Archive for janeiro \31\-03:00 2010

O Guarda-livros

31 de janeiro de 2010

Casa Tolle - Escriptorio de S.Paulo

A magnífica foto do escritório de São Paulo da Casa Tolle tem um personagem principal.  O jovem Sr. Abel, então guarda-livros da empresa e futuro contador e gerente do Banco Lar Brasileiro. 

O jovem Sr. Abel

Esta foto de 1910 é o registro mais antigo do meu avô, então com 21 anos de idade.  Ele está sentado à esquerda, fazendo jus à sua função de guarda-livros.  A estante atrás dele não deixa margem a dúvidas quanto à origem do nome da profissão. 

Quando conheci meu avô, ele já estava aposentado. A imagem dele que me passavam a minha mãe, tias e avó era a de um homem exigente com tudo e com todos, principalmente consigo mesmo.  Isto parecia destoar um pouco do que ele me transmitia embora sempre tivesse o semblante sério.  Bebia de vez em quando uma Hunderberg e fumava Petit Londrinos Carteira com frequencia.  Com a idade passou a “pegar mais leve”, fumando Lincoln ou Continental (sem filtro, é claro)

Nos dias de festa bebia um pouco mais com seus genros e netos mais velhos e ria “às bandeiras despregadas” das brincadeiras e piadas em família. Com ele aprendi a jogar xadrez e ganhei um livro antigo para estudar.  Chegou o dia que o aluno suplantou o mestre, cuja cabeça já não tinha o mesmo ritmo, mas seguimos jogando sempre com a mesma seriedade. 

 Eram freqüentes os passeios de domingo à longínqua Barra da Tijuca, no famoso DKW Vemag .(link)  Aos 76 anos o velho detonou o Belcar em um acidente com vários carros no túnel Sta. Bárbara.  O carro acabou mas ele se recuperou e seguiu por muitos anos.       

A Remmington

A beleza desta foto está na nitidez e qualidade dos detalhes. A foto possibilitou entender um pouco mais da história porque ela permite ampliações (não deixe de fazê-lo) dos detalhes mostrando as máquinas da época, as vestimentas, mobiliário, o incrível calendário universal e, ainda, detalhes da própria fábrica nos quadros na parte de cima na parede do fundo.   

O velho aparecerá muitas vezes por aqui.  Também a Casa Tolle será objeto de um artigo.  Na minha memória a Casa Tolle em São Paulo era uma fábrica de doces e chocolates. É muito interessante o que pude descobrir desta firma fundada no século XIX. 

Foto e detalhes: Casa Tolle, Escriptorio de S. Paulo (1910); Acervo Cariocadorio, proibida a reprodução sem autorização prévia.

Acidente em Ipanema

29 de janeiro de 2010
Top Top

O sucedido data de outubro de 1976, conforme indicado na moldura dos slides.  Voltava da faculdade com meus amigos Jaime e Dauro e, não sei por que cargas d’água, estava com uma câmera fotográfica. De repente demos de cara com o salseiro.  Pela quantidade de gente era provavelmente um sábado. A  irreverência da foto já mostra que isso não é coisa destes dias. Com o Dois Irmãos ao fundo e a saudosa carrocinha do Geneal à espreita, resolvemos registrar o fato gestualmente. Gesto esse que saiu de moda faz algum tempo. Hoje em dia, diante do quadro, com certeza nossa reação seria outra.

Opala no canteiro central

 Descemos do Opalão azul do Jaime (quem sabe do Corcel do Dauro ou ainda do Passat do meu pai) e fomos assuntar.  Felizmente não havia feridos com gravidade apesar da batida ter sido forte.  Não me lembro como aconteceu o acidente mas envolvia dois Passats, um Opala e uma moto. 

O Opala estava em cima do canteiro central de uma  Av. Vieira Souto novinha. Junto a ele, uma moto que estava estacionada jazia meio troncha. O Passat marrom bateu na traseira do outro que girou na direção da contra-mão e pegou fogo.  

