Archive for the ‘Rio de Janeiro’ Category

Faz Quinze Dias

10 de setembro de 2018

Faz uns quinze dias atendi um telefonema com um seco “Alô”.

“E aí, tudo bem?”

Reconheci a voz do outro lado da linha e fui respondendo: “Tudo bem, e vo…?”,  não consegui terminar, feliz e espantado de ouvi-lo… “Pera aí, mas você…”

Não podia ser a voz do meu querido Geraldo.  Claro que não, ele se foi há alguns anos. Mas era, sem dúvida.

Acordei sobressaltado.  Mas a rápida conversa foi tão clara que logo me acalmei.  Ele estava obviamente muito bem.      Achei que só queria mesmo dizer alô.

Hoje telefonei pro Salão para marcar hora com o José. Com voz triste a moça disse que não seria possível. O José faleceu.

O José, o meu barbeiro de mais de 35 anos, aquele cara simpático cujo maior orgulho era ser querido por todos, porque a todos tratava bem.

Nestes tantos anos falamos de tudo. Das famílias, do Vasco, do Flamengo, do não tá fácil pra ninguém, de como ele aparava a cerca viva da casa…  Os vizinhos elogiavam. Eu brincava que não era vantagem, com a destreza que tem com as tesouras…

Mas o José cortava cabelos e cuidava de jardins com muito mais do que a habilidade das mãos. José fazia tudo com o coração.   José cuidava das pessoas, do mundo. Me chamava “meu filho”, “meu amigo”.  O José era uma destas pessoas raras de se encontrar.  Como o Geraldo.

A moça explicou que trabalhando começou a sentir uma dor no braço.  Levaram para um hospital, para outro… Enfarte, não teve jeito.

e concluiu… Faz uns quinze dias.

A Vemaguete

13 de julho de 2018

O Cariocadorio na Vemaguete:  Carnaval de 66

Esta Vemaguete foi o primeiro carro da minha família.  Nessa época os automóveis reinavam sozinhos como objetos de consumo dos adultos e da fantasia das crianças.  Não havia a concorrência dos computadores, celulares nem mesmo do gravador cassete à época. Rádios de pilha e  vitrolas não eram concorrentes à altura. As crianças disputavam que sabia mais sobre automóveis.

A nossa Vemaguete é do início de 1964.  Não era ainda o modelo 1001, lançado logo após,  que tinha como característica as portas abrindo pra frente como os demais carros.  A cor era azul clara, exigência do velho que não gostava do saia e blusa comum na época.  O estofamento era vermelho.

Naquele ano o Rio de Janeiro viveu momentos de tensão com o golpe de 64. A Vemaguete teve lá a sua participação.  Morávamos na Pinheiro Machado e a rua ficou bloqueada com barricadas em frente ao Palácio Guanabara.  Carros do exército tomaram a rua e a família achou melhor sair dali.  Pegamos a rua Paissandu, onde em alguns lugares tivemos que passar por cima da calçada.  Carros da prefeitura, cinza com listra amarela, bloqueavam a rua. Numa dessas, o para-lama direito da Vemaguete novinha raspou na parede.  Na Presidente Vargas cruzamos com vários blindados mas o caminho até o Lins foi tranquilo.

Na foto a Vemaguete aparece no Lins de Vasconcelos, pilotada por este Cariocadorio fantasiado de índio.  Era o carnaval de 1966. Na grade dianteira, a inicial do sobrenome da família personalizava o carango.

Foto: Vemaguete 64 (Fev. 66) Acervo pessoal Cariocadorio.  Proibida a reprodução sem autorização prévia. 

 

A Falta que Faz

16 de janeiro de 2018

Começa hoje o campeonato carioca. O carioca do Rio de Janeiro transcende os limites da cidade, do estado e ocupa um Brasil com centenárias rivalidades.     Em Manaus, Salvador ou Juiz de Fora, discute-se o campeonato carioca.

Que importa se os Patriotas do marido da Gisele vão ganhar de novo ou se os Cavaleiros de Cleveland vão destronar os Guerreiros do Estado Dourado?  Parece ridículo mas os nomes são esses mesmos. Isso lá são nomes de times?  Estamos de acordo que não dá pra comparar com Flamengo, Vasco da Gama, Botafogo, Fluminense … ?

Os políticos do esporte fazem tudo para estragá-lo e dar razão aos que querem o fim do estadual.  Pode um campeonato “começar” com grupos B e C, ter 6 semifinais e 3 finais?

Os que querem o fim dos estaduais não sabem a falta que faz torcer pelo que é nosso.  É torcer pelo time da sua escola, pelo time da sua rua contra o do outro bairro, pelo seu time.

