Posts Tagged ‘Rio’

A Falta que Faz

16 de janeiro de 2018

Começa hoje o campeonato carioca. O carioca do Rio de Janeiro transcende os limites da cidade, do estado e ocupa um Brasil com centenárias rivalidades.     Em Manaus, Salvador ou Juiz de Fora, discute-se o campeonato carioca.

Que importa se os Patriotas do marido da Gisele vão ganhar de novo ou se os Cavaleiros de Cleveland vão destronar os Guerreiros do Estado Dourado?  Parece ridículo mas os nomes são esses mesmos. Isso lá são nomes de times?  Estamos de acordo que não dá pra comparar com Flamengo, Vasco da Gama, Botafogo, Fluminense … ?

Os políticos do esporte fazem tudo para estragá-lo e dar razão aos que querem o fim do estadual.  Pode um campeonato “começar” com grupos B e C, ter 6 semifinais e 3 finais?

Os que querem o fim dos estaduais não sabem a falta que faz torcer pelo que é nosso.  É torcer pelo time da sua escola, pelo time da sua rua contra o do outro bairro, pelo seu time.

E como faz falta o América, cinco vezes campeão carioca. Lá em casa eram todos América. Pequena ovelha negra, rubro-negra, lembro dos velhos e meu irmão comemorando o campeonato carioca de 1960.

Pensando bem, o que faz falta mesmo é gente, amigos, família.  São as pessoas que dão sentido ao que chamamos de nosso.  Pessoas de quem um dia sentiremos falta, pois muito pior seria não ter de quem sentir falta. Sentir saudade, uma saudável saudade.

Que comece o carioca. E que vença quem ganhar!

Foto by Cariocadorio; “América rubro-negro”, 16/01/18

Meu Amigo Justino

19 de dezembro de 2017

O que chamou sua atenção foi um princípio de bulling lá pelo terceiro ano ginasial (só aprendemos que essa velha maldade se chama bulling recentemente, graças aos americanos).   Sempre tinha alguém pra pegar no pé e ficar sacaneando em grupo.  Muito alto,  quatro-olhos ou meio tímido, qualquer diferença era motivo.

No caso do Justino não foram os óculos com lentes fundo de garrafa nem o nariz entortado pra esquerda. Tampouco por ser vascaíno, coisa rara na zona sul do fim dos anos 60.   Foi por conta do nome que o Justino teve seu tempo de “pele” daquela turma do Pedro II.  Eram muitos Eduardos e Paulos, vários Luiz Alguma Coisa mas Justino, só ele.  Mais, nas listas de todas as turmas do colégio coladas no vidro do refeitório só aparecia um Justino.  Ele.

Por que? Não tinha parentes próximos nem algum Justino famoso que justificasse.  Por alguma razão, respeito talvez, nunca perguntou aos pais. Naquele tempo tinha esse negócio de respeitar os mais velhos.  A zoação (esta aprendemos com os paulistas) passou e o Justino não tocou mais no assunto.

Na terça passada entrei no Paglia e Fieno mais tarde que o habitual.   Estava vazio, retrato da crise. No fundo do restaurante três homens de terno aguardavam o almoço. O cara junto à parede parecia familiar. Caramba, desde os tempos do vestibular, fazia mais de 40 anos.  Minto, na verdade foi depois, no pilotis da PUC. Ele cursava Direito e eu Engenharia.  Ainda assim, mais de 40 anos. Seria ele mesmo?

Fixei o olhar. O nariz meio torto pra esquerda dirimiu as dúvidas.  Me dirigi célere até a mesa. De repente um dos homens levantou-se e se interpôs com firmeza.  Estanquei assustado, percebi que o outro buscava algo no paletó e instintivamente levantei as mãos.

O que me salvou não foi o nariz torto do Justino, mas o meu próprio nariz arrebitado.   O homem junto à parede freou os outros dois com um gesto, abriu um sorriso pra mim e falou:

— Batata???

Era eu.  Era o Justino.  O do nariz meio torto e o do nariz de batata da turma do ginásio.

Sentei-me à sua frente e nos 40 minutos seguintes atualizamos os últimos 40 anos de nossas vidas.  Ele já tinha seis netos dos quatro filhos, todos meninos e eu na primeira netinha, Helena, recém-nascida.  De como fui parar em Londres e por lá fiquei tantos anos.  De como ele ficou no Rio e seguiu a carreira no ministério público. De repente me lembrei da história do nome.