Enquanto passa o Alfa Romeu 2300 ...

Os bombeiros não demoraram a chegar mas já não havia muito o que apagar.  Então aproveitaram para refrescar a rapaziada.     

Água pra refrescar

Como era típico naquela época,  levaram o “TKR” do Passat acidentado.  Se não foi logo depois do acidente já haviam levado antes.  Dá pra notar na foto o buraco no painel onde deveria estar o toca-fitas.     

Interior do Passat

 Há muitos detalhes interessantes nestas fotos. Os carros da época, as motos e as placas amarelas com duas letras e quatro números. As roupas dos banhistas, os penteados e  o uniforme do guarda. Vê-se ainda uma  paisagem da Av. Vieira Souto com poucas árvores e os sinais de trânsito sem a luz amarela. Tá bem, não mostra de frente mas dá pra notar que são duas luzes.  Pra quem não se lembra, o amarelo era substituído pelas luzes verde e vermelha acesas simultaneamente o que funcinava bem, na minha opinião.  Bom mesmo eram as placas atrás dos sinais para evitar que o sol ofuscasse a visão das luzes. 

Essa é uma pequena recordação da Av. Vieira Souto de trinta e poucos anos atrás.  Pelas fotos, não muito diferente de hoje.     Pra quem quiser se divertir desafiando a memória, ficam as perguntas:  

  • Em que esquina aconteceu o acidente? 
  • Qual o ano e o modelo dos carros que aparecem nas fotos?          

Passat marrom, cor típica na época

    Fotos by Cariocadorio: Acidente em Ipanema (1976)

Dia de São Sebastião

20 de janeiro de 2010

W & W

Em um determinado momento você começa a se entender por gente. Não dá pra saber exatamente quando isso acontece, cada um tem lá o que acha ser a sua mais antiga lembrança.  Ela funciona como um divisor de águas.  Tudo que aconteceu antes disso parece ser tão antigo quanto a proclamação da república. O que veio depois tende a ser uma coisa “nova” por muito tempo.   

A gente começa a perceber que já não é mais criança quando pela primeira vez na vida alguma coisa nos parece ter acontecido há muito tempo.  Lembro que foi uma sensação estranha.  Mas isso também já tem tanto tempo que nem sei mais o que era.

O tempo é implacável e vai nos levando a viver outras primeiras vezes.  De repente vovê percebe que as coisas antigas nem eram tão antigas assim e nem foram sempre do jeito que você se lembra delas.  Você nota em uma foto antiga que, quando você nasceu, seus pais eram muito mais novos do que você é hoje.  Em outras fotos a gente vê que nossos avós também já foram jovens, esportistas, que faziam passeios e criaram seus filhos…Ou seja, todas aquelas coisas que você já fez e não acreditava que eles pudessem ter feito … pois fizeram, só que em preto e branco.  

Um outro momento marcante é quando a gente percebe que certas coisas que aconteceram depois daquela primeira memória já deixaram de ser um evento recente.  Leva um tempo pra gente se acostumar com o fato.  Demorei muito pra perceber que o moleque da foto já não era mais o meu primo mais novo.  Melhor dizendo, ele obviamente ainda  é mais novo, só que com menos cabelo, tendo cultivado aquela barriguinha de cerveja e que até já nos brindou com uma nova geração para seguir adiante por todos nós.  Já não faz muita diferença esses quase 10 anos que nos separam no tempo.

No dia de São Sebastião do ano de 1965, nascia o meu querido primo que aparece na foto cuidado pela sua sempre zelosa e curujésima mãe e minha igualmente querida Tia.

E eu vou ficando por aqui, aguardando que nova sensação de primeira vez na vida o tempo terá reservado pra mim.

Foto:  “W & W” (1966).  Acervo pessoal Cariocadorio.  Proibida a reprodução sem autorização prévia.

