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Viagem ao século XIX

31 de dezembro de 2010

A família na casa da rua São Francisco Xavier (1895)

Viajei ao Rio de Janeiro do século XIX para conhecer meu avô.  Ou melhor, o avô do meu avô, que com cuidado o levava no colo para a foto da família.  Estava lá aquele com quem me diziam ser parecido quando criança: “É o Tio Nonô”, brincavam meus tios quando eu queira ir embora depressa,  impaciente com as intermináveis despedidas dos mais velhos.   

Nesta viagem reconheci pessoas que não cheguei a conhecer. E vi meu avô criança como jamais pensei pudesse vê-lo um dia e, com ele, seus avós, seus pais e irmãos.  Algumas pessoas que em menino conheci maiores e, como soem pensar as crianças, achava haviam sido assim sempre. 

Vovô e suas irmãs (1960)

De repente refleti que o mundo não começa e acaba em cada um de nós.  Que de filhos passamos a pais, depois a avós e depois a alguma coisa distante que será ninguém, mesmo para aqueles que aqui não chegariam se não fôssemos nós.  Até que alguém nos resgate à vida em uma foto de cento e tantos anos atrás.

Seguindo viagem cheguei ao meu tempo e reconheci o vovô como o conheci.  Descobrindo bichinhos nas nuvens, ensinando números nos papéis e me contando incontáveis era uma vez.  Como a inesquecível história do padre que sabia de tudo (aqui).

Não parei aí.  Fui vencendo o tempo e me reconheci num álbum, de um jeito que me vira um dia no agora um passado distante.  Me olhando curioso estava um homem maduro, que acabara de me conhecer naquela foto.   Ao fazê-lo o homem percebeu que estava diante de alguém que jamais pensara pudesse ver criança um dia. E refletiu que o mundo não acaba nem começa em cada um de nós.  E me apresentou ao seu filho, algumas gerações adiante. 

Fotos: A famíla (1895); Vovô e suas irmãs (1960) – arquivo pessoal Cariocadorio. Proibida a reprodução sem autorização prévia.
Notas:  Vovô é o bebê no colo.  As irmãs são a menina em pé à esquerda e a pequena sentada mais abaixo.  Tio Nonô é o rapaz à esquerda.

O Padre que sabia de tudo

28 de dezembro de 2010

Naquela pequena aldeia vivia um padre que a todos ajudava.  Era o representante de Deus, conselheiro, médico e tudo mais que o povo daquele lugar esquecido precisava.  No dia do seu aniversário, os aldeões agradecidos o presentearam com uma placa que dizia: 
“Padre que sabe tudo”

A vida transcorria tranqüila até o dia em que o rei, que jamais havia sido visto por aquelas paragens, adentrou na única rua da pequena aldeia.  Ao ver a placa em frente á igreja ficou indignado com a ousadia do padre.  Como poderia alguém em suas terras dizer-se sabedor de tudo?

Mandou que chamassem o padre ao seu castelo.  Se não respondesse corretamente a três perguntas que lhe faria o rei, seria condenado à morte na forca.

O anúncio dos arautos assombrou a aldeia.  O sacristão pensou um plano.   Como o rei jamais vira o padre, ele, o sacristão, o substituiria. Todos concordaram menos o padre, que não poderia deixar o sacristão sacrificar-se por ele.  Mas o plano do sacristão incluía embriagar o padre na véspera da viagem e seguir em seu lugar mesmo sem seu consentimento.   E assim fizeram.
                                                              
No castelo, os nobres e os sábios do rei se reuniram para uma tarde de diversão às custas do infortúnio do padre.  Sem mais delongas o rei iniciou a série de três perguntas:

“Quantas estrelas há no céu?”
“3.463.789.347.206”, respondeu sem titubear o sacristão.  
“Como saberei se esta é a resposta certa”, reagiu o rei diante de tanta firmeza.
“Os sábios de  Sua Majestade poderão contá-las e confirmar”, sugeriu o sacristão.
Os sábios preferiram concordar a admitir que não poderiam contar todas as estrelas do céu.

“Quantos cestos preciso para colocar toda a terra daquela montanha?”, disparou o rei.
“Apenas um cesto, majestade”, respondeu o sacristão.
“Quer dizer então que um único cesto poderá conter toda a terra daquela enorme montanha?”, insistiu o rei sob os risos zombeteiros da Corte.
Mantendo a calma o sacristão confirmou: “estou seguro de que sua majestade, caso assim o deseje, poderá mandar construir este único cesto do tamanho da mesma montanha e assim confinar toda a terra que nela se encontre.”
Os risos foram diminuindo enquanto o rei planejava uma terceira pergunta que logo proferiu:

“Muito bem, se quiser livrar-se da forca, o senhor deverá me dizer o que eu estou pensando”.
Fez-se o silêncio no castelo, onde a corte já simpatizava com a causa do padre.  Desta vez a resposta demorou um instante a mais em chegar. 
“Sua majestade está pensando que está falando com o padre que sabe tudo mas, na realidade, está falando apenas com o ajudante dele”.

