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Intimidades num voo noturno

9 de julho de 2018

Marcello Senna ainda tinha esperança de que a poltrona da janela ao lado ficasse vazia quando a simpática moça com uma camiseta Carioca em forma de Coca-cola, pediu licença pra passar.

Cansado da semana de reuniões, Marcello bem que tentou evitar a conversa. Não conseguiu. Boas noites, obas e olás, ela não falava bem inglês, trabalhava no INPI e vinha de San Diego onde foi ver o namorado.  Marcello mais preocupado com o Sudoku inacabado na mesinha.

O papo seguiu e ela falou sobre os pais… que sua mãe, ainda nova, começou a sofrer com a perda da memória.  No supermercado a roubavam no troco, se perdia na rua … Marcello se interessou. Sabia bem o que era isso. Seu pai cuidara de tudo até o Alzheimer tomar conta logo após a perda da esposa. Desgraças a parte, riram bastante das situações tragicômicas dos seus idosos.

Dois largos bocejos, Marcello virou-se e dormiu suas quatro horas de praxe.  Acordou com a moça quase sentada no peito na tentativa de ir ao banheiro.  Tudo bem, já iam mesmo servir o café da manhã.

Perguntado Marcello falou da sua Estela e dos gêmeos que o esperavam no Rio. Foi então que Mariana, acho que era esse seu nome, se sentiu a vontade pra contar a história da sua vida.

O namorado, que fazia pós-doutorado em San Diego, era sua primeira recaída diante da raça de crápulas que são os homens.  Conheceu o ex-marido no parque infantil do Fluminense.  Depois estudaram no mesmo São Vicente de Paulo. Jovens profissionais, chegaram ao Instituto Nacional de Pesquisas Industriais, o INPI, na Praça Mauá.  Aí começaram o namoro e casaram alguns anos depois. Com muito bom humor, a carioca seguiu contando sua história para um agora interessadíssimo Marcello.

Três filhas em idade escolar depois, ela começou a desconfiar de alguma coisa.  Jogar um pequeno verde foi o suficiente pra colega de trabalho contar o que só ela no INPI parecia não saber. O sacana do marido não só teve duas “namoradas” depois de casado como uma filha com uma delas.  Pior, as duas trabalhavam no mesmo departamento de patentes que ela e a filha da outra frequentava as festinhas de aniversário em sua casa desde sempre.

Marcello não podia acreditar; meu Deus, esse cara é bom!, pensou.

Quem? Eu?

Certa noite, crianças dormindo,  chamou o marido na chincha.
Ele negou… era tudo mentira, queriam derrubá-lo da gerência, que podia explicar, que isso, que aquilo. Mas tava difícil, ela sabia até dos detalhes.    Ele insistiu que a amava, que queria seguir com a família, que isso não se repetiria…

Isso o que? …outra namorada?… ou seria outra filha?, se perguntava Marcello.

Finalmente o safado concordou em sair de casa.  Ela foi generosa e deu um mês pra ele arranjar um lugar. Passaram dois e o cara fingindo que as coisas estavam voltando ao normal. Ela deu um ultimato.  Ele tinha dois dias pra sumir de casa pra sempre.

O coitado, do fundo do seu sofrimento, ainda tentou argumentar:
“Mas por que é que você está fazendo isso comigo?”

 

Fotos: Flight CO-092 (Maio 2010, by Cariocadorio);  Quem, eu?  (Maio 2010, EP, by Naj Olari, Flickr Creative Commons)

Nota: baseado no post “Houston-Rio CO-092” de 30 de outubro de 2010.

Praça Mauá, o caos continua

22 de maio de 2011

Esta semana colocaram mais uma placa do Porto Maravilha, esta bem no meio da Praça.  Apesar do tão propalado projeto, a Praça Mauá continua sendo uma pocilga fétida no centro do Rio de Janeiro. 

Travessa do Liceu

Dinheiro para museus de utilidade duvidosa e um super terminal para navios de cruzeiro não falta.  Mas simplesmente colocar um pouco de ordem onde milhares de pessoas caminham diariamente parece que não dá o retorno político desejado. 

A tela n'A Noite

A tela n'A Noite

Para passar pela Travessa do Liceu é necessário um exercício de alienação ao entorno. As barracas de camelôs, alguns legais e vários de De VDs piratas, “coberturas” de plástico, buracos cheios de água são apenas algumas das dificuldades no local. 

