Viajei ao Rio de Janeiro do século XIX para conhecer meu avô. Ou melhor, o avô do meu avô, que com cuidado o levava no colo para a foto da família. Estava lá aquele com quem me diziam ser parecido quando criança: “É o Tio Nonô”, brincavam meus tios quando eu queira ir embora depressa, impaciente com as intermináveis despedidas dos mais velhos.
Nesta viagem reconheci pessoas que não cheguei a conhecer. E vi meu avô criança como jamais pensei pudesse vê-lo um dia e, com ele, seus avós, seus pais e irmãos. Algumas pessoas que em menino conheci maiores e, como soem pensar as crianças, achava haviam sido assim sempre.
De repente refleti que o mundo não começa e acaba em cada um de nós. Que de filhos passamos a pais, depois a avós e depois a alguma coisa distante que será ninguém, mesmo para aqueles que aqui não chegariam se não fôssemos nós. Até que alguém nos resgate à vida em uma foto de cento e tantos anos atrás.
Seguindo viagem cheguei ao meu tempo e reconheci o vovô como o conheci. Descobrindo bichinhos nas nuvens, ensinando números nos papéis e me contando incontáveis era uma vez. Como a inesquecível história do padre que sabia de tudo (aqui).
Não parei aí. Fui vencendo o tempo e me reconheci num álbum, de um jeito que me vira um dia no agora um passado distante. Me olhando curioso estava um homem maduro, que acabara de me conhecer naquela foto. Ao fazê-lo o homem percebeu que estava diante de alguém que jamais pensara pudesse ver criança um dia. E refletiu que o mundo não acaba nem começa em cada um de nós. E me apresentou ao seu filho, algumas gerações adiante.
Fotos: A famíla (1895); Vovô e suas irmãs (1960) – arquivo pessoal Cariocadorio. Proibida a reprodução sem autorização prévia.
Notas: Vovô é o bebê no colo. As irmãs são a menina em pé à esquerda e a pequena sentada mais abaixo. Tio Nonô é o rapaz à esquerda.
Tags: 1895, família, Fotos Antigas, História, século XIX, viagem, Viagens
2 de janeiro de 2011 às 11:43 |
Texto estupendo!
3 de janeiro de 2011 às 08:49 |
Qualquer dia você muda de profissão. Vai virar escritor. Que belo livro teremos.
Grande abraço da fiel comentarista 😀
3 de janeiro de 2011 às 21:29 |
Texto tão poético, tão fluido… dá para sentir a essência da vida, que continua sem se interromper… parabéns!
Grande beijo
Karina
21 de abril de 2012 às 20:49 |
Que foto fantástica!!! Um tesouro! E está em excelente estado de conservação! E o seu texto… que delícia. Nostálgico, especialmente para mim nesse momento, tocou bem fundo meu coração.
Lindo post, amei.
beijuuss
Salete
18 de abril de 2013 às 15:18 |
li seu texto achei muito interessante,e viajei nesse pequeno texto
fiquei imaginando como ocorria os fatos,adorei
bjuss
renata
6 de outubro de 2017 às 14:41 |
Boa tarde,
há uma foto da família, expressiva do formato de família do início do século XX, pode ser reproduzida em trabalho científico sem fins lucraticos?
29 de outubro de 2017 às 11:10 |
Gostaria de saber qual o trabalho científico antes. A partir daí pediria apenas que fosse mencionada a fonte.
22 de abril de 2018 às 12:20 |
texto maravilhoso . Por momentos me lembrei do grande
SARAMAGO.
8 de maio de 2018 às 09:59 |
Obrigado… Mas menos, né?