Archive for abril \23\-03:00 2011

A graça da garça e o Judas

23 de abril de 2011

Aquela era apenas mais uma caminhada em torno do agradável laguinho de Nogueira. Local dos mais aprazíveis descontando-se a convivência com o odor dos cavalinhos.  Mas há que ser tolerante, os cavalinhos estão ali fazendo a alegria da criançada há décadas.

Nos primeiros passos a branquíssima garça chamou atenção.  Saquei o celular e me dispus a fotografá-la. Só que a paciente ave não permite a aproximação humana, um bípede em que ela mui sabiamente não confia nem um pouco.  Antes que eu pudesse chegar suficientemente perto já estava ela em seu gracioso vôo na direção oposta.

Ficamos, eu e a garça, naquele jogo de aproxima e se manda durante algum tempo.  O zoom do celular também não ajudava.  Até que o bicho cansou-se da brincadeira e foi aninhar-se no alto da árvore onde sabia estar a salvo daquele humano chatinho.  

No outro lado do lago encontramos um elemento tradicional dos sábados de aleluia que vem perdendo espaço no Rio de Janeiro:  um Judas.
Sempre achei uma tradição um tanto agressiva esse negócio de pegar um boneco e sair malhando e tacando fogo. Alguma coisa que deve ter sua origem nos tempos da “santa” inquisição, um dos períodos mais nefastos da história das religiões. Mas tradição é tradição e aqui vai o registro em prol da curiosidade.  Que Judas você malharia este ano?

O laguinho de Nogueira e sua “pista para caminhada” andam carecendo de uma boa repaginada.  Jardins abandonados, pessoas fazendo churrasco em local impróprio e barracas instaladas na calçada impedindo a caminhada são apenas algumas das mazelas locais.

Fotos by Cariocadorio (abril de 2011)

Um rapaz de Bebedouro no Rio de Janeiro (II)

23 de abril de 2011
Talvez os seus tumultuados primeiros meses no Rio de Janeiro (veja aqui) tenham incentivado Edgar Baroni a buscar o oposto. O certo é que, em 1939, ele transferiu-se das noitadas na Capital para a Escola da Polícia Militar do Distrito Federal. 
Baroni na Escola de Polícia Militar do Distrito Federal

Logo suas habilidades com armas e cavalos fizeram com que se destacasse. Formado com alta recomendação, Baroni ganhou o respeito e a admiração dos colegas e superiores. Não foi difícil que fosse aceita sua escolha pelo 5º Regimento de Polícia Montada do Distrito Federal. Não demorou muito foi promovido a Cabo.

Cabo Baroni e o cavalo Biguá

O simpático Cabo Edgar Baroni tinha tudo para fazer uma ótima carreira na polícia. Mas nem tudo eram flores. Suas convicções a respeito de como tratar cavalos começaram a azedar a relação com seus superiores.  Certa vez o Cabo Baroni se recusou a colocar o Biguá, sua montaria favorita, na operação de contenção de uma manifestação popular.  Aquilo maltratava muito o animal. Desceu do bicho, partiu pra cima dos manifestantes e fez o serviço na mão. 

5o Regimento de Cavalaria da PM do DF

LeCoq e o "Fluminense"

O ato teve seu lado de heroismo reconhecido.  Apesar da bem sucedida “estratégia”, o Tenente LeCoq, seu amigo e comandante daquela operação, não teve alternativa senão relatar o ocorrido aos superiores.

E lá se foi o nosso querido Cabo Baroni ver o sol nascer quadrado no xadrez do regimento.  

Aquela não foi a primeira nem a última vez. Era sempre o mesmo motivo: insubordinação quando se tratava de botar o cavalo pra trabalhar mais duro.

Aquele início de vida na Capital Federal rendeu-lhe um monte de pequenas confusões mas também a namorada que depois se tornaria sua esposa de toda a vida. O lado profissional se encontrou na área do comércio e assim, sob a rédea curta imposta pela patroa, Baroni progrediu e sustentou muito bem sua família.

Edgar Baroni viveu por muito tempo uma vida simples e feliz, fazendo as coisas sempre, ou quase sempre, do jeito que queria. Até a hora de ir embora parece que ele escolheu para que fosse do seu jeito.

(a semelhança da saga de Edgar Baroni no Rio de Janeiro com a vida real de pessoas conhecidas não é mera coincidência)

Fotos: Baroni na Escola de Polícia Militar do Distrito Federal (outubro de 1939);  Cabo Baroni e o cavalo Biguá (setembro de 1940); Pátio interno do 5o Regimento de Cavalaria da Polícia Militar do Distrito Federal (setembro de 1940);  Tenente LeCoq e cavalo “Fluminense” (setembro de 1940).  

