Barra da Tijuca 2017

Largada no antigo AIR - 1966

Pouco mais ou menos em 1972, meu amigo Geraldo e eu fomos visitar o novo Autódromo Internacional do Rio de Janeiro. Queríamos conhecer o que esperávamos ser uma renovada pista de corrida de automóveis, um verdadeiro autódromo.   Afinal,  dentro de poucos dias como anunciavam os jornais, estaria ali o prefeito do Rio de Janeiro para inaugurar o novo autódromo.   Diante de nós, entretanto, apenas um monte de terra e algumas máquinas de terraplanagem trabalhando em ritmo lento naquilo que parecia ser o traçado da nova pista.  Este foi o meu primeiro encontro com a mentira oficial.  Naquela época eu ainda não sabia que os anúncios políticos têm muito pouco compromisso com a verdade.

 
Por essa antiga paixão pelo automobilismo questionei se havia necessidade de destruir o Autódromo Internacional do Rio de Janeiro para construir algumas  das instalações dos Jogos Panamericanos.  Comandada pelo prefeito que teve durante tantos anos o prazer de fazer o que a população não queria (obelisco de Ipanema, monumento a Getulio Vargas, cidade da música, um quase Gugenhein…), começava a destruição do automobilismo do Rio de Janerio.  É verdade que o autódromo já de muito tempo vinha sendo sub-utilizado e tinha pouca serventia para o esporte e para a cidade.   Aqueles que tinham a obrigação de defendê-lo pouco fizeram na época.  Tiveram que se contentar com mais uma mentira oficail:  construir um novo autódromo em algum lugar do subúrbio do Rio. 

Agora faz todo sentido acabar de vez com o que sobrou dele e construir ali boa parte da infra-estrutura olímpica de 2016.   Faz também sentido construir outras instalações na Barra da Tijuca, onde há muito espaço. Mas está havendo exagero.  Por que será que quase tudo de novo será instalado na Barra da Tijuca?  Está havendo uma concentração de investimentos em uma única região da cidade. Todos os novos caminhos do Rio de Janeiro levarão à Barra da Tijuca  que enfim terá melhor acesso e será ainda mais valorizada.   As lições de toda a vida indicam que não é o critério técnico, urbanístico,  o que mais conta nas decisões políticas.  E há pouca coisa mais poítica do que COBs, CBFs e confederações.

Na midia há diversas discussões a respeito de como será a integração da cidade nos planos olímpicos.  Arquitetos, urbanistas e carioquistas têm levantado a questão do desenvolvimento de outras áreas da cidade além da Barra da Tijuca.  Domingo de manhã, entretanto,  escutei na CBN a entrevista com alguma autoridade, talvez do COB, (entrei no túnel e não pude saber o nome dele mas me pareceia uma autoridade no assunto) que explicava não ser possível modificar o que fora apresentado e aprovado pelo COI.  Disse que o planejamento dos Jogos já havia sido feito e que agora chegáramos à fase de execução.  Isso até faz sentido mas que cheira mal, lá isso cheira. 

Por que só agora, que não dá pra voltar atrás, estão sendo discutidos estes assuntos na mídia?  Não houve exposição   suficiente e o assunto não foi discutido como deveria na época certa.  A questão então passa a ser quem participou da fase de planjamento e quem, representando o cidadão do Rio de janeiro, aprovou o planejamento submetido à aprovação do COI. 

O fato é que a concentração de investimentos na Barra e para a Barra da Tijuca leva a outro tipo de preocupação.  Não estarão os investimentos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro alimentando as aspirações separatistas de alguns que vêem na emancipação da Barra uma oportunidade?  Não seria a primeira vez.  Uma nova cidade, moderna, com tranporte integrado com aeroportos e outros municípios e livre das mazelas do Rio, onde não terão sido feitos investimentos.  Melhor ainda, na visão de alguns: mais uma prefeitura, mais uma câmara de vereadores, mais oportunidades para que alguns tenham novas oportunidades…uma nova Barra, modelo 2017.

Corremos o sério risco de que a história das Oímpíadas tenha que citar 2016 como o ano que os jogos  Olímpicos do Rio de Janeiro foram realizados em uma cidade que já não leva este nome.

