O sindicato dos aeroviários ameaça paralisar o tráfego aéreo no Brasil em meio às festas de fim de ano. Não dá para simpatizar com a causa de um sindicato que faz isso e fecha a avenida de acesso ao Galeão, entre outras agressões ao direito de ir e vir do cidadão.
Mas se tirarmos por base a maneira como as companhias aéreas tratam os passageiros, seus clientes, podemos imaginar o que fazem com seus empregados. Deve ser um inferno trabalhar em empresas que não têm a mínima consideração com seres humanos.

Alguns casos:
1. O vôo está atrasado umas 2 horas mas você, passageiro irresponsável, chegou um minuto depois do horário requerido. Você tem que pagar a multa por chegar atrasado e espera 3 horas para embarcar. Pra eles não pega nada.
2. O casal conseguiu tirar férias ao mesmo tempo depois de vários anos. Programaram encontrar com o filho, a nora e o neto – que moram nos EUA – em um resort na República Domenicana. Uma semaninha só mas a viagem dos sonhos. Pouco antes da viagem a companhia aérea avisa:
“Seu vôo de sábado foi cancelado, agora vocês viajam na terça-feira seguinte.”
” Peraí, não posso adiar minhas férias.”
“Sorry, perdeu”
Depois de muita briga eles aceitaram devolver a passagem. As férias, planejadas com muita antecedência, foram perdidas. Danem-se os passageiros.
3. A polícia do Rio invade a Vila Cruzeiro e sitia o Alemão. Você está em Sampa com vôo marcado às 19:00 horas. No Rio a família telefona e diz pra ter cuidado e você lá preocupado com a família. Tudo bem, no Santos Dumont não chega o tiroteio. Só que choveu de tarde em São Paulo e os vôos estão atrasados.
As informações são as mais desencontradas. De repente o seu vôo some do painel do portão de embarque. Os atendentes somem também. Um bando de passageiros perdidos não sabe o que fazer. Ninguém da companhia aérea explica o que está acontecendo ou vai acontecer. Nenhuma informação pelo alto-falante.
Não, isso não é por acaso. A companhia aérea usa essa tática de desesperar para dispersar os passageiros. Dispersos eles são mais fáceis de enganar. Há horas a aérea já sabe que não vai dar para o vôo sair de Congonhas. De repente avisam pra quem está perto. Com a boca, nada de informar pelo alto-falante.
“Vamos levar vocês pra Guarulhos. De lá sai o vôo”.
A atendente sai andando e quem quiser que vá atrás.
Os covardes só não avisaram que o vôo sai de Guarulhos para o Galeão e não para o Santos Dumont. Os empregados são claramente instruídos para não informarem que você tem direito a jantar, hotel e vôo no dia seguinte. Os que moravam em São Paulo decidiram ficar por lá e o pessoal do Rio seguiu para o ônibus. Para a companhia aérea o inimigo já estava enfraquecendo, cada passageiro escolhendo sua alternativa, vencidos no cansaço. A tática da desinformação continuava. Escutei no rádio da atendente que no Rio não haveria transporte do Galeão porque não circulavam táxis e a empresa de ônibus se recusou a sair naquela hora. O Rio estava em pé de guerra. Mas em momento algum os atendentes informaram isso aos passageiros. Boa parte entrou nos ônibus em meio ao caos em frente ao aeroporto. Para a companhia aérea era melhor despachar covardemente os inimigos e deixá-los mofando até a manhã do dia seguinte no Galeão do que gastar com hotéis em São Paulo.
Decidi tentar a sorte de remarcar o vôo para o dia seguinte. Já passava de meia-noite quando, um grupo de seis pessoas, tomamos uma cerveja no bar do hotel para relaxar e ir dormir. Os que sobraram e tentaram ficar por lá contaram com a boa vontade dos atendentes do balcão e foram lentamente sendo colocados em hotéis, o que não foi fácil.
A Infraero é uma vergonha e a ANAC uma piada. As companhias aéreas fazem o que querem. Duas delas dominam o mercado sob pífia fiscalização da ANAC. Os vôos são otimizados a ponto de um problema no aeroporto de Oriximiná causar atraso em vôos de Porto Alegre. E a desculpa é aceita. Imagina o que as aéreas fazem com as escalas da tripulação e dos atendentes … imagina o que fazem com a manutenção dos aviões para maximizar o lucro.
Quem trabalha nestas empresas é treinado para enganar, para não respeitar. Ética não é palavra no dicionário dessa gente. Neste ambiente onde imperam a traição, a esperteza e a covardia, quem teria pudor em fazer uma greve em pleno fim de ano e acabar com a festa de milhares de pessoas? Eles são vítimas maiores que nós, passageiros. Convivem todos os dias com as companhias aéreas e certamente são explorados e enganados também.
Tenho uma sugestão: José Mariano Beltrame na ANAC.
Foto by Cariocadorio: Voe Gol-contra (dezembro de 2010)