Naquela pequena aldeia vivia um padre que a todos ajudava. Era o representante de Deus, conselheiro, médico e tudo mais que o povo daquele lugar esquecido precisava. No dia do seu aniversário, os aldeões agradecidos o presentearam com uma placa que dizia:
“Padre que sabe tudo”.
A vida transcorria tranqüila até o dia em que o rei, que jamais havia sido visto por aquelas paragens, adentrou na única rua da pequena aldeia. Ao ver a placa em frente á igreja ficou indignado com a ousadia do padre. Como poderia alguém em suas terras dizer-se sabedor de tudo?
Mandou que chamassem o padre ao seu castelo. Se não respondesse corretamente a três perguntas que lhe faria o rei, seria condenado à morte na forca.
O anúncio dos arautos assombrou a aldeia. O sacristão pensou um plano. Como o rei jamais vira o padre, ele, o sacristão, o substituiria. Todos concordaram menos o padre, que não poderia deixar o sacristão sacrificar-se por ele. Mas o plano do sacristão incluía embriagar o padre na véspera da viagem e seguir em seu lugar mesmo sem seu consentimento. E assim fizeram.

No castelo, os nobres e os sábios do rei se reuniram para uma tarde de diversão às custas do infortúnio do padre. Sem mais delongas o rei iniciou a série de três perguntas:
“Quantas estrelas há no céu?”
“3.463.789.347.206”, respondeu sem titubear o sacristão.
“Como saberei se esta é a resposta certa”, reagiu o rei diante de tanta firmeza.
“Os sábios de Sua Majestade poderão contá-las e confirmar”, sugeriu o sacristão.
Os sábios preferiram concordar a admitir que não poderiam contar todas as estrelas do céu.
“Quantos cestos preciso para colocar toda a terra daquela montanha?”, disparou o rei.
“Apenas um cesto, majestade”, respondeu o sacristão.
“Quer dizer então que um único cesto poderá conter toda a terra daquela enorme montanha?”, insistiu o rei sob os risos zombeteiros da Corte.
Mantendo a calma o sacristão confirmou: “estou seguro de que sua majestade, caso assim o deseje, poderá mandar construir este único cesto do tamanho da mesma montanha e assim confinar toda a terra que nela se encontre.”
Os risos foram diminuindo enquanto o rei planejava uma terceira pergunta que logo proferiu:
“Muito bem, se quiser livrar-se da forca, o senhor deverá me dizer o que eu estou pensando”.
Fez-se o silêncio no castelo, onde a corte já simpatizava com a causa do padre. Desta vez a resposta demorou um instante a mais em chegar.
“Sua majestade está pensando que está falando com o padre que sabe tudo mas, na realidade, está falando apenas com o ajudante dele”.
Nos anais do reino não consta registro de qualquer enforcamento naquele ano de xxxx DC.