O antigo Autódromo Internacional do Rio de Janeiro (AIR), construído no mesmo lugar do atual “Nelson Piquet” que hoje agoniza, foi palco de corridas memoráveis. Eram tempos em que o automobilismo de autódromo era pouco mais que uma extensão das corridas nas ruas da Barra. O público tinha acesso a locais perigosos, aos boxes e era praticamente impossível controlar. No final dos anos 60 víamos passar pertinho os famosos da época. O belíssimo protótipo Fitti-Porsche, que era rápido mas não terminava a corrida, os Mark I e Mark II (o famoso Bino) da Willys, Alfas Giullia e GTA, BMWs, diversos fuscas, reminiscentes DKW, o Patinho-Feio, berlinetas Interlagos e tantos outros eram os heróicos protagonistas. No Rio de Janeiro eram famosos o Malzoni do Norman Casari e a Alfa vermelha do Mario Olivetti. Houve até uma rara aparição da antiga carretera do Camilo Christófaro.
Eram tempos de leitura obrigatória das AUTOESPORTE (a revista que acelera as emoções). Não importava de que mês/ano. Elas nos levavam à fórmula 1 distante, ao campeonato de marcas (Ferraris 512, Porsches 908 e os imbatíveis 917) e a série Can-Am. Emerson Fittipaldi era apenas um jovem piloto que corria junto com Wilson, Luis Pereira Bueno, José Carlos Pace, Alex Dias Ribeiro e vários outros.
A gente achava que Dennis Hulme, Jim Clark, Jack Brabham e Graham Hill eram mitos sobre-humanos. Não sabíamos que muito em breve aquela trupe tupiniquim provaria que não tinha nada a dever aos gringos. Melhor dizendo, faltava grana, coisa que eles tiveram que superar para chegar onde todos sabem.
Em 1969, Emerson, recém-chegado de uma vistoriosa temporada na Inglaterra, participou da temporada brasileira de fórmula Ford. Aqueles pequenos monopostos foram o início do caminho de vários pilotos brasileiros para a fórmula 1 e do própiro GP do Brasil da categoria.
Pouco depois o Rio de Janeiro viu as 3 horas de velocidade. Uma Alfa Romeu P-33, uma Lola T-70, um protótipo nacional AC-1 que depois faria história, fizeram a primeira fila do grid. Carros inacreditáveis no Rio de Janeiro. Fiquei preocupado. Poderão brasileiros pilotar estes carros? Tolo coplexo de vira-lata…Ninguem menos que o saudoso José Carlos Pace levou a Alfa P 33 à vitória com facilidade.
A construção do novo autódromo foi esperada com ansiedade pelo grupo de amigos aficcionados em automobilismo. Este mesmo autódromo que o prefeito César Maia começou a destruir quando decidiu que a fórmula 1 não interessava ao Rio em 1990 e decretou sua morte ao construir arenas do Pan no espaço do Autódromo (clique aqui para ver Barra da Tijuca 2017).
Este artigo saudosista nas últimas voltas de 2009 procura lembrar que centenas de jovens cariocas, como meus amigos nos tempos pré-Emerson Fittipaldi, em breve estarão órfãos de autódromo no Rio de Janeiro. Espero que se cumpram as promessas de um novo autódromo em Deodoro ou onde seja. Não precisa ser o melhor do mundo, nada de megalomania, apenas algum lugar decente e seguro para a prática do esporte no Rio de Janeiro.
Fotos by Cariocadorio: Fórmula Ford no Rio de Janeiro, Fev. 69; Três Horas de Velocidade, AIR, Jun 69.