L’Ermitage

16 de janeiro de 2010

Quando eu comecei a utilizar termos como cultura corporativa, treinamento de pessoal, “service delivery” e o escambau, senti que estava no caminho errado.  O título deste artigo acabaria sendo algo do tipo “A  transcendência da interação  colaborador/cliente no sucesso qualitativo das empresas prestadoras de serviço nas áreas de saúde e estética”.  Então simplifiquei o título e resolvi começar de novo.

Piscina no Spa L'Ermitage

Atualmente é comum empresas chamarem  empregado de colaborador e cliente de parceiro.  As que mais fazem propaganda destes termos são as que mais acham que empregado é um mal necessário e parceiro não passa de freguês mesmo.  Gastam fortunas com treinamento de pessoal e muitas vezes o processo não é bem sucedido porque na verdade a direção não “walk the talk” (lá vou eu de novo).  Na primeira virada da maré vai um monte de colaborador pra rua.

Nota-se a diferença quando se tem um serviço prestado com a devida atenção e profissionalismo. Não porque isto foi “ensinado” mas porque esse tipo de atitude esta impregnada na própria estrutura operacional da empresa e, muito mais do que isso, no caráter e na sensibilidade das pessoas que diretamente prestam o serviço. 

Arara simpática...mas deixa o dedo longe

Vivi esta experiência todas as vezes que fui ao Spa L’Ermitage.  Da pessoa que atende o telefone no primeiro contato ao porteiro que dá tchau na hora de ir embora, todos são atenciosos por princípio.  Seja no refeitório, na secretaria, nas sessões de ginástica, nas salas de massagem e estética, enfim, todas as atividades são conduzidas de forma simples e profissional com o mesmo clima, a mesma atenção e um sorriso sincero nos lábios. 

Muitos procuram o L’Ermitage para resolver um problema de saúde, às vezes até mais mental do que física propriamente dita.  E os empregados sabem escutar, sabem entender personalidades diferentes e cuidar de todos com a devida atenção.  Como em qualquer lugar, os clientes têm críticas a alguns aspectos do spa mas a simpatia e a qualidade do pessoal que trabalha no L’Ermitage são uma unanimidade.  Por isso é comum encontrar pessoas que vão ali com freqüência, muitas delas há mais de 20 anos.

L'Ermitage

Empresas não conseguem este tipo de atitude dos empregados apenas com programas, salas de treinamento ou quadros de avisos.  As pessoas têm que ser selecionadas considerando a importância dessa característica da personalidade e mantendo um ambiente que honestamente permita que elas exerçam esta característica.  Gostar de gente.

Em um mundo complicado e de permanente atrito entre as pessoas, quem não gosta de estar em um ambiente tranqüilo onde as pessoas lhe dêem atenção e lhe tratem bem?   A empresa que logra fazê-lo terá, certamente, a fidelidade deste cliente e manterá uma real vantagem competitiva no mercado (opa! …desculpe a recaída no final).

Estação de trem de Werneck

O Spa L’Ermitage fica em Werneck, distrito de Paraíba do Sul, RJ.  Um lugar pequeno onde tem uma fábrica de doces formidável pra quem passou uma semana no spa.

Nota: O autor não tem relação alguma com o Spa L’Ermitage, exceto ser frequentador do mesmo.

Fotos by Cariocadorio: Piscina do L’Ermitage (Janeiro 2007); Arara (Janeiro 2007); L’Ermitage (Janeiro 2007)Estação de Werneck (Janeiro 2010)

Vemaguete

7 de janeiro de 2010

Vemaguete 64 no Carnaval de 66

Este DKW Vemag foi o primeiro carro da minha família.  Nessa época os automóveis reinavam sozinhos como objetos de consumo dos adultos e do mundo de fantasia das crianças.  Não havia a concorrência dos computadores e dos video games. Os rádios de pilha e  as vitrolas não eram concorrentes à altura. As crianças observavam carros como a modernidade do momento e era comum disputar quem conhecia mais a respeito. 