Foto:  Largada no AIR, 1966 (site OBVIO: http://www.anisiocampos.com/his.html)

Tags: , , , , , , , , , , ,

15 Respostas to “Barra da Tijuca 2017”

  1. Turú da Silva Says:

    Por acaso o Geraldo citado acima é o Geraldo Colombo? Com ou sem Colombo o lance está muito legal. Sugebstão: que tal escrever alguma coisa sobre o Autódromo da Gávea? Aproveite para contar que o Juan quase morreu atropelado por uma baratinha enquanto brincava com os miquinhos na porta de casa.

  2. cariocadorio Says:

    De fato Turú, é o Colombo. Mas sobre o circuito da Gávea é mais difícil escrever. Chegamos antes destes miquinhos mas a história das baratinhas nos precede.
    Cariocadorio (Bandit dos Santos)

  3. Autódromo do Rio « Cariocadorio's Blog Says:

    […] A construção do novo autódromo foi esperada com ansiedade pelopequeno grupo de amigos aficcionados em automobilismo.  Este mesmo autódromo que o prefeito César Maia começou a destruir quando decidiu que a fórmula 1 não interessava ao Rio e decretou sua morte ao construir arenas do Pan no espaço do Autódromo (clique aqui para ver Barra da Tijuca 2017). […]

  4. rodrigo azevedo Says:

    Quanto as olimpiadas na Barra, acho que vale um outro ponto de vista:

    A Barra da Tijuca, ou futuro centro metropolitano da cidade, como definiu Lucio Costa em seu master plan para o bairro, é única região com potencial para costurar urbanisticamente a longínqua e promissora zona oeste (Santa Cruz e Campo Grande) com as zonas Sul e Norte. As últimas apresentam uma enorme concentração populacional e de recursos, enquanto o restante vive com baixas taxas de densidade e infra-estrutura. A cidade precisa balancear e distribuir seu desenvolvimento de forma atingir toda a população. Assim sendo, investir na Barra não é concentrar recursos e sim leva-los mais próximo da região mais necessitada e economicamente estratégica para o crescimento da cidade, abrindo possibilidades para um desadensamento das zona Sul e Norte (principalmente as favelas) rumo a formalidade habitacional e novos postos de trabalho ligados a construção civil, siderurgia, serviços, etc. A opção Barra, à principio, conjumina abertura e expansao de mercado e emprego e forte potencial irradiador se trabalhado a mobilidade e a implementacao de planos urbanísticos adequando estas regiões a nova realidade, entendendo o Rio como um todo e nao em partes.

    Pela primeira vez na história das olimpiadas, o legado olimpico não serão somente os equipamentos esportivos e a vila olimpica mas sim um plano de desenvolvimento urbano e econômico compatível com esta ambição. Pensar Barra da Tijuca, Campo Grande e Santa Cruz como a tríade de desenvolvimento sustentável da cidade. Afinal, o Rio não acaba na Barra, pelo contrário, está começando uma nova história ali, como previa Lucio Costa. Em tempo: a área portuária não precisa de olimpíadas e nem de prédios de 50 andares (conforme master plan da Prefeitura) para sair do esquecimento urbano, mas sim de desburocratizacao. Ja existe potencial para que ali surja uma nova Lapa, entretanto o governo inibe a comercializacao dos imoveis para especular. O mesmo acontece com o terreno da estação Barão de Mauá, com projeto habitacional e comercial já desenvolvido por meu escritório e parado na burocracia dos governos federal e estadual.

    Sobre a área portuária, aconselho a leitura deste livro:

    A CIDADE CONTEMPORÂNEA ENTRE A TABULA RASA E A PRESERVAÇÃO
    CENÁRIOS PARA O PORTO DO RIO DE JANEIRO

    AUTOR(ES):
    MOREIRA, CLARISSA DA COSTA

    link: http://www.editoraunesp.com.br/titulo_view.asp?IDT=803

    um abraço,

    rodrigo azevedo
    http://www.aaa.com.br

    • cariocadorio Says:

      Rodrigo,
      Muito interessante ler a sua opinião de especialista. Como a intenção deste espaço é discutir o assunto, vamos lá:
      1. Faz todo o sentido sua observação sobre a importância do desenvolvimento da Barra. Que seja assim. Mas ainda acho que há concentração naquela região do Rio. Temos a experiência separatista em passado recente. É perigoso demais alimentar ambições de políticos.
      2. Trabalho há 30 anos na zona portuária. Desenvolvimento tipo Lapa não me parece o suficiente para a região. Por outro lado o plano megalômeno não vai sair do papel. Caso aconteça vai causar grande prejuízo. Concordo que prédio de 50 andares é uma burrice. Comento em vários posts deste blog: Praça Mauá, Porto Maravilha, Perimetral.
      Graças à sua participação, quem passar por este blog terá mais informação para pensar no assunto. Volte sempre.
      Saudações cariocas.