Com brilho nos olhos, Justino contou que há pouco tempo, revirando as heranças do pai, encontrou o diploma do bisavô de quem nunca tinha ouvido falar.  O documento tinha mais de metro, uma fita verde e amarela perfeitamente conservada e dizeres mais ou menos assim:

FACULDADE DE DIREITO DA CIDADE DO RECIFE

Eu, Fulano de Tal, tendo presente o termo de aptidão ao Gráo de Doutor obtido pelo Sr. Justino Resende de Sá e Oliveira, natural do Rio de Janeiro, filho de José Francisco de Sá e Oliveira, nascido no dia 2 de agosto de 1861… pelos poderes que me são outorgados…

…Mando passar ao dito Senhor, esta Carta de Doutor em Ciências Jurídicas para que com ella gose de todos os direitos e prerrogativas das Leis do Império.

Por ordem de D. Pedro Segundo
Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil  
Recife, 18 de novembro de 1885.

Sabe os amigos do Justino que quase me matam de susto?

Seguranças…  Recentemente, o meu amigo Justino, aliás,
V.Ex.a, Meritíssimo Juiz Dr. Justino Ventura de Sá e Oliveira,
colocou dois conhecidos políticos cariocas pra ver o sol nascer quadrado lá em Benfica.

Muito obrigado meu amigo.  Seu nome é o que tinha mesmo que ser.

 

Foto by Cariocadorio
Nota:  Esta é uma obra de ficção.  Qualquer semelhança com personagens e fatos reais terá sido mera coincidência. 

Hora de torcer pelo Rio

1 de agosto de 2016
O Rio Olímpico

O Rio Olímpico

Já basta alguns gringos quererem nos desmoralizar.  Como se eles não tivessem seus próprios problemas, seus atiradores psicopatas, o terror em suas cidades, suas histórias de violência e erros. Não vamos fazer coro a interesses mesquinhos.

Para os que vem aqui para competir ou se divertir, tapete vermelho e o nosso maior carinho.  Mas que não esperem uma Olimpíada suíça porque isso aqui é o Brasil.  É o Rio de Janeiro com seu pacote completo.  Vejam a parte meio cheia do cálice.

Não é vergonha querer que os Jogos sejam um grande sucesso.  Já que começou, melhor que termine bem porque só assim será bom pra nós, brasileiros.
Cariocas de todo o Brasil;  agora é hora de curtir as Olimpíadas, é hora de torcer pra dar certo.

 

PS: Depois a gente volta a reclamar da falência do Estado, das bobagens do Prefeito, das mal acabadas obras, das roubalheiras do Congresso e de tudo mais que a gente tem direito. 

 

Rio de Janeiro, a Cidade do Amanhã

1 de janeiro de 2016
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A Cidade do Amanhã

Sou obrigado a reconhecer que os cariocas, nascidos ou não no Rio de Janeiro, somos uns mal-agradecidos.  Não contentes em viver numa cidade de beleza incomparável, cuidadosamente talhada entre montanhas verdes e mares azuis, ainda queremos ter segurança, escolas e hospitais que funcionem.

É verdade que não se pode passar em certas vias públicas a tantas horas do dia sob o risco de aumentar a probabilidade de assalto dos normais 48 para inaceitáveis 92,5%.  Também é verdade que às vezes algum incauto fica doente sem que haja UPA que o atenda, ou que uma grávida inescrupulosa decida dar à luz na hora da troca de turno.  Particularmente quando o governo não pagou ninguém e o hospital não tem médico em turno algum pra fazer a troca.

Mas não se pode querer tanto quando se tem a Quinta da Boa Vista, o Pão de Açúcar, a Floresta da Tijuca, as praias do Leme ao Pontal, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Jardim Botânico, a nova Praça Mauá, e vou parar por aqui se não acabo esquecendo do Cristo Redentor, com seus braços abertos sobre a Guanabara.

Há que escolher entre uma cidade maravilhosa e um governo que preste.  O fato é que, antes mesmo de 1° de março de 1565, o carioca já havia feito a sua opção pelo belo.  Mais do que isso é descabida ambição.

