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De passagem, 1989

4 de setembro de 2010

A campanha eleitoral no Brasil, em vez de esperança, nos escancara a triste realidade política do país. A propaganda de baixo nível em todas as frentes, os mesmos candidatos de sempre muitas vezes seguidos por seus filhos e parentes e uma horda de famosos querendo uma boquinha nos cofres públicos.  

Foi neste clima que me lembrei de uma carta do meu amigo Marcello Senna, recebida há muitos anos.  Estávamos em lugares distintos ambos longe do Brasil quando ele passou umas férias no Rio.  Sem internet e DDI caríssimo, as notícias chegavam devagar, pelo correio.   Nesta expectativa abri a carta cheio de curiosidade. Para minha surpresa, no lugar das longas e detalhadas linhas que Marcello costumava enviar, apenas um improvável poema que, na realidade, parecia dizer tudo.      Encontrei-a no velho baú e a transcrevo fielmente.

De Passagem

Recebeu-me triste a minha terra.
Como era feio o cinza no céu
E a cinzenta Avenida’sil

Sobre antes cores
Pintaram collors e covas
E da esperança, tanto que antes,
Restava o nada
Nos olhos tristes de toda a gente

Mas ainda há praias
Onde crianças brincam
Avenidas
Onde se pisam os homens 

E o Rio continuará lindo,
Sujo,
Cheirando mal

Marcello S. Senna
 Do Rio de Janeiro, RJ, Brasil e
Suwanee, Georgia, EUA
Setembro 1989

Foto do site O Globo: Eleições 1989

Ficha Limpa

27 de agosto de 2010

A campanha política e os acontecimentos que em seu redor orbitam são de fazer perder a esperança.  Não falo de Serras, Dilmas e Marinas mas da classe política e do legislativo brasileiro. 

Mais de um milhão de assinaturas foram entregues ao presidente da Câmara Michel Temer A lei “Ficha Limpa”, uma iniciativa popular, parecia impor certa ordem mas é de difícil aplicação.  Pior, tornou-se mote de campanha. Particularmente por aqueles que tem na vida pública uma folha corrida de participações pouco éticas ou mal explicadas.   

Em São Paulo, Maluf se diz ficha limpa enquanto seus advogados procuram garantir sua candidatura.  No Rio, em situação semelhante, Garotinho parece sofrer uma perseguição política implacável e quase chora diante das câmaras.  E um ex-presidente do Vasco estampa em seus cartazes o selo “Ficha Limpa“. Outros vão pelo mesmo caminho. 

O que seria um pré-requisito essencial para qualquer cidadão de bem tornou-se uma mal usada credencial de campanha. Dos famigerados “rouba mas faz” e “é dando que se recebe” chegamos ao vote em mim porque “roubo mas não provam”.  Quem é honesto e tem  ficha limpa de verdade não precisa fazer campanha para prová-lo.   

Enquanto isso alguns partidos propõe o confronto racial e entre classes socias em suas campanhas. O que mais seriam cartazes do tipo “não existe capitalismo sem racismo”? É razoável ter acesso gratuito aos meios de comunicação para incitar o confronto? 

Tudo isso pode.  Mas fazer o humor com políticos está proibido sob pena de punição (artigo 45 da lei 9.504 sob o pretexto de proibir a sabotagem e os prejuízos à imagem dos candidatos durante o processo eleitoral).  Está censurado, como nos tempos da ditadura.    

A verdadeira Palhaçada Nota de fim de post do site UOL/Folha:  O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres Britto suspendeu na noite desta quinta-feira a legislação que proíbe programas de humor de fazerem piadas com os candidatos que disputarão as eleições de outubro.  Melhor, apesar de tudo, esperança precisa ser a última que morre.

Ilustrações obtidas do blog Espaço 2:
http://espacodois.blogspot.com/