Posts Tagged ‘Emerson Fittipaldi’

Colin Chapman, Rio 1978

23 de agosto de 2010

Em 1978,  durante os treinos do primeiro GP do Brasil de Fórmula 1 no Rio de Janeiro, um curioso Colin Chapman observa, de passagem, os segredos da Ferrari 312 B. 

Colin Chapman observa a Ferrari 312 B

O mago da Lotus deixou a Fórmula 1 cedo demais, em 1982, aos 54 anos de idade.
O gênio criativo de Colin Chapman parecia inesgotável.  Foi  o criador do chassis monocoque, do primeiro carro com radiadores laterais, o Lotus 72, e dos fabulosos carros asa que foram um divisor de águas na história da F1

Em 1978, Chapman lançou o belíssimo Lotus 79 substituindo, a partir da Bélgica, o modelo  78 que já havia vencido na temporada.  O carro com efeito solo (ground effect) não deu chance para os rivais.   Enquanto as outras equipes se viravam para copiar-lhe, Mário Andretti levava a Lotus ao título com facilidade.  

Copersucar Fittipaldi F5A

Nesta prova no Autódromo do Rio aconteceu um lance dos mais emocinantes da F1. Emerson Fittipaldi, ao volante do Copersucar, ultrapassou a Lotus 78 de Ronnie Peterson no final do retão, para delírio dos torcedores que lotavam as arquibancadas.  O segundo lugar no Rio foi o melhor de um Copersucar.

No cockpit das Lotus de Colin Chapman estiveram alguns dos grandes pilotos da história da F1: o imbatível Jim Clark, Graham Hill, Jochen Rindt, o nosso Emerson Fittipaldi, o sueco Ronnie Peterson e outros. 

O prazer de ver o boné de Chapman voar nas  vitórias do Emerson deixou saudades, assim como já deixa saudades o nosso Autódromo do Rio, covarde e desnecessariamente destruído por um arremedo de Jogos Panamericanos. 

Fotos by Cariocadorio:  GP do Brasil de Fórmula 1, Rio de Janeiro, 27 a 29 de janeiro de 1978. 

Fórmula 1, mais uma vez

8 de março de 2010

No Bahrein, no próximo domingo, inicia-se mais uma temporada de fórmula 1.  E me perguntei há quanto tempo eu acompanho a fórmula 1 e por que durante tanto tempo eu “perdi o meu tempo” lendo a respeito, vendo corridas e buscando informações para saber mais. Certamente de longa data, uns quarenta anos pelo menos.  O porque, sei lá.   

Jim Clark, vencedor do GP dos EUA, 1966

A coisa começou com DKWs, Berlinetas, Binos e Fitti-Porsches.  Fórmula 1 era uma ficção trazida pelas AutoEsportes, lidos e relidos os textos detalhados das corridas, devoradas as estatísticas de voltas mais rápidas, vencedores de corridas e campeões …  Um mundo mágico de um  Jim Clark que a fórmula 2, que ironia, logo nos levaria.  Anos mais tarde aprendi que  “um simples canalha mata o rei em menos de um segundo”.  Dennis Hulme era o campeão.  Como podia aquela figura de anti-herói, um neo-zelandês, ser o campeão?  Como podia um carro chamado Brabham ser campeão?  Então não era uma Ferrari, Lotus, Mercedes, Alfa Romeu? Não, o campeão era um homem mais velho, na verdade Dennis Hulme apenas tinha cara de velho, sempre teve cara de velho, em um carro que levava o nome de um piloto australiano, Jack Brabham.  Um ano antes, o próprio Jack havia conseguido seu terceiro título, desta vez com seu próprio carro. 

Dennis Hulme, McLaren Can-Am

O grande Dennis Hulme partiu para a novata McLaren e continuou vencendo corridas de F1 e campeonatos na série canadense-americana, a Can-Am, com enormes carros com motores de 7 litros.  Na Europa, em esporte protótipos, os Porsches eram a grande atração.  Por muito tempo não teve pra mais ninguem.  Só dava Porsche modelos 907, 908, 917, enquanto as Ferraris estavam em uma má fase, não viam a cor da bola.  

