Sou obrigado a reconhecer que os cariocas, nascidos ou não no Rio de Janeiro, somos uns mal-agradecidos. Não contentes em viver numa cidade de beleza incomparável, cuidadosamente talhada entre montanhas verdes e mares azuis, ainda queremos ter segurança, escolas e hospitais que funcionem.
É verdade que não se pode passar em certas vias públicas a tantas horas do dia sob o risco de aumentar a probabilidade de assalto dos normais 48 para inaceitáveis 92,5%. Também é verdade que às vezes algum incauto fica doente sem que haja UPA que o atenda, ou que uma grávida inescrupulosa decida dar à luz na hora da troca de turno. Particularmente quando o governo não pagou ninguém e o hospital não tem médico em turno algum pra fazer a troca.
Mas não se pode querer tanto quando se tem a Quinta da Boa Vista, o Pão de Açúcar, a Floresta da Tijuca, as praias do Leme ao Pontal, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Jardim Botânico, a nova Praça Mauá, e vou parar por aqui se não acabo esquecendo do Cristo Redentor, com seus braços abertos sobre a Guanabara.
Há que escolher entre uma cidade maravilhosa e um governo que preste. O fato é que, antes mesmo de 1° de março de 1565, o carioca já havia feito a sua opção pelo belo. Mais do que isso é descabida ambição.
Foto by Cariocadorio: Cidade do Amanhã, dezembro de 2015
Nota: baseado em crônica de Machado de Assis (15/09/1876)