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Cala a Boca, Galvão

16 de junho de 2010

Não é de hoje a crescente aversão àquele que já foi o melhor narrador esportivo da televisão brasileira.  Há alguns anos os cartazes do tipo “mostra nóis, Galvão” começaram a dividir espaço nas arquibancadas com os  “Fora Galvão”.  No início, os desavisados diretores de imagem da Globo chegaram a mostrá-los ao vivo.  No pan de 2007, uma sonora vaia tomou conta da arena de esportes quando o narrador levantou-se para cumprimentar o público achando que seria ovacionado.  

“O Globo” desta terça-feira publicou em primeira página que “A expressão Cala a boca, Galvão virou febre no twitter”.  Comentários a respeito estão em duas importantes colunas do jornal.  No site da Globo tem uma matéria (aqui)  onde o locutor diz rir da corrente “cala a boca, Galvão”.   Não pode ser por acaso esta superexposição.  A poderesa empresa acusou o golpe e usa a velha tática de unir-se ao inimigo quando não se pode vencê-lo.  Pretende com isso transformar em brincadeira ou factóide, um movimento que espelha honestamente o sentimento de uma grande parcela da população.  Na sua grande maioria, público da TV Globo.    

Não creio que a tática possa dar certo porque isso não é um movimento isolado.  A aversão ao Galvão Bueno não é fabricada por pessoas despeitadas que têm inveja do profissional.  Ela está nas ruas,  nos ambientes de trabalho e é impressionante em blogs especializados em fórmula 1.  Não é para menos.  Quem acompanha este esporte percebe que o narrador da Globo mente em nome de um ufanismo desnecessário e desagradável.  Desinforma, engana, diz quase o oposto do que se está vendo na tela.  Isso é inaceitável em um jornalista.

Mas o que teria acontecido para chegar a este ponto após tantos anos de televisão e sucesso? 

Preciso nas transmissões esportivas, o carismático Galvão Bueno se destacou na TV Bandeirantes narrando partidas de futebol e a fórmula 1 no início dos anos 80.  Sua competência o levou à rede Globo onde deu sequencia à sua vitoriosa carreira, cada vez com mais poderes dentro da mais poderosa empresa de midia do Brasil.  Infelizmente em algum momento este merecido sucesso lhe subiu à cabeça e o levou a se considerar acima do bem e do mal.  Nada menos do que o show em si mesmo.  Cada vez mais consciente da sua capacidade e popularidade, Galvão Bueno passou a tratar os colegas e o próprio esporte como coadjuvantes em seu próprio espetáculo.  Não é a toa que prefere se cercar de comentários insossos de Reginaldo Leme e Falcão, que não têm a força da comunicação, e a fazer de escada o seu comentarista de arbitragem. 

Sua arrogância e auto-suficiência são sentidas pelo telespectador.  Com as TVs por assinatura  cada vez mais disseminadas, inclusive pelas gatonets espalhadas pelo país (ontem no Rio estouraram uma com mais de 30.000 clientes), o telespectador tem mais opções.  As boas narrações da SporTV e da ESPN, menos afetadas e mais atentas ao esporte em si, ajudam a fazer comparações.  Isso aumenta a percepção do quão desagradável é a participação do narrador oficial da TV Globo atualmente. 

Todos perdem com esta situação, inclusive os telespectadores. Um pouco de humildade é fundamental.  Ninguém é tão bom que não possa ser derrotado ou substituído.  Afinal, o inferno está cheio de insubstituíveis. 

Foto:  Gavião, by Ana Cotta (Flickr, Creative Commons, Julho 2008)