo. No pan de 2007, uma sonora vaia tomou conta da arena de esportes quando o narrador levantou-se para cumprimentar o público achando que seria ovacionado.
“O Globo” desta terça-feira publicou em primeira página que “A expressão Cala a boca, Galvão virou febre no twitter”. Comentários a respeito estão em duas importantes colunas do jornal. No site da Globo tem uma matéria (aqui) onde o locutor diz rir da corrente “cala a boca, Galvão”. Não pode ser por acaso esta superexposição. A poderesa empresa acusou o golpe e usa a velha tática de unir-se ao inimigo quando não se pode vencê-lo. Pretende com isso transformar em brincadeira ou factóide, um movimento que espelha honestamente o sentimento de uma grande parcela da população. Na sua grande maioria, público da TV Globo.
Não creio que a tática possa dar certo porque isso não é um movimento isolado. A aversão ao Galvão Bueno não é fabricada por pessoas despeitadas que têm inveja do profissional. Ela está nas ruas, nos ambientes de trabalho e é impressionante em blogs especializados em fórmula 1. Não é para menos. Quem acompanha este esporte percebe que o narrador da Globo mente em nome de um ufanismo desnecessário e desagradável. Desinforma, engana, diz quase o oposto do que se está vendo na tela. Isso é inaceitável em um jornalista.
Mas o que teria acontecido para chegar a este ponto após tantos anos de televisão e sucesso?
Preciso nas transmissões esportivas, o carismático Galvão Bueno se destacou na TV Bandeirantes narrando partidas de futebol e a fórmula 1 no início dos anos 80. Sua competência o levou à rede Globo onde deu sequencia à sua vitoriosa carreira, cada vez com mais poderes dentro da mais poderosa empresa de midia do Brasil. Infelizmente em algum momento este merecido sucesso lhe subiu à cabeça e o levou a se considerar acima do bem e do mal. Nada menos do que o show em si mesmo. Cada vez mais consciente da sua capacidade e popularidade, Galvão Bueno passou a tratar os colegas e o próprio esporte como coadjuvantes em seu próprio espetáculo. Não é a toa que prefere se cercar de comentários insossos de Reginaldo Leme e Falcão, que não têm a força da comunicação, e a fazer de escada o seu comentarista de arbitragem.
Sua arrogância e auto-suficiência são sentidas pelo telespectador. Com as TVs por assinatura cada vez mais disseminadas, inclusive pelas gatonets espalhadas pelo país (ontem no Rio estouraram uma com mais de 30.000 clientes), o telespectador tem mais opções. As boas narrações da SporTV e da ESPN, menos afetadas e mais atentas ao esporte em si, ajudam a fazer comparações. Isso aumenta a percepção do quão desagradável é a participação do narrador oficial da TV Globo atualmente.
Todos perdem com esta situação, inclusive os telespectadores. Um pouco de humildade é fundamental. Ninguém é tão bom que não possa ser derrotado ou substituído. Afinal, o inferno está cheio de insubstituíveis.
Foto: Gavião, by Ana Cotta (Flickr, Creative Commons, Julho 2008)
Tags: Automobilismo, comportamento, Fórmula 1, futebol, Galvão Bueno, Televisão, TV
16 de junho de 2010 às 09:16 |
Acredito que por traz de um excepcional profissonal que o nosso Jornalista Galvão Bueno é, existe uma emissora que por sí só, já emprega em quase todos os Jornalistas, um sentimento prepotente, de que estão acima do bem e do mal. É como se isso fosse exigência contratual.
Pior do que o Galvão, é ouvir o Willian Boner e Fátima Bernardes falarem diariamente, que a Globo sempre está à frente das outras.
Realmente, a Rede Globo possui uma estrutura inquestionável, mas infelizmente, ela é o divisor de águas da opinião pública, principalmente na política.
Fui
16 de junho de 2010 às 19:36 |
Sem comentários .
Meus parabéns ! Perfeito !
Grande abraço Cariocadorio !
17 de junho de 2010 às 20:38 |
Fiz duas modificações:
Aqui em casa eu não ouço o Galvão Bueno nem quando a transmissão é exclusiva da Globo; nesta situação, eu ligo o rádio e coloco a TV em “Mute”.
Na estréia do Brasil na Copa, assistimos no 39 da Sky, apesar da imagem ser um pouco inferior a da Globo.
Com relação a locutores esportivos, a TV Globo é pavorosa: ouvir e ver a cara de babaca do clone (ou filhote) do Galvão, o Luiz “Catatau” (- Fala Zé Colméia) Roberto, é terrível. O seu sorriso de bozo no intervalo das transmissões é hilário e eu chego a ficar com pena dele. E o tal do Cleber Machado consegue ser chato e burro. E quando isto é acompanhado da anta (e as vezes”aparenta estar bêbado) José Roberto Wright, tape os ouvidos!
Concordo parcialmente com o Wagner sobre os ridículos William Boner e a atualmente repórter esportiva Fátima Bernades (que tem como maior qualidade aguentar o “boner” do William, que é o chefão). Neste caso, prefiro assistir a paulistada da Band ou o 40 da Sky.
Abraços para o Cariocadorio e desculpe o termo “babaca (eu ia amenizar com um “deucebag”, mas o texto ia ficar muito “americanizado”. Não consegui uma palavra melhor para definir a cara do Luiz Roberto).
19 de junho de 2010 às 03:36 |
Eu passei só para falar das tabelas, mas vi esse título e não resisti. Faço coro ao Carioca e aos comentários até agora. No quesito jornalistas da Globo insuportáveis, acrescento Evaristo mico-de-realejo e Sandrinha Annenberg, a Rainha das carinhas (acho que são jornalistas). É verdade, Galvão mente, inventa, fala o que dá na telha, desmente qualquer pessoa que esteja com ele de forma totalmente grosseira, desvia o assunto, tá louco. Ninguém pensou nisso? Caduco. A prepotência subiu tanto que surtou. Ele já tinha se manifestado sobre a corrente, de forma um tanto “brabinha” dizendo que não sabia disso. Depois aparece”dando força” junto com o novíssimo piadista em treinamento Tiago…ficou deprimente. Sabem aquele vovô meio louco que todo mundo releva um pouco? É ele. Mas uma hora o véio apanha. A Globo tem o defeito de não saber quando chega, saturou, não dá mais. Abs.
19 de junho de 2010 às 16:44 |
Galvão Bueno e Vuvuzela: esta é a Copa para se ver no “mute”.
22 de junho de 2010 às 19:00 |
Olha o “- Cala a boca, Galvão” também nos Simpsons:
http://caleabocagalvao.blogspot.com/2010/06/simpsons-aderem-ao-cala-boca-galvao.html
23 de junho de 2010 às 11:42 |
Faço meu coro e conto um causo.
Uma amiga assistia com a família o jogo Brasil x Coréia, pela Sportv. O jogo estava tão chato e tão ruim que alguém disse “Vamos ver na Globo que pelo menos tem as bobagens do Galvão” Segundo ela, foi a maior animação porque todos passaram a rir e comentar as besteiras.
5 de agosto de 2010 às 12:48 |
Acho que no futebol, ao contrário do tênis em que a narração é absolutamente desnecessária e irritante, o locutor tem um papel a desempenhar, informando (ao menos aos mais leigos como eu) quem é aquela formiguinha correndo com a bola. O Galvão ficou chato, porque se sente o senhor da verdade. Eu prefiro o pessoal da SporTV, com a ressalva de que são quase todos Botafoguenses, portanto parciais ao comentar jogos dos demais times cariocas…