Nos anais do reino não consta registro de qualquer enforcamento naquele ano de xxxx DC.

Voe Gol-contra

25 de dezembro de 2010

O sindicato dos aeroviários ameaça paralisar o tráfego aéreo no Brasil em meio às festas de fim de ano. Não dá para simpatizar com a causa de um sindicato que faz isso e fecha a avenida de acesso ao Galeão, entre outras agressões ao direito de ir e vir do cidadão.

Mas se tirarmos por base a maneira como as companhias aéreas tratam os passageiros, seus clientes, podemos imaginar o que fazem com seus empregados.  Deve ser um inferno trabalhar em empresas que não têm a mínima consideração com seres humanos.   

Alguns casos:

1. O vôo está atrasado umas 2 horas mas você, passageiro irresponsável, chegou um minuto depois do horário requerido. Você tem que pagar a multa por chegar atrasado e espera 3 horas para embarcar. Pra eles não pega nada.

2.  O casal conseguiu tirar férias ao mesmo tempo depois de vários anos.  Programaram encontrar com o filho, a nora e o neto – que moram nos EUA – em um resort na República Domenicana.   Uma semaninha só mas a viagem dos sonhos. Pouco antes da viagem a companhia aérea avisa:
   “Seu vôo de sábado foi cancelado, agora vocês viajam na terça-feira seguinte.”
   ” Peraí, não posso adiar minhas férias.” 
   “Sorry, perdeu”
Depois de muita briga eles aceitaram devolver a passagem.  As férias, planejadas com muita antecedência, foram perdidas.  Danem-se os passageiros.

3.  A polícia do Rio invade a Vila Cruzeiro e sitia o Alemão.  Você está em Sampa com vôo marcado às 19:00 horas.  No Rio a família telefona e diz pra ter cuidado e você lá preocupado com a família. Tudo bem, no Santos Dumont não chega o tiroteio.  Só que choveu de tarde em São Paulo e os vôos estão atrasados. 

As informações são as mais desencontradas.  De repente o seu vôo some do painel do portão de embarque.   Os atendentes somem também.  Um bando de passageiros perdidos não sabe o que fazer.  Ninguém da companhia aérea explica o que está acontecendo ou vai acontecer.  Nenhuma informação pelo alto-falante.

Não, isso não é por acaso.  A companhia aérea usa essa tática de desesperar para dispersar os passageiros. Dispersos eles são mais fáceis de enganar.  Há horas a  aérea já sabe que não vai dar para o vôo sair de Congonhas. De repente avisam pra quem está perto.  Com a boca, nada de informar pelo alto-falante.
   “Vamos levar vocês pra Guarulhos.  De lá sai o vôo”. 

A atendente sai andando e quem quiser que vá atrás.
Os covardes só não avisaram que o vôo sai de Guarulhos para o Galeão e não para o Santos Dumont.  Os empregados são claramente instruídos para não informarem que você tem direito a jantar, hotel e vôo no dia seguinte.   Os que moravam em São Paulo decidiram ficar por lá e o pessoal do Rio seguiu para o ônibus.  Para a companhia aérea o inimigo já estava enfraquecendo, cada passageiro escolhendo sua alternativa, vencidos no cansaço.  A tática da desinformação continuava.  Escutei no rádio da atendente que no Rio não haveria transporte do Galeão porque não circulavam táxis e a empresa de ônibus se recusou a sair naquela hora.  O Rio estava em pé de guerra.   Mas em momento algum os atendentes informaram isso aos passageiros.  Boa parte entrou nos ônibus em meio ao caos em frente ao aeroporto.  Para a companhia aérea era melhor despachar covardemente os inimigos e deixá-los mofando até a manhã do dia seguinte no Galeão do que gastar com hotéis em São Paulo.

Decidi tentar a sorte de remarcar o vôo para o dia seguinte. Já passava de meia-noite quando, um grupo de seis pessoas, tomamos uma cerveja no bar do hotel para relaxar e ir dormir.  Os  que sobraram e tentaram ficar por lá contaram com a boa vontade dos atendentes do balcão e foram lentamente sendo colocados em hotéis, o que não foi fácil. 

A Infraero é uma vergonha e a ANAC uma piada. As companhias aéreas fazem o que querem. Duas delas  dominam o mercado sob pífia fiscalização da ANAC.  Os vôos são otimizados a ponto de um problema no aeroporto de Oriximiná causar atraso em vôos de Porto Alegre. E a desculpa é aceita.  Imagina o que as aéreas fazem com as escalas da tripulação e dos atendentes … imagina o que fazem com a manutenção dos aviões para maximizar o lucro.