Graham Hill, Monaco 1968

Na F1 tinhamos Graham Hill, o esteriótipo de um aristocrata inglês, talvez o último romântico da categoria, que também venceu em Indianápolis e Le Mans e  Jackie Stewart, o escocês que levou um carro francês a ser campeão do mundo em uma equipe inglêsa. 

Stewart, Matra-Ford: GP Holanda, 1969

Pedro Rodriguez, Jacky Ickx, o azarado Amon, Bruce McLaren (seus carros ganham até hoje), Beltoise, Cevert, John Surtees, campeão das categorias máximas sobre duas e quatro rodas (acho que foi  o único?),  Redman, Siffert, Pescarolo… 
Muitos ficaram pelo caminho, a F1 matava muita gente.  No ano em que o Brasil foi tri no México, Jochen Rindt foi campeão post morten.    

Quando o Emerson Fittipaldi ganhou as páginas de esportes dos jornais com uma vitória na F-Ford inglêsa eu já torcia por ele há muito tempo.   Anos depois, em 72,  um colega no cursinho de vestibular me fazia descrever a carreira do ídolo…na primeira pessoa.  Eu assinava contratos, explicava o que acontecera na corrida, como fiz certa ultrapassagem e, tão comum no início dos anos 70, qual foi o defeito que me tirou da prova .  A gente se divertia com isso, ajudando a diminuir a tensão do vestibular.  Naquele ano “eu ganhei cinco GPs e fui campeão mundial”.  Tive também o primeiro gostinho de ver as baratas da F1 acelerando em Interlagos.  A corrida foi muito ruim, não valia pelo campeonato e logo de início vários pararam.   No ano seguinte, 1973, Interlagos tinha o seu primeiro GP pra valer, com direito a vitória do Rato e boné do Colin Chapman voando. 

Interlagos, 1° GP do Brasil 1973

A presença de Emerson na fórmula 1 fez o Brasil despertar novamente para corridas de automóveis.  O locutor de rádio, acostumado com o futebol, lançou a seguinte pérola no auge de seu entusiasmo: ” e lá vão eles para a última volta do ponteiro“.  A telivisão passou a mostrar corridas e até o meu pai, que antes só reclamava da minha paixão incondicional, passou a ser fã das manhãs de domingos com  F1 na TV.  Torcemos muito pelos brasileiros. Por sinal, saudades do José Carlos Pace.

Não tenho o mesmo entusiasmo mas ainda gosto de ver corridas.  Dependendo do GP assisto ao vivo, apesar do chatíssimo narrador oficial e seu comentarista que  parece preferir servir-lhe apenas de escada.   Ou no VT a noite, quando invariavelmente durmo antes do final. Mas na primeira do ano estarei de cara para a TV, torcendo pelos brasileiros de sempre e pelos recém chegados.  Aliás, temo que esta turma nova não vai vingar. Torcer para o Rubinho também?  Claro que sim. E mais torceria se ele falasse menos.  Barrichelo é um exemplo de trabalhador.   Depois de tanto tempo ainda tem um empregão,  que muitos gostariam de ter.   

Jenson Button

Agora há muita informação disponível.   Mas certamente haverá garotos que , como eu no final dos anos 60, vão estranhar que um inglês quase  obscuro, esse tal de Jenson Button, seja o atual campeão pilotando uma Brawn.  E que diabos é uma Brawn?  O que???  Não tem mais Brawn esse ano??? Calma, você vai ter explicação pra tudo.  E daqui a quarenta anos vai lembrar mais disso do que das corridas de 2049.  

Eu ía falar das mazelas de um esporte corrompido por tramóias, espionagens, trapaças e comercialização sem limite.  
Como no futebol falou mais alto a paixão.  As novidades deste ano prometem.  Tenham todos uma ótima temporada. 