E como faz falta o América, cinco vezes campeão carioca. Lá em casa eram todos América. Pequena ovelha negra, rubro-negra, lembro dos velhos e meu irmão comemorando o campeonato carioca de 1960.

Pensando bem, o que faz falta mesmo é gente, amigos, família.  São as pessoas que dão sentido ao que chamamos de nosso.  Pessoas de quem um dia sentiremos falta, pois muito pior seria não ter de quem sentir falta. Sentir saudade, uma saudável saudade.

Que comece o carioca. E que vença quem ganhar!

Foto by Cariocadorio; “América rubro-negro”, 16/01/18

Meu Amigo Justino

19 de dezembro de 2017

O que chamou sua atenção foi um princípio de bulling lá pelo terceiro ano ginasial (só aprendemos que essa velha maldade se chama bulling recentemente, graças aos americanos).   Sempre tinha alguém pra pegar no pé e ficar sacaneando em grupo.  Muito alto,  quatro-olhos ou meio tímido, qualquer diferença era motivo.

No caso do Justino não foram os óculos com lentes fundo de garrafa nem o nariz entortado pra esquerda. Tampouco por ser vascaíno, coisa rara na zona sul do fim dos anos 60.   Foi por conta do nome que o Justino teve seu tempo de “pele” daquela turma do Pedro II.  Eram muitos Eduardos e Paulos, vários Luiz Alguma Coisa mas Justino, só ele.  Mais, nas listas de todas as turmas do colégio coladas no vidro do refeitório só aparecia um Justino.  Ele.

Por que? Não tinha parentes próximos nem algum Justino famoso que justificasse.  Por alguma razão, respeito talvez, nunca perguntou aos pais. Naquele tempo tinha esse negócio de respeitar os mais velhos.  A zoação (esta aprendemos com os paulistas) passou e o Justino não tocou mais no assunto.

Na terça passada entrei no Paglia e Fieno mais tarde que o habitual.   Estava vazio, retrato da crise. No fundo do restaurante três homens de terno aguardavam o almoço. O cara junto à parede parecia familiar. Caramba, desde os tempos do vestibular, fazia mais de 40 anos.  Minto, na verdade foi depois, no pilotis da PUC. Ele cursava Direito e eu Engenharia.  Ainda assim, mais de 40 anos. Seria ele mesmo?

Fixei o olhar. O nariz meio torto pra esquerda dirimiu as dúvidas.  Me dirigi célere até a mesa. De repente um dos homens levantou-se e se interpôs com firmeza.  Estanquei assustado, percebi que o outro buscava algo no paletó e instintivamente levantei as mãos.

O que me salvou não foi o nariz torto do Justino, mas o meu próprio nariz arrebitado.   O homem junto à parede freou os outros dois com um gesto, abriu um sorriso pra mim e falou:

— Batata???

Era eu.  Era o Justino.  O do nariz meio torto e o do nariz de batata da turma do ginásio.

Sentei-me à sua frente e nos 40 minutos seguintes atualizamos os últimos 40 anos de nossas vidas.  Ele já tinha seis netos dos quatro filhos, todos meninos e eu na primeira netinha, Helena, recém-nascida.  De como fui parar em Londres e por lá fiquei tantos anos.  De como ele ficou no Rio e seguiu a carreira no ministério público. De repente me lembrei da história do nome.

Com brilho nos olhos, Justino contou que há pouco tempo, revirando as heranças do pai, encontrou o diploma do bisavô de quem nunca tinha ouvido falar.  O documento tinha mais de metro, uma fita verde e amarela perfeitamente conservada e dizeres mais ou menos assim:

FACULDADE DE DIREITO DA CIDADE DO RECIFE

Eu, Fulano de Tal, tendo presente o termo de aptidão ao Gráo de Doutor obtido pelo Sr. Justino Resende de Sá e Oliveira, natural do Rio de Janeiro, filho de José Francisco de Sá e Oliveira, nascido no dia 2 de agosto de 1861… pelos poderes que me são outorgados…

…Mando passar ao dito Senhor, esta Carta de Doutor em Ciências Jurídicas para que com ella gose de todos os direitos e prerrogativas das Leis do Império.

Por ordem de D. Pedro Segundo
Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil  
Recife, 18 de novembro de 1885.

Sabe os amigos do Justino que quase me matam de susto?

Seguranças…  Recentemente, o meu amigo Justino, aliás,
V.Ex.a, Meritíssimo Juiz Dr. Justino Ventura de Sá e Oliveira,
colocou dois conhecidos políticos cariocas pra ver o sol nascer quadrado lá em Benfica.