Um rapaz de Bebedouro no Rio de Janeiro (I)

22 de abril de 2011

Uma turma de Primeira

A formatura dos bacharelandos de 1937 foi muito festejada em Bebedouro.  Logo alguns daqueles rapazes oriundos da elite da região viriam para o Rio de Janeiro a fim de continuar seus estudos. Os que eram apenas um rosto no quadro do Ginásio Municipal de Bebebedouro  se formariam médicos, advogados ou seguiriam bem sucedidas carreiras militares. 

Não foi o caso do Edgar Baroni. Ele estava no grupo que se aventurou ao Rio embora estudar não fosse o que pretendia.  Na verdade ele não sabia bem o que queria. Criado na fazenda dos pais, Baroni era exímio cavaleiro e atirador.  Com o cavalo Prata e sua fiel carabina, presente do seu avô quando fez 13 anos, era imbatível nas competições de tiro:
“Onde ponho o olho ponho a bala”, gabava-se ele com justa imodéstia.

Sujeito simpático, suas outras paixões eram o futebol e a sinuca. As pernas fortalecidas pelos exercícios físicos e as intermináveis cavalgadas no campo compensavam a pequena estatura e eram muito úteis para o centro-avante Baroni. Por outro lado a mira de atirador e o espírito boêmio ajudavam no salão de sinuca.

Foi este espírito boêmio que o desviou das salas de aula e o levou para as atrações das noites cariocas.  A habilidade com o taco ajudou-o muito em seus primeiros tempos na Capital Federal.  Foi em um salão da Lapa que Baroni aprendeu uma  lição fundamental para a sua vida.  Sim, porque ele não gostava de estudar mas aprendia muito rápido as lições da vida.

Edgar Baroni percebeu que a turma apostava muito mas jogava menos do que acreditava.  Percebeu que ali estava sua chance de ter um pouco mais de dinheiro do que os minguados caraminguás que lhe mandava o pai desde Bebedouro.
Não por coincidência, subtrair algum do novato com cara de interior seria uma tarefa simples para o malandro local, pensava o “parceiro” que Baroni conhecera naquela noite. 

Feitas as apostas, Baroni controlou o jogo sobre o adversário para que este não percebesse a disparidade de habilidade.  A noite foi seguindo neste ritmo até que o prejuízo do jogador local chegou a muitos dinheiros.

Na forma simples que sempre pontuou a sua vida, Baroni contava que foi nesta hora que o parceiro disse que ia “pedir uns pastéis” e escafedeu-se dali.  Além de não levar a grana da aposta, Baroni ainda teve que pagar as horas da mesa de sinuca.

A vida não foi fácil naquele Rio de Janeiro de 1938. O tal episódio demorou a ser digerido mas ele aprendeu a lição e nunca mais pensou em ganhar dinheiro jogando sinuca.  Por toda sua vida Edgar Baroni foi agradecido ao “parceiro”. Não sem deixar de referir-se a ele com os piores adjetivos que conhecia.

Polícia Montada do DF, 1940

Polícia Montada do DF, 1940

No próximo capítulo (veja aqui) eu conto como foi a vida do Cabo Edgar Baroni na Polícia Montada da Capital Federal.   

Foto: Bacharelandos de 1937, Ginásio Municipal de Bebedouro; Polícia Montada do Distrito Federal (setembro de 1940)
(Acervo pessoal Cariocadorio.  Não pode ser reproduzida sem autorização prévia)

Porto Maravilha, seguem as obras

18 de abril de 2011

Praça Mauá e o Palácio D.João VI

As obras do Palácio D.João VI na Praça Mauá, que começaram há cerca de um ano, seguem em ritmo acelerado .  Em breve o aristocrático prédio, que foi construído em 1916 e passou muitos anos abandonado, será transformado no MAR, Museu de Arte do Rio. Ainda não foram iniciadas as obras do prédio da rodoviária que abrigará o teleférico para o morro da Conceição e será integrado ao MAR.

Bem perto também podemos ver as obras do Museu do Amanhã e diversas obras viárias que dão a esperança de que algum dia a região poderá ser realmente conhecida como Porto Maravilha.   Resta saber se estes museus terão algum tipo de acervo permanente ou se, como tantos outros “centros culturais”, ficarão a espera de mostras temporárias que vão se rareando com o tempo.  Temo que sirvam apenas para inaugurações festivas.

