Faz uns quinze dias atendi um telefonema com um seco “Alô”.
“E aí, tudo bem?”
Reconheci a voz do outro lado da linha e fui respondendo: “Tudo bem, e vo…?”, não consegui terminar, feliz e espantado de ouvi-lo… “Pera aí, mas você…”
Não podia ser a voz do meu querido Geraldo. Claro que não, ele se foi há alguns anos. Mas era, sem dúvida.
Acordei sobressaltado. Mas a rápida conversa foi tão clara que logo me acalmei. Ele estava obviamente muito bem. Achei que só queria mesmo dizer alô.
Hoje telefonei pro Salão para marcar hora com o José. Com voz triste a moça disse que não seria possível. O José faleceu.
O José, o meu barbeiro de mais de 35 anos, aquele cara simpático cujo maior orgulho era ser querido por todos, porque a todos tratava bem.
Nestes tantos anos falamos de tudo. Das famílias, do Vasco, do Flamengo, do não tá fácil pra ninguém, de como ele aparava a cerca viva da casa… Os vizinhos elogiavam. Eu brincava que não era vantagem, com a destreza que tem com as tesouras…
Mas o José cortava cabelos e cuidava de jardins com muito mais do que a habilidade das mãos. José fazia tudo com o coração. José cuidava das pessoas, do mundo. Me chamava “meu filho”, “meu amigo”. O José era uma destas pessoas raras de se encontrar. Como o Geraldo.
A moça explicou que trabalhando começou a sentir uma dor no braço. Levaram para um hospital, para outro… Enfarte, não teve jeito.
e concluiu… Faz uns quinze dias.