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Copa de 2010, África do Sul (Maradunga)

31 de julho de 2010

Tempo para uma reflexão tardia sobre a Copa de 2010 na África do Sul onde ficou longe a final sonhada por argentinos e brasileiros.  É muito interessante como estas coisas acontecem. Brasil e Argentina tinham muitas coisas em comum e chegaram exatamente ao mesmo lugar.

Ambos tinham como técnicos ex-jogadores, campeões do mundo, com experiência zero na função.

Ambos procuraram fazer crer que estávamos no caminho certo.  Dunga apregoava a eficiência do seu “método”, afinal de contas bem sucedido até aquele momento.   Maradona preferia uma propaganda ufanista baseada no seu próprio prestígio e carisma aliado a ter, sem dúvida alguma, o melhor elenco.  Os resultados, porém, eram pífios até ali.

Maradona, com uma enorme ânsia de vedetismo e monopolização das atenções, e Dunga, com suas grosserias contra tudo e contra todos, seus ataques de raiva e excessos nos modelitos à beira do campo, pareciam mais preocupados com seus egos do que com suas funções de treinadores.    

Ambos ficaram estupefatos diante da adversidade definitiva e, do alto da sua inexperiência, não tiveram resposta quando o adversário lhes impôs um nó estratégico incapaz de ser superado pela genialidade de alguns de seus jogadores, no caso da Argentina, e pelas  opções de jogo no caso do Brasil.  

Como auxiliares, Maradona tinha Mancuso, o amigo de todas as horas, do futebol, das festas e das noitadas, enquanto Dunga, na sua obsessão por controle, tinha um capataz na figura de Jorginho.  Um e outro tão carentes de experiência como seus chefes.   

Argentinos e brasileiros pouco podiam esperar de suas equipes antes de começar a copa. Após os primeiros jogos, vendo que não tinha nenhum bicho papão, passaram a acreditar em uma fantástica final sul-americana.

Ambos perderam para europeus nas oitavas-de-final.  Seus grandes destaques, Messi e Kaká, renderam abaixo do esperado.

Com tantas coisas em comum, por caminhos diversos, Brasil e Argentina perderam exatamente como era de se prever.    
A Argentina pela falta de organização do seu elenco de craques e pela sua defesa ruim, frutos da incapacidade do seu treinador.
O Brasil pela previsibilidade de suas ações, pela impossibilidade de tentar alguma coisa diferente ao ter no banco um bando de cabeças de área e de bagre (alguns deles no ocaso das suas carreiras) e pelo nervosismo do time em campo, reflexo do que via no seu comando fora dele.   

Mas pouco importa a atuação de Brasil e Argentina na Copa. Mais importante é discutir como isto nos afeta como país que pretende ser civilizado algum dia. 

A derrota brasileira  (creio que a argentina também) começa a ser desenhada muito antes de uma Copa do Mundo. Culpar jogadores e treinadores é equivocado. O erro está na forma como se conduz o futebol nestes países, reflexo do que somos como países. Disto resultou em treinadores de primeira viagem como Dunga e Maradona serem guindados à posição de treinadores dos selecionados nacionais sem experiência alguma para tal.  Acontece com treinadores, administradores de nossas instituições, cidades e estados.

O responsável pela entidade máxima do futebol brasileiro tem poderes absolutos na condução do futebol no Brasil. Administra fortunas em suas mãos da mesma forma que determina quem será o próximo treinador da seleção.  O presidente da CBF se perpetua no poder eleito por um grupo de federações cujos presidentes o fazem da mesma forma.  E neste jogo de protege daqui beneficia dali e é dando que se recebe vão se mantendo à frente da maior paixão nacional.  Nem o presidente da república nem o congresso nacional têm influência sobre o futebol. 

Deveria ser simples assim: nenhum indivíduo poderia ficar mais de 8 anos no comando da entidade máxima do futebol brasileiro, o mesmo valendo para os presidentes de federação, do Comitê Olímpico Brasileiro e qualquer federação de esporte.

A perpetuação dos mesmos nestes cargos dá margem para muita coisa ruim, muita roubalheira. Mas diante da anarquia moral em que vivemos neste país, perder uma copa do mundo é o menos importante.

No mais, parabéns para os espanhóis, um povo que vive intensamente o futebol e que finalmente ve sua seleção brilhar internacionalmente. Méritos para o Uruguai, que volta ao cenário internacional depois de tantos anos de ostracismo.  Para os anfitriões, resta saber o que fazer com os estádios que construíram para a grandeza da FIFA.  

Incorrigível, ainda quero um “Brasil x Argentina” na final da copa do mundo, quem sabe no Maracanã, com vitória da selação nacional.