Muito obrigado meu amigo.  Seu nome é o que tinha mesmo que ser.

 

Foto by Cariocadorio
Nota:  Esta é uma obra de ficção.  Qualquer semelhança com personagens e fatos reais terá sido mera coincidência. 

Hora de torcer pelo Rio

1 de agosto de 2016
O Rio Olímpico

O Rio Olímpico

Já basta alguns gringos quererem nos desmoralizar.  Como se eles não tivessem seus próprios problemas, seus atiradores psicopatas, o terror em suas cidades, suas histórias de violência e erros. Não vamos fazer coro a interesses mesquinhos.

Para os que vem aqui para competir ou se divertir, tapete vermelho e o nosso maior carinho.  Mas que não esperem uma Olimpíada suíça porque isso aqui é o Brasil.  É o Rio de Janeiro com seu pacote completo.  Vejam a parte meio cheia do cálice.

Não é vergonha querer que os Jogos sejam um grande sucesso.  Já que começou, melhor que termine bem porque só assim será bom pra nós, brasileiros.
Cariocas de todo o Brasil;  agora é hora de curtir as Olimpíadas, é hora de torcer pra dar certo.

 

PS: Depois a gente volta a reclamar da falência do Estado, das bobagens do Prefeito, das mal acabadas obras, das roubalheiras do Congresso e de tudo mais que a gente tem direito. 

 

Rio de Janeiro, a Cidade do Amanhã

1 de janeiro de 2016
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A Cidade do Amanhã

Sou obrigado a reconhecer que os cariocas, nascidos ou não no Rio de Janeiro, somos uns mal-agradecidos.  Não contentes em viver numa cidade de beleza incomparável, cuidadosamente talhada entre montanhas verdes e mares azuis, ainda queremos ter segurança, escolas e hospitais que funcionem.

É verdade que não se pode passar em certas vias públicas a tantas horas do dia sob o risco de aumentar a probabilidade de assalto dos normais 48 para inaceitáveis 92,5%.  Também é verdade que às vezes algum incauto fica doente sem que haja UPA que o atenda, ou que uma grávida inescrupulosa decida dar à luz na hora da troca de turno.  Particularmente quando o governo não pagou ninguém e o hospital não tem médico em turno algum pra fazer a troca.

Mas não se pode querer tanto quando se tem a Quinta da Boa Vista, o Pão de Açúcar, a Floresta da Tijuca, as praias do Leme ao Pontal, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Jardim Botânico, a nova Praça Mauá, e vou parar por aqui se não acabo esquecendo do Cristo Redentor, com seus braços abertos sobre a Guanabara.

Há que escolher entre uma cidade maravilhosa e um governo que preste.  O fato é que, antes mesmo de 1° de março de 1565, o carioca já havia feito a sua opção pelo belo.  Mais do que isso é descabida ambição.

Foto by Cariocadorio: Cidade do Amanhã, dezembro de 2015

Nota: baseado em crônica de Machado de Assis (15/09/1876)

Árvore de Natal da Lagoa, 2014

26 de dezembro de 2014

A árvore de natal da Lagoa Rodrigo de Freitas já é uma tradição no Rio de Janeiro.

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Árvore de Natal da Lagoa, 2014; primeiro o sol do anoitecer

Todos os anos, ou quase todos, lá vou eu tentar fotografá-la com um equipamento vagabundinho. Um celular Blackberry, um I-phone ou uma câmera Sony que cabe na palma da mão.

Padrões de luzes e cores mas só a partir do finzinho da tarde

Eu me esforço, prendo a respiração, tento me lembrar de tudo que em um passado distante li sobre fotografia.  Não tem jeito, sai sempre meio tremido.

Em tons de azul, a cor mais quente

Mas eu gosto assim mesmo.  Um dia eu compro uma daquelas câmeras bacanas, como a saudosa Nikon FB-10 que está esquecida no alto de um armário.  Só que moderna, digital, quem sabe até uma semi-pro… Talvez quando eu me aposentar.  Não falta muito, eu acho.  A coisa anda passando cada vez mais rápido.

Panorama da Lagoa Rodrigo de freitas

Panorama da Lagoa Rodrigo de Freitas

Espero ter mais fôlego para escrever no próximo ano.  Isso mesmo, fôlego, porque não posso alegar falta de tempo.
2014 não foi ruim…Também não foi tão bom assim (se me permite o Lulu Santos).

Por falar nisso… Que 2015 seja formidável para todos.  
Muita saúde, muito amor e felicidade. 

Fotos by Cariocadorio (novembro de 2014).

