Na mesma tarde em que Cielo ganhava apenas o bronze em Londres aconteciam algumas situações interessantes:
- Os campeões olímpicos do vôlei de praia, os norte-americanos Rogers e Dalhausser, perderam para uma pouco votada dupla italiana e estão fora.
- No estádio olímpico, na primeira tarde do atletismo, o panamenho Salinas campeão em Pequim, nem passou no corte do salto em distância.
- Chamou atenção o carinho dos ingleses com as suas representantes nos dez mil metros. As duas deram a volta olímpica sob calorosos aplausos após terminarem nas 7ª e 8ª posições na prova.
A surpreendente saída dos americanos não causará dano ao desempenho da maior nação do planeta enquanto que para o Panamá a desgraça olímpica está sacramentada. Mas o que tem o Cesar Cielo com isso?
A situação dos nossos atletas é parecida com a do panamenho. São poucos os que têm chance de ganhar. Uma característica bem brasileira é querer que nossos desportistas sejam heróis nacionais e que nos redimam de toda a desorganização social e vergonha política que nos levam a desempenhos pífios como nação, não só no esporte.
O desempenho brasileiro nas olimpíadas é proporcional ao desempenho tecnológico, científico e social do país. Enquanto nos EUA todas as crianças vão à escola e lá recebem boa educação e praticam esportes desde o primário até a universidade, aqui não damos a mínima para a isso. Tem sido assim desde a ditadura dos anos 60 e 70 até o governo de esquerda do século atual, passando pelos liberais dos anos 90. Governo algum deu real prioridade à educação.
Enquanto os gringos dão condições a todos mas premiam os melhores e mais ainda os fora-de-série, aqui fazemos tudo para nivelar por baixo. Em vez de educar desde o início para permitir que todos possam disputar em igualdade o acesso aos cursos superiores, fazemos, através das “cotas”, que gente despreparada alcance a universidade, o que prejudica o desempenho de todos.
Não adianta colocar dinheiro e esperar que a grana se converta em medalhas. Estas são conseqüência de um trabalho de base, junto com a educação. Só com massificação se pode gerar e identificar talentos na qualidade e quantidade necessárias. Isto vale para o esporte e, principalmente, para o desenvolvimento tecnológico e social do país.
Sem isso continuaremoa a ter apenas um Cielo aqui e um Nicolelis ali e, sobre estes poucos, o enorme peso de carregar um Brasil nas costas.
O único que tem direito de achar que fracassou porque não chegou em primeiro é o próprio Cesar Cielo. Aqueles que pouco fazem para tornar este um país de primeira linha têm mais que dar-lhe os parabéns pela conquista. Não é nada fácil chegar lá.
Fotos: Sarah Menezes (site Exame.com), Medalhas Olímpicas (site zupi.com.br)