São Lourenço, MG

25 de julho de 2010

 

Pedalinho no Parque e Igreja ao fundo

Em 1948, a Igreja Matriz de São Lourenço reinava absoluta na paisagem urbana.  Como se pode ver nestas fotos da época, de qualquer ponto da cidade e de dentro do Parque das Águas era possível avistá-la.  Hoje para conseguir uma foto a partir do Parque há que procurar o ângulo apropriado em meio aos espigões contruídos na avenida. Diversas construções, incluindo pequenos hotéis foram demolidos para dar lugar aos edifícios.

Parque das Águas e Igreja ao fundo.

Vê-se, portanto, que não é previlégio do Rio de Janeiro a ocupação impensada da cidade com prédios altos que aumentam a densidade populacional, prejudicam a circulação de ar e tornam caótico o trânsito.  Creio que de tanto ver Nova Iorque no cinema as pessoas associam prédios altos a desenvolvimento.

Igreja e fonte Vichi

Apesar disso São Lourenço é uma cidade muito bem cuidada quanto comparada a outras cidades brasileiras. O calçamento de paralelepípedo dá o ar de cidade tranquila, o trânsito é razoavelmente ordenado e uma grande quantidade de árvores foi plantada ao longo dos anos. 

Igreja MatrixO Parque das Águas está muito bem cuidado, pena que para isso tenha que estar entregue a uma empresa multinacional.  Esta região tão querida por duas gerações anteriores da minha família continua servindo ao seu propósito de fonte de lazer saudável e relativamente barato para quem quer um pouco de distância da vida atribulada do Rio de Janeiro. 


Voltarei a São Lourenço brevemente. 

Fotos: Vistas de São Lourenço, Parque das Águas e Igreja Matriz, by Abel Lourenço dos Santos (novembro de 1948); acervo Cariocadorio; proibida a reprodução sem autorização prévia;  Edifícios e Igreja Matriz vistos do Parque, by Cariocadorio (15/07/2010)

Ibicuí, RJ

18 de julho de 2010

Quando eu não era

Há lugares onde o tempo deveria parar em determinado momento e  perpetuar-se daquela forma.  Em geral no tempo da nossa infância ou mesmo antes dela. Ibicuí é um destes lugares, que me recuso a reconhecer como parte de Mangaratiba.  Ainda que pouco tenha frequentado aquela praia de águas tranquilas e protegidas, Ibicuí é para mim símbolo de um periodo feliz na história da família.  

Através deste espaço, pretendo voltar muitas vezes àquela Ibicuí de metade do século passado.  Naquele tempo as dificuldades para se chegar até lá eram por conta da precariedade da RJ-14, uma estrada de terra.  Mas havia a opção de pegar o trem na Central do Brasil e, uma vez lá chegando, não havia necessidade de ir muito longe.  A praia estava a 50 m de de casa e o Armazém do Salino fornecia as provisões necessárias.  No mais era a praia, tranquilidade, passeio de lancha, pescaria e muita deversão.   

Mas tudo passa como tem mesmo que passar.  Hoje a dificuldade é vencer o trânsito caótico da Rio-Santos e uma multidão de pessoas que ali vão em busca do mesmo prazer, como é o direito de todos.  Não há mais a opção da via férrea que só é utilizada por enormes composições que levam pedaços do Brasil para o exterior.

Felizmente ficaram algumas fotos que mostram o que foi este local paradisíaco há cerca de cinquenta anos.   

Ibicuí

Fotos: Ibicuí, linha férrea (Fevereiro de 1952) e Vista de Ibicuí (circa 1955).  Acervo Cariocadorio, proibida reprodução sem autorização prévia.

Tela Redonda

14 de julho de 2010

Relíquias dos anos 50

Estamos em agosto de 1960.  Enquanto minha madrinha faz pose para a foto, o tio Maurício está muito mais preocupado com o jogo do Flamengo.  O radinho de pilha, coisa moderna na época, vai colado ao ouvido.

Na época esta foto foi apenas mais uma do dia do meu aniversário. Hoje ela  nos traz algumas relíquias.  Começando pelo tradicional telefone preto, passando pelo radinho da marca Spika e chegando às estrelas da companhia. 

Uma típica rádio-vitrola em que vagamente me recordo de ter ouvido tocar uns velhos discos de 78 rpm e a formidável televisão Zenith, tela redonda, que não me lembro de ter visto outra igual. Nesta TV desfilaram artistas renomados como o Pica-pau, a Tartaruga Touché, Lippy o leão e a hiena Hard Rá-Rá (Oh céus, oh vida, oh azar!), o Super Homem e o meu favorito National Kid.  Tinha ainda o programa de tia Fernanda que apresentava os flautistas “Bicudo e Bicudinho”. Um deles era o Altamiro Carrilho.    