A nossa Vemaguete foi adquirida no início de 1964.  Não era ainda o modelo 1001, lançado logo após,  que tinha como característica as portas abrindo pra frente como os demais carros.  A cor era azul clara , exigência do velho que não gostava do saia e blusa comum na época.  O estofamento era vermelho.  Como meu pai não dirigia e nem queria saber disso, meu primo Marcus foi buscá-la com ele.  Depois, minha mãe era quem dirigia.  Aliás, foi ela que forçou a barra tirando a carteira de motorista e insistindo na compra. 

Naquele ano o Rio de Janeiro viveu momentos de tensão com o golpe de 64. A Vemaguete teve lá a sua participação.  Morávamos na Pinheiro Machado e a rua ficou bloqueada com barricadas de sacos de areia em frente ao Palácio Guanabara.  Houve movimento de carros do exército na rua e a família achou melhor sair dali.  Lembro-me que saímos pela rua Paissandu, onde em alguns lugares tivemos que passar por cima da calçada.  Carros da prefeitura ou do estado, cinza com listra amarela, bloqueavam a rua. Numa dessas, o paralama direito da Vemaguete novinha raspou na parede.  Na Presidente Vargas cruzamos com vários blindados mas o caminho até o Lins foi tranquilo.

Na foto a Vemaguete aparece na rua Raul Barroso, pilotada por este Cariocadorio fantasiado de índio.  Era o carnaval de 1966. Vê-se o detalhe da grade dianteira com a inicial do sobrenome da família.  Era comum este tipo de personalização nos DKW naquela época.

Foto: Vemaguete 64 (Fev. 66) Acervo pessoal Cariocadorio.  Proibida a reprodução sem autorização prévia. 

 

Feliz Aniversário

3 de janeiro de 2010

 

Posando no barco

Depois de feliz Natal e feliz ano novo só pode vir o feliz aniversário.  Uma homenagem aquela cigana rica do Carnaval de 49. Desta vez em foto de 1956, na lancha do Tio Altair, na casa de Ibicuí.
A trajetória desta casa de Ibicuí vai aparecer mais vezes neste espaço. Temos um acervo de fotos muito interessante sobre este período que certamente foi dos mais felizes do legado de Belmira e Abel.
A foto é para comemorar este três de janeiro de 2010, aniversário de quem tem muito a ver com este espaço. Aliás, sem ela não haveria este blog.

Portanto, feliz aniversário pra minha Cigana Rica.

Foto: Posando na lancha (Ibicuí, Fev. 1956). Acervo pessoal Cariocadorio. Proibida a reprodução sem autorização.

2 de janeiro de 2010

A escolha de uma casa depende do que precisamos dela mas também de algo inexplicável que nos leva a gostar mais de uma que da outra.  Seria o astral, a energia da casa que faz a gente dizer: é essa… Aquela casa na serra tinha essa energia e esse astral e, mais do que por qualquer outra coisa, foi por isso que a escolhemos. 

Naquela tarde de sábado que recebemos a casa tocou o telefone:  era a proprietária de quem nos despedimos horas antes.  Perguntava se éramos católicos e respondi que sim sem entender bem a pergunta.  Explicou que havia levado a imagem da santa e queria devolvê-la por entender que era mais da casa do que dela mesma.  Agradeci e ofereci buscá-la durante a semana no Rio.  Ela insistiu em devolvê-la no dia seguinte e subiu a serra exclusivamente para isso:  a casa já ficou muito tempo sem a proteção da santa.    Não havia dúvidas no gesto. Fiquei profundamente sensibilizado por essa convicção que não alcanço nesta minha fé pontilhada mais por descrenças do que crenças.  

Frequentemente olho para a imagem da santa com carinho.  Neste início de 2010, olhei-a ainda mais de perto e rezei pelas vítimas da tragédia de Angra dos Reis e Ilha Grande.  Pelos que se foram e pelo sem número de pessoas que sofrerão suas  perdas. 

Que o ano prossiga sem mais desgraças e que todos passam ter paz e felicidade em 2010, dando o devido valor ao que realmente merece.

Foto:  A Santa (by Cariocadorio, 02/01/2010)