Árvore de Natal da Lagoa, o Lado B

30 de novembro de 2014

uruguay e lagoa 031A árvore de natal da Lagoa desperta os mais variados sentimentos.  Do amor pelo espírito natalino ao ódio mais primitivo de quem se vê usurpado de seus direitos de cidadão.  Este último é o tema deste ano.

Por que a má vontade? Simples; as pessoas têm sua rotina destruída por mais de um mês.  A ciclovia fica cheia de gente atrapalhando os que por ali se exercitam.  O trânsito se torna caótico e como se não bastasse, os moradores que estacionam seus carros no canteiro central das avenidas o ano todo ficam impedidos de fazê-lo.  E nem pensar em receber a visita de familiares para uma festa de natal.

Borges de Medeiros - proibido estacionar!

Borges de Medeiros – proibido estacionar!

É proibido estacionar em toda a volta da Lagoa, mesmo que no lado oposto ao da árvore.  Se fosse por um fim de semana, tudo bem, mas é por mais de um mês.

131208 iphone 018Resumindo, a árvore de natal da Lagoa é um suplício para os milhares de moradores da região que, por sinal, pagam dos mais caros IPTUs do Rio.  Tudo é feito para beneficiar quem não mora ali, às custas do seu sofrimento.

Quem sorri de orelha a orelha é o fabricante de cones.

Afinal, é justo fazer uma festa (com propaganda e incentivos fiscais para um banco) em detrimento do direito de muitos?

Fotos by Cariocadorio: Novembro de 2013 e novembro de 2014.

Clique aqui para ver fotos e posts sobre a árvore de Natal da Lagoa desde 2009.

Porto Maravilha – Praça XV sem Perimetral

4 de outubro de 2014
Praça XV

Praça XV de Novembro

Saída do Mergulhão

Saída do Mergulhão da Praça XV

Tribunal Marítimo e Centro Cultural da Marinha

Av. Alfredo Agache, à continuação

Seguem as obras na Praça XV.  No trecho de onde já foram removidos os escombros da Perimetral pode-se ter uma ideia de como ficará o local.  As fotos foram tiradas do prédio da Bolsa de Valores (o que aparece com um heliponto azul na foto abaixo).

Os prédios do Tribunal de Justiça e do Hospital Maternidade continuarão impedindo a vista para o mar. Na sequencia, o Tribunal Marítimo aparece de forma mais harmônica  com a paisagem.

Google Mapas, ainda  com a Perimetral

Google Terra, ainda com a Perimetral

Fotos by Cariocadorio: Praça XV e Av. Alfredo Agache (sembro de 2014);
Vista de cima do Google Terra.

Porto Maravilha, tomando forma

7 de setembro de 2014
A Perimetral e o sol

A Perimetral e o sol

Enquanto passado e futuro ainda convivem, começa a tomar forma a nova região portuária do Rio de Janeiro.

A demolição da Perimetral permitiu que uma luz há muito não vista voltasse a banhar  a Av. Rodrigues Alves e a Praça Mauá.

O Museu de Arte do Rio é, já há algum tempo, uma realidade.  Acho interessante aquele teto ondulado sobre o edifício e o Palacete D. João VI. A polêmica arquitetura é mais uma atração para a Praça Mauá.

O Museu do Amanhã também começa a tomar forma ao mesmo tempo em que se removem os restos da Perimetral.

Obras do Museu do Amanhã e restos da Perimetral

Obras do Museu do Amanhã e restos da Perimetral

Ainda há muita coisa por fazer, como arranjar uma solução para o triste e abandonado edifício A Noite, aquele que foi o maior arranha céu da América Latina. Quem sabe um dia caminharemos tranquilamente por modernas vias e pelas vielas do Morro da Conceição, berço do Rio de Janeiro.

A Perimetral já foi mesmo demolida, não adianta continuar reclamando. Melhor torcer para que a maior transformação urbana no Rio de Janeiro nos últimos quarenta anos nos permita melhor desfrutar da Cidade Maravilhosa.

Artigos sobre este assunto:
https://cariocadorio.wordpress.com/2011/11/26/as-obras-do-mar/
https://cariocadorio.wordpress.com/2011/04/18/palacio-d-joao-vi-segue-a-obra/
https://cariocadorio.wordpress.com/2010/05/22/palacio-d-joao-vi-em-obras/
https://cariocadorio.wordpress.com/2014/01/26/tchau-tchau-perimetral/
https://cariocadorio.wordpress.com/2011/04/18/palacio-d-joao-vi-segue-a-obra/

Fotos by Cariocadorio, agosto de 2014.