Quem trabalha nestas empresas  é treinado para enganar, para não respeitar. Ética não é palavra no dicionário dessa gente.  Neste ambiente onde imperam a traição, a esperteza e a covardia, quem teria pudor em fazer uma greve em pleno fim de ano e acabar com a festa de milhares de pessoas?  Eles são vítimas maiores que nós, passageiros. Convivem todos os dias com as companhias aéreas e certamente são explorados e enganados também.

Tenho uma sugestão:  José Mariano Beltrame na ANAC.

 Foto by Cariocadorio: Voe Gol-contra (dezembro de 2010)

Lagoa Rodrigo de Freitas

18 de dezembro de 2010

Em tons de azul, a cor mais quente

A árvore de Natal da Lagoa é a grande atração das festas de fim de ano no Rio de Janeiro.  Decorada com capricho pelo competente Abel Gomes, atrai gente de todas as partes da cidade e de fora também, mudando a fisionomia da Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal pouco explorado da Cidade.


Durante o ano todo, entretanto, a Lagoa é uma das melhores áreas de lazer do Rio de Janeiro.  A ciclovia de 7500 m, um pouco apertada é verdade, permite caminhar em todo o seu perímetro desfrutando de vários parques e cenários belíssimos oferecidos pela natureza privilegiada da Cidade.

Localizada entre a montanha e o mar, da Lagoa se pode observar o Corcovado, o Dois Irmãos, a Pedra da Gávea e a grande massa verde das florestas tropicais do Rio de Janeiro.   O olhar mais atento nos leva a conhecer uma enorme variedade de plantas e aves.

Mesmo para aqueles mais acostumados com o visual da Lagoa, a saída do túnel Rebouças em um dia de sol dá a real dimensão da enorme beleza da região.

Por outro lado, há também a vista da favela da Rocinha, que cresceu para os lados da Gávea, o tráfego difícil, a poluição  e outras mazelas causadas pelo homem que teima em estragar o belo.

Como quase tudo no Rio, a Lagoa sofre com a desordem e a falta de manutenção em seus equipamentos urbanos, quiosques, parques e tudo mais.

Remo na Lagoa

Felizmente a natureza é mais forte que a nossa incompetência política e administrativa.  Apesar do descuido a Lagoa Rodrigo de Freitas segue sendo uma ótima área de lazer que merece ser visitada mesmo para os que moram mais longe.

Apesar da morosidade das ações do governo, esta é uma das melhores regiões do Rio.  Para aqueles que moram em seu entorno, não há como negar ser um privilégio.  Já não mais acontecem as terríveis mortandades de peixe que empestiavam a Lagoa de tempos em tempos. 
Quem sabe o projeto patrocinado pelo empresário Eike “Midas” Batista não acabará de vez com a poluição das suas águas transformando os esportes aquáticos em atração ainda mais frequentada.

E que o Rio de Janeiro ganhe mais áreas de lazer como a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Quinta da Boa Vista e o Parque do Flamengo.

Dois Irmãos e Pedra da Gávea

Fotos by Cariocadorio: Árvore de Natal da Lagoa, 2010; A avenida Epitácio Pessoa; O Cristo e a Lagoa; Remo na Lagoa (2009); Aves da Lagoa; Dois Irmãos e Pedra da Gavea.

Feliz Natal e próspero 2011

12 de dezembro de 2010

Hoje nada de críticas ou discussões.

Este ano, como cada ano, passou rápido demais.  Já que é assim que tem que ser sempre, que seja.  Mas que 2011 seja muito melhor que 2010 e não tão bom quanto 2012.
Saúde e paz em primeiro lugar. Que todos tenham tempo para cuidar de si mesmos e daqueles que amam.

O Cariocadorio lhes deseja um Feliz Natal e um ótimo 2011.

Foto: Árvore de Natal da Lagoa, 2010 (by Cariocadorio)

Muito cacique…

1 de dezembro de 2010

No balanço divulgado na mídia foram apreendidas pelo menos 170 armas, 100 granadas ou bombas caseiras e 30 toneladas de drogas.  Morreram mais de 50 pessoas, quase todos marginais, e foram presos mais de 110 suspeitos.  Diferente de outras vezes, a operação policial em curso no complexo do Alemão surpreende pelo planejamento, cooperação das várias instituições envolvidas, pela execução e pela pouca margem para denúncia de abusos e crimes das forças do estado. 

Surpreende também a desorganização das tropas do chamado crime organizado, embora a grande maioria tenha escapado e continue por aí.  E não são poucos.

Mas o que causa maior surpresa ainda é a quantidade de “chefes” capturados. Pela forma como são apresentados pela polícia, parece que todo mundo que foi preso ou é chefe ou é gerente de alguma área.  Se não for exatamente assim, as autoridades precisam cuidado ao apresentar os suspeitos presos para não desacreditar o trabalho considerado histórico pela população.

Mas se tem mesmo tanto chefe, os caras precisam fazer uma reengenharia organizacional.  É muito cacique pra pouco índio.