Obras do Museu do Amanhã no Pier Mauá

As cores utilizadas em prédios antigos recuperados têm sido um tanto infelizes. No  Palácio Guanabara as cores claras de mais de um século foram substituidas por um ocre de gosto duvidoso por se tratar da cor original.  Deve ser esta a razão da escolha do cinza para o futuro MAR.   

Polícia Federal, da cor do MAR

Polícia Federal, da cor do MAR

O único problema desta vez é que o mesmo cinza é a cor do prédio da Polícia Federal que fica ali ao lado. 

O palacete se transformando em MAR

Fotos by Cariocadorio, março de 2011:
Praça Mauá e o Palácio D. João VI; Obras do Museu do Amanhã; Da cor da Polícia Federal; O palacete se transforma em MAR.

Palácio Guanabara, em obras

7 de abril de 2011

Palácio Guanabara em obras

O Palácio Guanabarra é reconhecido pela beleza de sua arquitetura e pela harmonia com o belo cenário em seu entorno.  

Rua Paissandu

Rua Paissandu

Outro dia chamou-me a  atenção a reforma do palácio e suas novas cores.  Achei estranho, nunca havia visto o palácio vestido de ocre.  Busquei fotos antigas e todas mostravam tonalidades de bege e branco (como se ve na foto abaixo). 

Uma reportagem da Veja afirma que o tal ocre é a cor original. Por que será que foram descobrir esta cor “original”? Não faz muito tempo pintaram de forma parecida a Igreja da Imaculada Conceição na Praia de Botafogo e a casa de saúde São José.  Será que eram originais também? 

Minha impressão é que se trata da cor da moda para os arquitetos.

O Palácio Guanabara sofreu várias reformas desde a sua construção. Há pelo menos 50 anos tem cores claras.  A cor escolhida escurece e enfeia o Palácio.  Há muito espaço para criatividade mas esta seria uma ótima oportunidade para não mexer em time que está ganhando.  

Em cores claras

Breve hitórico do Palácio Guanabara (fonte Wickpedia):
O Palácio Guanabara foi construído em meados do século XIX pelo comerciante  português José Machado Coelho para ser sua residência. Em 1865 foi reformado para ser a residência da princesa Isabel e do conde d’Eu. Em 1947, tornou-se gabinete da Prefeitura do Distrito Federal. Em 1960, transferido para o então Estado da Guanabara, passou a ser sede administrativa do Governo do Estado. Finalmente, em 1975, com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, passou a sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Fotos: Palácio GB em obras, by Cariocadorio (Março, 2011); Palácio GB e Rua Paissundu, by Peter von Fuss (circa 1940) fonte site João do Rio; Palácio Guanabara em cores claras, da Wickpedia.

Enseada de Botafogo

3 de abril de 2011

 

Barcos na Esnseada de Botafogo

No meu caminho nos anos sessenta estava a Enseada de Botafogo.  Um ótimo lugar para saber que vivemos em um dos mais belos cenários naturais da Terra.  Como tudo que é fácil, a gente tem dificuldade de dar valor.   

FFC e Palácio GB

O 583 passava em frente ao Fluminense, ao Palácio Guanabara, depois seguia pelo recém aberto corte na Farani e chegava em Botafogo.  Na ida pegávamos a Bambina e subíamos a São Clemente, dando de cara com o Corcovado e o Cristo lá em cima.  Passava-se pelo Santo Inácio e pouco depois lá estava ele, o Colégio Pedro II.

Na volta de 584 a briga era pra sentar na janela.  Tinha mais ar e, em tempos de mini-saia, sempre apareciam umas pernas no carro ao lado.  Sem essa de vidros escuros escondendo as pessoas. Quando, saindo da Voluntários, a gente chegava na Praia de Botafogo, o Rio de Janeiro nos sorria em toda a sua plenitude.  Lá estavam o Pão de Açúcar, os barquinhos no mar, as areias brancas da praia e aquele relógio digital com anúncio…do que mesmo?  Não lembro, mas era do cacete aquele relógio.

O relógio não está mais lá, tampouco a Sears, o Anglo Americano e o colégio Andrews.  Mas seguem os barquinhos e o eterno Pão de Açúcar.  Tem coisas que nem os prefeitos conseguem destruir.

Esqueçamos os problemas e deixemos o 584 seguir seu caminho até o Cosme Velho.  Vamos ficar um pouco só com este Rio de Janeiro formidável, até mesmo no simples caminho da escola.

Fotos by Cariocadorio: Barcos na Enseada de Botafogo (Abril, 2011); Estádio do Fluminense e Palácio Guanabara (1969); Enseada de Botafogo (Abril, 2011)