A travessa é um beco atrás do edifício “A Noite” cuja reforma nunca termina simplesmente porque nunca começa.  Há um ano renovaram a tela e o madeirame mas já está tudo deteriorado de novo como se pode fazer na foto. 

Será que isso vai seguir assim até acontecer um grave acidente? 

Mais adiante, na própria praça, a ocupação da calçada é de toda ordem. Tem barraca de frutas, mesas e cadeiras do restaurante, um inacreditável estacionamento, estantes da loja que tem de tudo, guarita de ônibus, banca de jornais, barraquinha de chaveiro e buracos no chão, muitos buracos.

Siga mais um pouquinho e chegue na Av. Venezuela.  Ali o esgoto, muitas vezes na cor característica, aflora pelo menos uma vez por semana, exalando o odor característico e  causando prejuízos ao restaurante em frente ao bueiro. 

Av. Venezuela x Pr. Mauá

Esgoto aflora na claçada

 
Em outubro de 2009, já falávamos no problema de abandono da Praça Mauá neste post aqui. A situação não mudou muito assim como não é muito diferente em diversos outros lugares do centro do Rio.  Muitas vezes a solução é simples mas coisas simples não valem a pena resolver.  Tem pouco dinheiro envolvido e pouco retorno político.

Fotos
 by Cariocadorio, abril, maio 2011

Houston – Rio, vôo CO-092

30 de outubro de 2010

Graças ao cartão de milhagem de luxe gold platinum, Marcello Senna foi um dos primeiros a ocupar sua poltrona apertada na área destinada à classe plebe rude.   Não se usava executiva na sua multinacional brasileira.  Apesar dos preços exorbitantes, o vôo  Houston – Rio da Continental Airlines parecia cheio naquela sexta-feira.  No fundo uma esperançazinha de que a poltrona ao lado ficasse vazia.  Até que a moça com uma camiseta escrita Carioca em forma de Coca-cola sentou-se na janela ao seu lado.

Cansado da estafante semana de reuniões, Marcello não estava lá pra muita conversa. Mas não pode evitar. Pouco versada no idioma de Barak Obama a carioca estava feliz por encontrar alguém da terrinha. Depois dos obas e olás, de onde vem pra onde vai, a conversa chegou rapidamente na família.  Tantos filhos, esposa assim, ex-marido assado, ela trabalhava no INPI e vinha de San Diego onde foi ver o namorado.  Marcello não entendeu direito, estava mais preocupado com o Sudoku inacabado na mesinha.

O papo continuou durante o jantar, sobre os pais de ambos e com Marcello mais interessado.  Ela contou que sua mãe, que tanto cuidara da neta mais velha,  começou a sofrer com a perda da memória.  Era roubada  no supermercado onde a enganavam no troco, se perdia na rua …

Marcello sabia bem o que era isso. 
Seu pai cuidara de tudo até o Alzheimer tomar conta logo após a perda da esposa.  De homem educado e marido atencioso tornou-se um velho impossível.  Esquecia-se de tudo, até de que um homem não pode fazer certas coisas naquela idade.
Marcello  já não sabia mais o que fazer e muito menos as cuidadoras que não conseguiam se safar dos assédios.  Teve que despedir uma delas que gostou da brincadeira e dos pequenos favores financeiros que se auto-outorgava.

O neurologista recomendou terapia musical e atividades em um lar de idosos.  Assim foi feito, mas o incorrigível foi convidado a não voltar lá na semana seguinte.  As velhinhas não podiam com ele. Na sua versão ele “só dizia uns galanteios”.  O que ele não contava, até porque não se lembrava, é que aos galanteios somavam-se bolinações.

Dois largos bocejos, Marcello virou-se e dormiu suas quatro ou cinco horas de praxe.  Acordou com a moça quase sentada no seu peito na tentativa de ir ao banheiro.  Tudo bem, já iam mesmo servir o café da manhã.

Desgraças a parte, o fato é que riram bastante das situações tragicômicas dos idosos.  A carioca tinha um ótimo senso de humor e filhos uns dez anos mais novos que os do Marcello, que continuava meio encafifado com a história do namorado em San Diego.

Quando Marcello acabou de falar da sua Estela e dos gêmeos, a moça se sentiu a vontade para contar a verdadeira história da sua vida.  O cara em San Diego, brasileiro já perto de voltar pra casa, era sua primeira recaída diante da raça de crápulas que são os homens.