Foto by Cariocadorio: Cidade do Amanhã, dezembro de 2015

Nota: baseado em crônica de Machado de Assis (15/09/1876)

Árvore de Natal da Lagoa, 2014

26 de dezembro de 2014

A árvore de natal da Lagoa Rodrigo de Freitas já é uma tradição no Rio de Janeiro.

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Árvore de Natal da Lagoa, 2014; primeiro o sol do anoitecer

Todos os anos, ou quase todos, lá vou eu tentar fotografá-la com um equipamento vagabundinho. Um celular Blackberry, um I-phone ou uma câmera Sony que cabe na palma da mão.

Padrões de luzes e cores mas só a partir do finzinho da tarde

Eu me esforço, prendo a respiração, tento me lembrar de tudo que em um passado distante li sobre fotografia.  Não tem jeito, sai sempre meio tremido.

Em tons de azul, a cor mais quente

Mas eu gosto assim mesmo.  Um dia eu compro uma daquelas câmeras bacanas, como a saudosa Nikon FB-10 que está esquecida no alto de um armário.  Só que moderna, digital, quem sabe até uma semi-pro… Talvez quando eu me aposentar.  Não falta muito, eu acho.  A coisa anda passando cada vez mais rápido.

Panorama da Lagoa Rodrigo de freitas

Panorama da Lagoa Rodrigo de Freitas

Espero ter mais fôlego para escrever no próximo ano.  Isso mesmo, fôlego, porque não posso alegar falta de tempo.
2014 não foi ruim…Também não foi tão bom assim (se me permite o Lulu Santos).

Por falar nisso… Que 2015 seja formidável para todos.  
Muita saúde, muito amor e felicidade. 

Fotos by Cariocadorio (novembro de 2014).

Árvore de Natal da Lagoa, o Lado B

30 de novembro de 2014

uruguay e lagoa 031A árvore de natal da Lagoa desperta os mais variados sentimentos.  Do amor pelo espírito natalino ao ódio mais primitivo de quem se vê usurpado de seus direitos de cidadão.  Este último é o tema deste ano.

Por que a má vontade? Simples; as pessoas têm sua rotina destruída por mais de um mês.  A ciclovia fica cheia de gente atrapalhando os que por ali se exercitam.  O trânsito se torna caótico e como se não bastasse, os moradores que estacionam seus carros no canteiro central das avenidas o ano todo ficam impedidos de fazê-lo.  E nem pensar em receber a visita de familiares para uma festa de natal.

Borges de Medeiros - proibido estacionar!

Borges de Medeiros – proibido estacionar!

É proibido estacionar em toda a volta da Lagoa, mesmo que no lado oposto ao da árvore.  Se fosse por um fim de semana, tudo bem, mas é por mais de um mês.

131208 iphone 018Resumindo, a árvore de natal da Lagoa é um suplício para os milhares de moradores da região que, por sinal, pagam dos mais caros IPTUs do Rio.  Tudo é feito para beneficiar quem não mora ali, às custas do seu sofrimento.

Quem sorri de orelha a orelha é o fabricante de cones.

Afinal, é justo fazer uma festa (com propaganda e incentivos fiscais para um banco) em detrimento do direito de muitos?

Fotos by Cariocadorio: Novembro de 2013 e novembro de 2014.

Clique aqui para ver fotos e posts sobre a árvore de Natal da Lagoa desde 2009.

Porto Maravilha – Praça XV sem Perimetral

4 de outubro de 2014
Praça XV

Praça XV de Novembro

Saída do Mergulhão

Saída do Mergulhão da Praça XV

Tribunal Marítimo e Centro Cultural da Marinha

Av. Alfredo Agache, à continuação

Seguem as obras na Praça XV.  No trecho de onde já foram removidos os escombros da Perimetral pode-se ter uma ideia de como ficará o local.  As fotos foram tiradas do prédio da Bolsa de Valores (o que aparece com um heliponto azul na foto abaixo).

Os prédios do Tribunal de Justiça e do Hospital Maternidade continuarão impedindo a vista para o mar. Na sequencia, o Tribunal Marítimo aparece de forma mais harmônica  com a paisagem.

