Posts Tagged ‘tolerância’

O Cinto de Segurança e o Futuro do Brasil

21 de maio de 2017

Entrar no carro e colocar o cinto de segurança é quase automático.

Mas não foi sempre assim. Só em 1994 o cinto passou a ser obrigatório no Brasil.  Apesar de sua capacidade de salvar vidas, somente após muita propaganda e, principalmente, multas para infratores, o cinto passou a ser efetivamente usado. Hoje a maioria se sente nu sem ele no carro. Já está no DNA, os jovens nem sabem o que é não usar.

Não nascemos sabendo viver em harmonia, respeitando leis e os demais.  É preciso educar e disciplinar.  E isto não se faz com excesso de bondade e tolerância. É preciso punir, rigorosamente se necessário, por um bem maior.

Minha esperança, minha ambição, é que a história recente do cinto de segurança se repita em Brasília.  Para isso será necessário tolerância zero com o inaceitável, punições exemplares aos que cometem estes crimes que se traduzem na falência moral da sociedade brasileira e nos enchem de vergonha.

Um dia alguma geração de brasileiros fará o correto simplesmente porque é assim que se fazem as coisas.

Palácio do Planalto

Foto by Cariocadorio; Braília, 2016

A Fábula da Vespinha

18 de dezembro de 2015
A Vespinha

A Vespinha

Marcello Senna fazia a barba quando percebeu no espelho uma vespinha que sobrevoava sua careca. Apenas espantou o inofensivo inseto que foi se acomodar na luminária. Mas não tolerou um segundo voo mais próximo. Com um tapa certeiro o fez cair dentro da pia. Molhada, a vespinha tentou subir pela pia mas foi arrastada pelo redemoinho provocado pela torneira aberta por Marcello. Seguro de que o infame e ousado inseto havia descido irrecuperavelmente pelo ralo, Marcello Senna continuou sua rotina matinal.

Minutos mais tarde voltou ao banheiro. Para sua surpresa, lá estava a vespinha, se arrastando pela louça da pia e cumprindo seu dever de perseguir a vida enquanto as forças permitissem.

A cena fez Marcello Senna pensar mil coisas em um instante. Com um papel resgatou o inseto e o colocou na mesinha da varanda. A vespinha girou um pouco tonta e coçou as costas com as patas traseiras. Marcello percebeu quando se lhe abriram as asas já secas. Na terceira tentativa a vespinha alçou voo e sumiu da sua vista, segundos depois de se deixar capturar pela câmera do iphone.

Salva pelo seu próprio algoz, a vespinha cumpriu sua missão de seguir vivendo. Cumprira também a missão de lembrar ao Marcello alguns valores relativos a poder, tolerância, persistência e respeito à vida.

Moral da história:… não tenho certeza, fica a seu critério.

Mais além da guerra do Rio

27 de novembro de 2010

Viver no Rio de Janeiro é contar com o beneplácito de uma natureza bela e generosa. Não fosse o homem, aqui não haveria tempo ruim nem grandes desastres.

A complacência da natureza transferiu-se, por leitura equivocada, ao próprio carioca, que não soube administrar os limites desta dádiva.  Independente da classe econômica ou social, somos causa e conseqüência da falta de rigor ético que nos tem feito aceitar placidamente tanto desgoverno.  Em todos os níveis cometem-se atos de corrupção, assinam-se gatonetes, traficam-se e consomem-se drogas e constroem-se puxadinhos.  O crime está estabelecido desde as favelas às coberturas da Vieira Souto passando pela classe média carioca.

É histórica a tolerância que o brasileiro e o carioca em especial têm para “pequenos delitos” e “erros menores”.  Esta tradição de esperteza, jeitinho e malandragem está mais para conivência, falta de respeito e falta de ética.  Esta é a origem da tragédia que tem sido o cotidiano da cidade nestas últimas décadas.

De repente a elite carioca já não consegue mais se defender com câmeras, grades e blindados. Os mais humildes não suportam mais viver sob o domínio do poder paralelo. E assim a natureza cobra um alto preço daqueles que, parte inseparável e dependente da mesma, não souberam desfrutar sem abusar de tanta generosidade.  Já passamos da hora de mudar o rumo da história.

Tolice seria acreditar que esta guerra será ganha com armas ou uma possível vitória na “Batalha do Alemão”.  Isto é apenas um inevitável começo.  O combate incansável aos bandidos de hoje que não respeitam os direitos humanos dos cidadãos de bem e as instituições estabelecidas é essencial.  Mas há também que, ao mesmo tempo, cuidar para que não se formem novas gerações de bandidos que diariamente alimentam o exército do crime. 

Esta é uma tarefa de longo prazo que vai exigir perseverança nas ações pela educação, saúde e emprego para cidadãos cariocas. Para que todos tenham direito à verdadeira cidadania, sem privilégios nem paternalismos que só acentuam diferenças históricas. Caberá à população orientar nossos líderes, de forma inequívoca, para que conduzam a sociedade neste sentido.

O Rio de Janeiro tem o direito de voltar a ser a Cidade Maravilhosa.  Isto é um dever de todos e cada um de nós.

Foto by Cariocadorio: Lagoa Rodrigo de Freitas (Out. 2009).