Conhecia o ex-marido desde o parquinho do Fluminense.  Estudaram no mesmo São Vicente de Paulo onde se viam de vez em quando.  Jovens profissionais, por caminhos diferentes chegaram ao mesmo departamento do Instituto Nacional de Pesquisas Industriais, o INPI na Praça Mauá.   Casaram alguns anos depois. Com muito bom humor seguiu contando sua história para um agora interessadíssimo Marcello Senna.

Três filhas em idade escolar depois, a carioca começou a desconfiar de alguma coisa.  m pequeno verde foi o suficiente para a colega de trabalho contar tudo ou, pelo menos, muita coisa. O tudo mesmo ela foi sabendo aos poucos.  O sacana do marido não só teve duas namoradas firmes depois de casado como uma filha com uma delas.  Pior, as duas trabalhavam há anos no mesmo departamento de patentes que eles. Com idade parecida com a da sua menorzinha, a filha da outra freqüentava as festinhas de aniversário em sua casa desde sempre.
Marcello pensava, “meu Deus, esse cara é bom!”.

     Quem? Eu?

Certa noite mandou as meninas pra casa da mãe e chamou o marido na chincha.
Ele negou… era tudo mentira, queriam derrubá-lo do cargo de gerente, que isso e aquilo. Mas tava difícil, ela sabia de tudo, ou quase tudo, com detalhes.    Ele insistiu que a amava, que queria seguir com a família, que isso não se repetiria…
(“Isso o que? …outra namorada?… outra namorada no departamento?…ou seria outra filha?…”, pensava o meu incrédulo amigo).
No final concordou em sair de casa.  Ela foi generosa e deu-lhe um mês pra arranjar um lugar.

Passaram-se seis semanas e o cara fingindo que as coisas estavam voltando ao normal. Ela deu-lhe um ultimato.  Ele tinha que sair em dois dias.
O coitado, do fundo do seu sofrimento, ainda tentou argumentar:
“Mas por que você está fazendo isso comigo?”

Photos: Flight CO-092 (Maio 2010, by Cariocadorio); My Mom’s Hands (13/01/08, by Ann Gordon, Flickr Creative Commons);  Quem, eu?  (Maio 2010, EP, by Naj Olari, Flickr Creative Commons)

Praça Mauá, a degradação

28 de outubro de 2009
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Pr. Mauá x R.do Acre

Alguém pode se lembrar das casas noturnas da Praça Mauá que, por sinal, abrem a qualquer hora do dia se houver cliente. Não se preocupem, elas estão ali desde sempre e fazem parte do folclore da área. Não incomodam.

A degradação é fruto do abandono e da irresponsabilidade que vêm de longe.  A praça em si é ocupada por moradores de rua.  As calçadas por camelôs, tendas de frutas, puxadinhos de lojas e bares, guaritas de empresas de ônibus, lanchonetes a céu aberto com  TV e sujeira pra todo lado.  Além disso, mais que ocasionais vazamentos de esgoto, que afloram pelos bueiros das calçadas, e bancas de jornais mal instaladas fazem caminhar ali um inferno.    

Parece que o plano de revitalização da zona portuária,o Porto Maravilha, vai resolver tudo isso.  Mas o que se constrói maravilhoso não permanece assim se não for mantido com o mesmo fôlego empreendedor com que foi concebido, executado e inaugurado por políticos e empreiteiras.  

 

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Palácio D.João VI em ruínas

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"A Noite" Tr.do Liceu x R.do Acre

Cuidar da Praça Mauá poderia ser muito mais fácil e simples.  Bastaria remanejar os pontos de ônibus e táxi para a Sacadura Cabral e fazer, como está na moda,  um mini choque de ordem. Mas não, isso não daria voto pra ninguém.  Deixa acabar pra obra ser grande.

O maior símbolo da degradação é o estado de ruína de prédios históricos como o palácio D. João VI e o edifício “A Noite”. Este que foi o maior arranha-céu da América Latina,  abrigou as rádios que marcaram época na cultura brasileira e hoje é a casa de uma instituição da importância do INPI.   Vejam nas fotos.

A “marquise” de madeira está aí no prédio há vários anos, sem que obra alguma tenha sido feita há outros tantos.  Antes desta, outra que chegou a similar estado de deterioração. Não se trata de um local ermo, abandonado.  Por aqui passam milhares de pessoas diariamente.  É inacreditável.  Se um transeunte se ferir, pra falar o mínimo, alguém será resposnável por isso?  Quem? O síndico do prédio, a prefeitura , o segurança da portaria ou o próprio incauto cidadão ? 