  5. Rio de Copas e Olimpíadas « Cariocadorio's Blog Says:

    […] relacionados, clique para ver: Píer Mauá Porto Maravilha Porto Maravilha – A Perimetral Barra da Tijuca 2017 Olimpíadas 2016 – esperanças e […]

  6. Renan do Couto Says:

    Não conhecia essa história da Barra não, mas acho difícil que uma cidade como o Rio consiga perder uma parte tão importante assim. Seria muita incompetência dos dirigentes.

    Sobre o autódromo, até acho que poderia ser feito um projeto, com pequenas modificações na pista e nas arenas para que nada precisasse ser destruído. Mas tudo foi tão mal feito que uma cidade que quer tanto sediar as Olímpiadas não fez sequer um parque aquático que pudesse ser usado nelas. O Maria Lenk não serve. O velódromo está parado e a Arena do Pan virou Arena HSBC, casa de shows.

    O Pan pode ter acabado com o automobilismo do Rio. E a CBA e a FAERJ apenas assistiram. Nem atrapalharam. Ou não tiveram peito. Resta ver se sai mesmo um autódromo em Deodoro.

  7. Cariocadorio, Ano I « Cariocadorio's Blog Says:

    […] por algum que outro motivo, são os que eu gosto mais. O Guarda Livros, sobre uma foto de 1910. Barra da Tijuca 2017, uma preocupação que começa a ficar menor. O Homem e sua Próstata, uma preocupação de tantos. […]

  8. Maurício Filho Says:

    Infelizmente, o autódromo de Deodoro não sairá do papel.
    Existe somente uma promessa e um projeto no papel.
    Tudo depende do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, e esse não é favorável a construção da pista em Deodoro. Claro, nada disso está sendo divulgado, e, a cada dia que passa, o tempo para se construir uma nova pista em Deodoro fica mais curto.

    A cada anúncio dessa pista em Deodoro, o orçamento destinado a ela é reduzido, e falando seriamento sobre o que se quer fazer em Deodoro, essa quantia anunciada TALVEZ desse para aprontar somente a parte de terraplanagem e preparo do terreno.

    Estamos falando de um autódromo padrão FIA (Projeto anunciado), e até mesmo o tipo de pavimentação, é diferente e mais cara que a convencional. Portanto, amigos, autódromo em Deodoro é uma bela desculpa para a desativação total da nossa pista multilada.

    Existe um projeto engavetado, que fazia a ligação da parte norte multilada com o que restou da pista, que sairia muito mais barato que esse absurdo de pista nova em Deodoro, e, que tornaria possível o retorno de provas importantes para o Rio.

    Quanto a Faerj e CBA… enfeites… não servem para nada.

    • cariocadorio Says:

      Pena estarmos de acordo sobre este assunto. Porém…Não gosto de ter falsas esperanças mas o autódromo de Deodoro foi aprovado junto com outros projetos “olímpicos” na câmara dos vereadores no do Rio na semana passada.

  9. Os esquecidos do Eduardo Paes « Cariocadorio's Blog Says:

    […] A disparidade com relação aos outros bairros do Rio é tão flagrante que o objetivo de concentrar os investimentos na Barra parece ser o de regar os interesses separatistas da região (veja em Barra da Tijuca, 2017). […]

  10. Gustavo Lemos Says:

    O Estado não cumpriu o acordo feito com a CBA de construir outro autódromo antes do fim deste.
    Na foto, vemos a largada de uma prova de estreantes. À direita o Simca do falecido Sérgio Cardoso.

  11. CARIOCA DO RIO… | Saloma Connection Says:

    […] A construção do novo autódromo foi esperada com ansiedade pelo grupo de amigos aficcionados em automobilismo. Este mesmo autódromo que o prefeito César Maia começou a destruir quando decidiu que a fórmula 1 não interessava ao Rio em 1990 e decretou sua morte ao construir arenas do Pan no espaço do Autódromo (clique aqui para ver Barra da Tijuca 2017). […]

Deixar mensagem para cariocadorio Cancelar resposta