Esta TV durou bastante. Os tempos eram difíceis e não dava para comprar uma nova.  No final era um sacrifício assistir os programas favoritos.  Primeiro tinha que esperar até que esquentasse.  Enquanto isso dava pra ouvir o Altemar Dutra cantando “o Trovador” no Rio Hit Parade da TV Rio. Ver era mais difícil.  Depois, a toda hora os controles de vertical e horizontal tinham que ser acionados para parar a imagem.  O problema era em um tal de flyback, seja lá o que isso fosse.  

Finalmente a heróica Zenith foi aposentada e em seu lugar chegou uma Telefunken. Totalmente sem graça mas funcionava muito bem.  Junto com a Copa de 74 chegou uma Philco a cores, 24 polegadas se não me engano.   Tempo de milagre brasileiro …

Pesquisando na internet encontrei o modelo da foto, praticamente igual, no site “Television History” que lista diversas TVs em ordem cronológica:
http://www.tvhistory.tv/1950-59-ZENITH.htm

Foto: Relíquias dos anos 50 (agosto de 1960); acervo Cariocadorio, proibida a reprodução sem autorização prévia.

Ruby

12 de julho de 2010

Ruby

De repente alguem chegou com a novidade:
“Você quer uma cadelinha boxer que a mãe está começando a rejeitar?”
“Claro que não”,  foi uma resposta fácil e rápida.
Como uma imagem vale mais que mil palavras, a conclusão deste diálogo está na foto. 

E assim chegou a Ruby que logo foi levada para conhecer a Meg (aqui), dona da casa há mais tempo que nós.  Recém saída de uma cirurgia a Meg recebeu muito bem a nova companheira.  Pode-se dizer que a adotou como o filhote que nunca teve.

Meg e Ruby

Depois veio uma conversa de que boxer tem que cortar o rabo.  Eles crescem e o rabo fica desproporcional e deselegante.  Felizmente ficou só na conversa. Ninguém pergunta pro bicho se ele está preocupado com a “elegância” ou se prefere ficar inteiro.  Cometem-se atrocidades com animais em nome da estética humana. Cachorros e gatos são os que mais passam por essas alterações que às vezes os agridem funcionalmente. 

O nome dos bichos também é uma questão interessante.  Por que será que tem tanto nome de bicho em inglês?  Certamente tem a ver com ídolos de cinema e uma certa dominação cultural.  O brasileiro tem fascinação por inglês nas coisas mais simples. Os marqueteiros sabem disso e preferem “sale” e “delivery” aos similares nacionais.  Tem até “rebolation”…

Pensei que ela poderia chamar-se como um ídolo brasileiro: Ivete, Vanessa ou Claudia Leite, assim, com nome e sobrenome. Alguém sugeriu Ruby e  pegou rapidinho. 
No further questions…

Fotos by Cariocadorio: Meg e Ruby, junho 2010.

Flores de inverno

3 de julho de 2010

Azalea branca

Quando todas as esperanças se transformam em espectativa por 2014, a gente volta a prestar atenção nas coisas que ficaram adormecidas enquanto a pátria dormia acordada de chuteiras.  Depois do trauma a gente lembra que é só uma partida de futebol.  E tem que acreditar nisso. 


Fica a sensação de crônica de uma morte anunciada. Quando se começa uma partida com um lateral improvisado no meio de campo é sinal que alguma coisa não foi lá tão bem planejada.  Em 70, no México, tínhamos exatamente o contrário, era meio-campista Piaza como quarto zagueiro.  Inevitável e esperada foi a agressão do tresloucado Felipe Melo no adversário.  Alguma dúvida de que  isto acontceria?  De herói a vilão em menos de uma hora. 

Azalea

Se com onze já estava difícil tentar algo diferente, pela absouta falta de opções para tal, o que fazer depois então?   Procuramos culpados? Caçamos bruxas? Será que foi por causa do pior resultado da balança comercial desde 2001? Ou teria sido culpa do sepultamento da ficha limpa abatida inapelavelmente pelo Supremo? 
Logo voltaremos a prestar atenção no que realmente é importante (as uvas estavam verdes).

Pra que a vida continue

E continuaremos torcendo.  Torcendo para que a vida continue.  Para que amanhã faça um belo dia para que possamos apreciar a beleza das flores deste inverno.

Fotos by Cariocadorio: Petrópolis, junho / julho  de 2010