Google Mapas, ainda  com a Perimetral

Google Terra, ainda com a Perimetral

Fotos by Cariocadorio: Praça XV e Av. Alfredo Agache (sembro de 2014);
Vista de cima do Google Terra.

Hora de torcer pro Brasil

8 de junho de 2014

É claro que aquela senhora não acredita no que disse.  Aquela, de invejável pedigree, que trabalha no COL.  Todos sabemos que ainda há muito para ser roubado. Mas … voltemos a este assunto depois da Copa?

140608 copa no Rio

Agora não importa se a economia vai muito mal, se a mistura de político brasileiro e dirigente da FIFA deu neste descalabro, se a vitória pode beneficiar este ou aquele partido, se passamos atestado de incompetência e tudo mais.

A Copa (a de todos, não a da FIFA) é um maravilhoso encontro de nações. Agora é hora de receber em paz os que nos visitam em paz. É hora de assistir um dos maiores espetáculos do planeta.  Agora é hora de dar uma trégua e fingir que a gente acredita que “o que tinha que ser roubado já foi”.

Agora eu vou me enrolar na bandeira brasileira e
torcer para o Brasil.

Foto: cartão postal do Banco Itau

Perimetral, a demolição em 2 tempos

23 de abril de 2014
Remoção de escombros na Praça Mauá

Remoção de escombros na Praça Mauá

Há alguns anos critico esta obra faraônica que seria normal se fossemos uma economia como a dos Emirados Árabes.  Ainda acho que haveria alternativas para não demolir o elevado da Perimetral.  Mas não há mais espaço para reclamar porque a coisa está no chão.  Agora só resta torcer para que o Porto Maravilha faça juz ao nome.  

Antes da implosão

Antes da implosão

Depois da implosão

Depois da implosão

Pré-perimetral, circa 1965

Praça Mauá; pré-perimetral, pré-ponte, circa 1965

Houve um tempo, nem tão longínquo assim, que não havia Perimetral.  Aí sim, deveriam ter seriamente pensado em não construí-la.  Mas era tempo de Brasil Grande… 

A boa notícia é que o prefeito Eduardo Paes e sua equipe agora partirão para demolir o elevado da Paulo de Frontin e revitalizar o Rio Comprido e a Tijuca. Seria de um propósito ainda mais nobre: devolver à região a tranquilidade que lhe foi roubada há quatro décadas.  

Escombros da Perimetral

Escombros da Perimetral

Fotos atuais by Cariocadorio (i-phone – abril 2014) ;
Foto antiga: Praça Mauá circa 1965, obtida na internet (Site Portogente, Julio A.R. Reis)

A estátua do Bellini

21 de março de 2014
A estátua do Bellini, 1969

A estátua do Bellini, 1969

Uma geração de jogadores de futebol, que com todo o mérito nos tornou um povo de “mascarados”, vem se despedindo de nós.  Esta semana Hilderaldo Luís, o Bellini, capitão de 1958, partiu ao encontro dos colegas Gilmar, Djalma, Nilton Santos, Garrincha (o segundo maior jogador de todos os tempos para desespero de Maradona) e outros.

Pelé, o caçula da turma, Zagalo e alguns mais seguem firme conosco.  Que seja por muito tempo.

Bellini foi o primeiro a erguer a taça Jules Rimet sobre a cabeça. Símbolo maior da conquista de 1958 na Suécia, este gesto foi desde então repetido por todos os campeões do mundo.  Nosso capitão foi homenageado com uma estátua na entrada principal do Maracanã.  A estátua do Bellini passou a ser o ponto de encontro dos torcedores que combinavam assistir juntos as partidas no antigo Maracanã.

A gente se encontra na estátua do Bellini

Naqueles tempos de um Rio de Janeiro mais tranquilo, a estátua do Bellini era o ponto de encontro entre as zonas norte e sul mesmo quando não se tratava de ir ao Maracanã.

Na foto, a equipe carioca de basquete infantil de 1969 junto à famosa estátua antes de iniciar a viagem de ônibus para Feira de Santana na Bahia.  Lá disputaríamos o campeonato brasileiro de seleções. Mas esta é outra história. Qualquer dia eu conto.

Ao Bellini e seus capitaneados, o agradecimento de uma geração que, graças a eles, cresceu campeã do mundo.