PS. Links para artigos relacionados:
Autódromo do Rio
Ídolos

Fotos: Jim Clark no GP EUA, 1966 (by Diskmix, Flickr Creative Commons); Dennis Hulme com McLaren Can-Am  (by Diskmix, Flickr Creative Commons); Graham Hill no GP de Monaco , 1968 (by Prorallypix, Flickr Creative Commons); Jackie Stewart no GP da Holanda, 1969 (by Prorallypix, Flickr Creative Commons); Grid em Interlagos GP do Brasil, 1973 (by Cariocadorio); Jenson Button (by Martin Baldwin, Flickr Creative Commons)

Autódromo do Rio

26 de dezembro de 2009

3 horas de Velocidade - Julho 1969

O antigo Autódromo Internacional do Rio de Janeiro (AIR), construído no mesmo lugar do atual “Nelson Piquet” que hoje agoniza,  foi palco de corridas memoráveis.   Eram tempos em que o automobilismo de autódromo era pouco mais que uma extensão das corridas nas ruas da Barra.  O público tinha acesso a locais perigosos, aos boxes e era praticamente impossível controlar.  No final dos anos 60 víamos passar pertinho os famosos da época.  O belíssimo protótipo Fitti-Porsche, que era rápido mas não terminava a corrida, os Mark I e Mark II (o famoso Bino) da Willys, Alfas Giullia e GTA,  BMWs, diversos fuscas, reminiscentes DKW, o Patinho-Feio, berlinetas Interlagos e tantos outros eram os  heróicos protagonistas.  No Rio de Janeiro eram famosos o Malzoni do Norman Casari e a Alfa vermelha do Mario Olivetti.  Houve até uma rara aparição da antiga carretera do Camilo Christófaro.

F.Ford, Fev 69; Emerson lidera, Allen, Luizinho e Ashley

Eram tempos de leitura obrigatória das AUTOESPORTE (a revista que acelera as emoções).  Não importava de que mês/ano.  Elas nos levavam à fórmula 1 distante, ao campeonato de marcas (Ferraris 512, Porsches 908 e os imbatíveis 917) e a série Can-Am.  Emerson Fittipaldi era apenas um jovem piloto que corria junto com Wilson, Luis Pereira Bueno, José Carlos Pace, Alex Dias Ribeiro e vários outros. 

F.Ford, Fev.69; Valentino Museti

A gente achava que Dennis Hulme, Jim Clark, Jack Brabham e Graham Hill eram mitos sobre-humanos.  Não sabíamos que muito em breve aquela trupe tupiniquim provaria que não tinha nada a dever aos gringos.   Melhor dizendo, faltava grana, coisa que eles tiveram que superar para chegar onde todos sabem. 

Em 1969, Emerson, recém-chegado de uma vistoriosa temporada na Inglaterra, participou da temporada brasileira de fórmula Ford.  Aqueles pequenos monopostos foram o início do caminho de vários pilotos brasileiros para a fórmula 1 e do própiro GP do Brasil da categoria. 

José Carlos Pace na Alfa P-33

Pouco depois o Rio de Janeiro viu as 3 horas de velocidade. Uma Alfa Romeu P-33, uma Lola T-70,  um protótipo nacional AC-1 que depois faria história, fizeram a primeira fila do grid.  Carros inacreditáveis no Rio de Janeiro.  Fiquei preocupado.  Poderão brasileiros pilotar estes carros?  Tolo coplexo de vira-lata…Ninguem menos que o saudoso José Carlos Pace levou a Alfa P 33 à vitória com facilidade.  

A construção do novo autódromo foi esperada com ansiedade pelo grupo de amigos aficcionados em automobilismo.  Este mesmo autódromo que o prefeito César Maia começou a destruir quando decidiu que a fórmula 1 não interessava ao Rio  em 1990 e decretou sua morte ao construir arenas do Pan no espaço do Autódromo (clique aqui para ver Barra da Tijuca 2017).

Este artigo saudosista nas últimas voltas de 2009 procura lembrar que centenas de jovens cariocas, como meus amigos nos tempos pré-Emerson Fittipaldi, em breve estarão órfãos de autódromo no Rio de Janeiro.  Espero que se cumpram as promessas de um novo autódromo em Deodoro ou onde seja.  Não precisa ser o melhor do mundo, nada de megalomania, apenas algum lugar decente e seguro para a prática do esporte no Rio de Janeiro.

 Fotos by Cariocadorio:  Fórmula Ford no Rio de Janeiro, Fev. 69;  Três Horas de Velocidade, AIR, Jun 69.