Na esquina da rua Senador Vergueiro com a Barão do Flamengo, em frente à praça José de Alencar, havia uma figueira. Uma não, cinco delas iniciamente, plantadas a mando do imperador. Como soe acontecer com as coisas da natureza, tudo tem seu tempo e talvez fosse mesmo o tempo de a última delas ir embora.
Nestes seus mais de cem anos de vida viveu intensamente a história do lugar. Ainda jovem, foi testemunha do assassinato de um senador, percebeu tramas sendo arquitetadas no sofisticado Hotel dos Estrangeiros, ouviu mentiras na mesa do bar e casais jurando amor eterno para, tempos depois, ali mesmo se despedirem. Viu sumir o rio Carioca, sobreviveu às obras do metrô bem aos seus pés, divertiu-se com José de Alencar tantas vezes mudando de lugar ao sabor do progresso, despediu-se do belo prédio do hotel dos Estrangeiros e lamentou o enorme bloco de concreto que puseram em seu lugar.
Não teve, enfim, uma vida monótona a imperial figueira. Mas confessava-se muito triste nas últimas décadas, cansada de tanta desordem na sua outrora requintada esquina. A bela árvore se foi mas não a distribuição de jornais em pleno trânsito, não o movimento de carga e descarga sob a placa de proibido estacionar, não a desordem que reina nesta terra de São Sebastião.
Que descanse em paz!
Fotos by Cariocadorio: R.Senador Vergueiro, a saudosa figueira e a desordem (Dez 2011 e Fev. 2012)