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Entrada do Edifício "A Noite"

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"A Noite" Tr. do Liceu

Se for pra escolher entre um e outro, resolva-se primeiro o que causa risco a vida e, depois , os problemas estéticos.  Pra certas coisas não precisa muito dinheiro, apenas um mínimo de responsabilidade

Diante da real possibilidade de levar com um sarrafo de madeira na cabeça,  escorregar no cocô não  é a pior coisa do mundo para o cidadão que transita pela nossa Praça Mauá.

 

Fotos by Cariocadorio: Pr.Mauá x R.do Acre (outubro de 2009); Palácio D.João VI em ruinas (outubro de 2009); “A Noite ” Tr. do Liceu x R.do Acre (outubro de 2009); “A Noite ” Tr. do Liceu (outubro de 2009); 

Praça Mauá, o Renascer

27 de outubro de 2009

Um novo Rio de Janeiro está nascendo. 

Placa Porto Maravilha

Mais uma vez o berço deste novo Rio de Janeiro é a Praça Mauá.  Antes mesmo de a Cidade ser escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 2016, a prefeitura anunciou, com muita pompa e circunstância, o seu plano para a zona portuária do Rio de Janeiro.

Não são poucos os exemplos de como um porto desativado pode se transformar em uma área de atração turística e pólo de negócios. Barcelona, Buenos Aires e até a nossa Belém são exemplos do sucesso destes empreendimentos.  Certamente será ótimo para o Rio de janeiro também.

A primeira obra prima foi esta placa colocada em frente ao pier Mauá.  Ela tem 40m de comprimento e ostenta cerca de 20 refletores para iluminação.  A noite dá pra ver desde o monumento dos pracinhas.  Bom começo, embora olhando lá de cima ainda não dê pra ver muito trabalho atrás da placa.  

091024 Pier Mauá AR

Esta primeira fase da obra deve durar um ano. Mais uma vez coloco a esperança na frente das preocupações e quero acreditar que o resultado será belíssimo. 

Há mais de dez anos acompanho com muito interesse iniciativas de revitalização do porto do Rio.  Projetos que com o mesmo furor que surgem desaparecem da mídia. O anterior a este tinha a assinatura do ex-prefeito das obras mal-vindas, com direito a um faraônico Gugenhein.  Todos estes planos e projetos têm uma coisa em comum: a grandiosidade.

091024 Ed A Noite Pr MauaTudo bem, há muito mérito em pensar grande, planejar uma revolução urbanística que possa ser implementada pouco a pouco e que transforme toda a região em um novo cartão postal da cidade.  O plano atual, chamado de Porto Maravilha, não fica atrás.  Tem a seu favor o incentivo da copa do mundo e dos jogos olímpicos.   Torçamos por ele.

Enquanto torcemos pelo  futuro, não podemos deixar de lado as preocupações com o presente e questionar as razões de termos chegado a este ponto.  Do contrário o futuro leverá novamente à situação atual, muitos milhões de dinheiros depois.

Da próxima vez a gente vai olhar de perto a triste realidade que esta foto do edifício “A Noite” , visto de longe na praça, não pode mostrar. 

Fotos by Cariocadorio:  A Placa do Pier (16 de outubro de 2009); Píer Mauá AR (16 de outubro de 2009); “A Noite” da Praça (24 de outubro de 2009) 

Praça Mauá

25 de outubro de 2009

A Praça Mauá,  do berço do Rio de Janeiro, da Pedra do Sal, do Morro da Conceição, do Mosteiro de São Bento, do edifício ”A Noite”, do Porto do Rio, da Polícia Federal, da Rodoviária inter-municipal, do píer … de um passado mais glorioso que o presente.

Tenho tanto para falar sobre isso que não sei por onde começar.  Acho que me meti nesta história de blog particularmente para falar sobre a Praça Mauá.  Começo, portanto, com esta foto, que diz muita coisa. Quem sabe assim fica mais fácil pra continuar depois.  Com certeza este será um assunto recorrente neste espaço.  Ainda mais com os planos do Porto Maravilha.

Pr Maua 091016

Nuvens Negras sobre a Praça Mauá

 Foto: Praça Mauá, by Cariocadorio (outubro de 2009)